O cultivo de citros no Rio Grande do Sul não passou imune à estiagem e já afeta uma fruta típica do inverno. A bergamota montenegrina, cultivada em diferentes cidades do Estado, pode ter uma safra reduzida. Isso porque em propriedades como a de César Schu, em São José do Sul, no Vale do Caí, os danos já ocorreram.
Com o calor e a falta de chuva, conta o produtor, boa parte da bergamota montenegrina semeada em cinco hectares caiu do pé antes de se formar. A produção normal obtida de Schu, de 2,5 mil caixas da fruta (com 25 quilos cada) terá um baque.
“Eu calculo uma perda de 25%. Meu cunhado diz que será maior, de até 50%. Só vamos ter certeza lá na metade do ano, quando colocar essa colheita no mercado”, diz o produtor.
Derli Bonine, assistente técnico da Emater de Lajeado, trabalha diretamente com a citricultura no Estado e afirma que, como consequência de déficit hídrico severo recente, as folhas das laranjeiras, bergamoteiras e limoeiros se curvam, reduzindo a área de transpiração. E dependendo da intensidade da seca, as folhas e frutos jovens caem.
Com isso, diz Bonine, os frutos maduros, ou próximos da maturação, desidratam, estabelecendo fluxo inverso de água. Assim, a água migra dos frutos para as folhas, gerando alteração sensível na qualidade. Na sequência da falta de chuva, folhas e os frutos podem cair e a planta como um todo corre o risco de secar.
No município de Bom Princípio, um dos principais produtores da lima ácida Tahiti, o conhecido limãozinho verde, toda a área de citricultura está sendo atingida pela estiagem que se estabeleceu desde dezembro, diz Bonine.
“Vários produtores procuraram a Emater para relatar a morte de plantas no pomar, plantas jovens e de plantas com mais de 10 anos. Além da mortalidade causada pela estiagem, os frutos estão secos e sem suco. Tem produtor levando água com o trator até o pomar para evitar mais perdas”, conta o assistente técnico da Emater.
Outro impacto com o baixo desenvolvimento das frutas em parte das propriedades é que poucos agricultores iniciaram o raleio das bergamoteiras. O raleio é a retirada de parte das frutas pequenas, para que as frutas remanescentes fiquem mais graúdas.
“Os citricultores que estão fazendo o raleio estão colocando a fruta no chão e não tem calibre nem para a venda à indústria que fabrica o óleo essencial da bergamotinha verde (usado pela indústria de cosméticos e perfumes)”, diz Bonine.