Desde sexta-feira (12) à tarde, representantes do setor têm se reunido com o Executivo sugerindo que o governo encontre outras alternativas de contenção do fluxo e aglomeração de pessoas nas ruas de Porto Alegre. “Sugerimos fechar o comércio aos domingos e reduzir os horários de funcionamento, em vez de fechar totalmente as portas”, destaca o presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse.
“Também seria interessante ser colocado mais ônibus à disposição da população, tendo em vista que o horário reduzido do transporte público tem resultado em um maior número de pessoas em pé em veículos lotados”, completa Kruse.
De acordo com o presidente do Sindilojas, uma nova reunião online está agendada para ocorrer neste domingo. A ideia é pleitear a manutenção do comércio, em vista de que o prefeito de Porto Alegre comunicou na tarde de sexta-feira que voltará a restringir algumas atividades após o aumento de pacientes internados por coronavírus em UTIs da Capital.
Os decretos, que estão previstos para serem publicados neste domingo (14),
trarão detalhes sobre os setores atingidos. Marchezan havia adiantado que shopping centers terão de fechar a partir de segunda-feira (15) e reduzir horário de funcionamento de restaurantes para no máximo até às 23h. Também o comércio de rua ficará restrito a estabelecimentos de micro empreendedores ou com faturamento de até R$ 360 mil ao ano. Shoppings e lojas de empresas de pequeno, médio e grande porte voltaram a funcionar em 20 de maio.
“Estamos decepcionados com a falta de crescimento da capacidade hospitalar em Porto Alegre”, critica o presidente da Associação Gaúcha de Varejo (AGV), Sergio Galbinski. “Em Santa Cruz do Sul, em março já tinha um hospital de campanha”, compara. O dirigente opina que – além de aumentar o número de leitos de atendimento da Saúde no Município – nos últimos 60 dias a Prefeitura deveria ter feito campanha de educação de hábitos de higiene junto à população. “As pessoas estão se agrupando, fazendo festas e rodas de chimarrão e quem paga é o comércio”, dispara.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Irio Piva, afirma compactuar do mesmo sentimento de decepção. “É preocupante este anúncio do prefeito Marchezan – fomos pegos de surpresa.”
Piva destaca que os shoppings-centers da Capital estão trabalhando com metade da capacidade normal, e cumprindo todos os protocolos (uso de máscaras e álcool-gel, controle de fluxo e distanciamento de pessoas, distanciamento entre mesas nas áreas de alimentação, entre outros). O dirigente afirma que a Prefeitura “tem que fiscalizar parques e praças onde de fato há aglomeração de pessoas” e defende que a Município deveria disponibilizar um número de ônibus suficientes para atender a população.
“Também estamos percebendo que tem pessoas que estão vindo de fora de Porto Alegre para serem atendidas nas UTIs da Capital”, ressalta Piva – ao defender que fechar o comércio “não é justo” com os empresários que precisaram investir “seus últimos recursos” para garantir estoques para o inverno. “Sequer trabalhamos um mês e agora os lojistas ficarão com as mercadorias paradas, sem poder vender; mas sendo obrigados a pagarem fornecedores, alugueis, e os funcionários que saíram da suspensão de contrato.”
Paulo Kruse faz coro ao pensamento de Piva e observa que desde 20 de maio a retomada do varejo foi lenta, com negócios faturando menos do que a metade em relação ao mesmo período do ano anterior. “É constrangedor para nós ver o que está ocorrendo. Muitos lojistas (entre 7% a 8%) já não conseguiram retomar as atividades no final do mês passado. Caso o decreto suspenda o funcionamento do comércio, o número de empresas que irão fechar de vez pode dobrar.”
Na tarde deste sábado (13/06), a Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA) enviou nota à imprensa repudiando o anúncio da Prefeitura, sublinhando que a “decisão agravará ainda mais a situação do comércio, que tenta, com muita dificuldade, atenuar os prejuízos da primeira fase de restrição.”
Além da deliberação para o fechamento do comércio, que desencadeará o fim de diversos estabelecimentos, a prefeitura não faz o menor esforço para minimizar as dificuldades enfrentadas pelos empresários, como, por exemplo, a mitigação de tributos”, diz a nota. “Entendemos que é fundamental o cumprimento das regras de controle sanitário e a preservação da vida, mas lamentamos profundamente a tomada de decisão sem a apresentação de alternativas para que a cadeia produtiva tenha oportunidade de continuar.”
Ao apontar que “lamenta ainda pelas empresas que já fecharam definitivamente suas portas, pelas perdas econômicas que tiveram estes empresários e pelas centenas de empregos perdidos”, a nota da ACPA afirma que “o governo municipal não deixa outra alternativa para as empresas a não ser amargarem prejuízos e ficarem sem condições de pagar salários.”
Em carta aberta enviada ao prefeito, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) ressalta que o setor é "responsável por quase 2,7% do PIB e mais de 3 milhões de empregos diretos e indiretos", além de funcionar como vetor de desenvolvimento para os municípios onde os shoppings estão presentes. A Abrasce afirma que "diversos países pelo mundo têm adotado, de maneira responsável, planos de reabertura", e defende uma transição gradual que conjugue "proteção à saúde e a retomada das atividades cotidianas, mantendo, assim, o equilíbrio da pandemia e economia". A entidade ainda destaca o Protocolo de Operação para a reabertura dos shopping centers, documento que conta com mais de 20 recomendações práticas para um funcionamento seguro dos estabelecimentos.