Um dos mais típicos produtos de verão, o milho verde, não passou incólume pela estiagem que danificou lavouras Estado a fora. Com a quebra na safra, o preço do produto que está chegando ao consumidor subiu consideravelmente neste início de ano. Isso quando chega, porque em alguns pontos de venda está até em falta.
Na Ceasa, em Porto Alegre, por exemplo, o quilo do milho verde subiu 108%, de uma média de R$ 1,20 o quilo (bandeja com três espigas) em janeiro de 2019 para os R$ 2,50 na maior parte dos negócios entre produtores e atacadistas no dia 14 de janeiro, por exemplo. O item teve a maior alta nos valores nos últimos dias, juntamente com o repolho verde e o chuchu, diz gerente técnico da Ceasa, Claiton Colvelo.
“Há danos em muitos hortigranjeiros relacionados à estiagem. Além da escassez de alguns, o que eleva o preço, como em uma Bolsa de Valores”, explica Colvelo.
Em folhosas como alface, uma hortaliça já tradicionalmente irrigada e produzida em estufas, o consumidor não deve sentir grandes variações de preços, avalia o representante da Ceasa. Mas o presidente da Associação dos Produtores da Ceasa, Evandro Finkler, alerta que, a continuidade das temperaturas muito elevadas pode afetar a produção nos próximos dias. Isso porque, com a baixa nos poços artesianos de muitos agricultores, o fornecimento de água para as plantas está em risco.
“Além disso, uma sequência de dias de muito calor, como ocorreu entre o Natal e o Ano Novo, por exemplo, facilita o aparecimento de doenças em folhosas, reduzindo a produção e a qualidade”, explica Finkler.
Já em casos como do repolho verde, o preço do quilo praticamente dobrou desde o início do ano, de R$ 1 no final de dezembro para até R$ 2 nesta semana. Com o clima tórrido, muitas plantações murcharam e secaram, diz o gerente da Ceasa. No caso do repolho, diz o presidente da associação dos produtores, primeiro houve perdas com o excesso de chuva perto da colheita, no final do ano passado, com apodrecimento do produto no solo. Feito o replantio, lamenta Finkler, veio a falta de água para alimentar a nova lavoura, infligindo novos prejuízos aos agricultores.
Também ficou mais caro o quilo do chuchu, duramente afetado em suas parreiras. Do fim de 2019 para cá, já houve uma alta de quase 70% no chuchu, que passou, no atacado, de R$ 1,50 no dia 30 de dezembro para cerca de R$ 2,50 nesta semana, detalha Colvelo.
O excesso de calor e falta de umidade afetou não apenas preços, mas o desenvolvimento das frutas também. Os danos são variados. Típica dessa época, a ameixa regista alta que pode alcançar próximo de 100%, passando de uma média de R$ 3,68 neste mesmo período do ano, em 2019, para os atuais R$ 7.
Em itens como uva, cujas perdas nos parreirais da serra gaúcha são estimadas em cerca de 30% até o momento, a cotação média do quilo era de R$ 3,89 em janeiro de 2019 e passou para R$ 5 no último dia 14 - ou seja, 28% a mais. Em frutas como a melancia, há perda de tamanho e de qualidade.
“As melancias desta safra perderam qualidade em muitas lavouras, como em Encruzilhada do Sul, grande produtora aqui do Estado, com registro de frutas mais amareladas, por exemplo”, relata o gerente da Ceasa.
O impacto na produção, em rentabilidade e produtividade, também afeta o cultivo de abacaxis em Terra de Areia, cita Finkler. Na região, mesmo onde não há perdas, a colheita está sendo marcado por frutas de menor porte.
Produtor tem prejuízo de cerca de R$ 400 mil nas lavouras soja e milho verde
Thomas colheu apenas a metade do plantio de milho neste ano
ALEXANDRO AULER/JC
Único produtor ofertando milho verde na Ceasa nesta quarta-feira (15), Marco Antônio Thomas calcula uma perda total de cerca de R$ 400 mil entre o cereal e os danos da lavoura de soja. No milho verde, a quebra significou pelo menos R$ 100 mil de prejuízo, com danos em 50% da lavoura, em Lajeado. Normalmente, diz Thomas, colheria entre 1 milhão e 1,1 milhão de espigas em 32 hectares. Neste ano, conseguiu apenas a metade disso.
“Não faço financiamento, é recurso próprio. E sem seguro, o que perdi até agora é prejuízo mesmo. Na soja, foi ainda pior. Plantei no cedo (soja precoce), em 65 hectares, com perda de 100% do que foi semeado, porque o calor pegou parte crítica da lavoura", conta o produtor.
Abastecimento para irrigação de alfaces preocupa agricultor
Dullius teve perdas de 30% na produção de repolho e moranga e teme pela plantação de alface
ALEXANDRO AULER/JC
Produtor de São Sebastião do Caí, Volmir Dullius teve perdas de cerca de 30% na produção de repolho e moranga, semeados em dois hectares, que estão menores nesta safra. Agora, ele teme pelo futuro do plantio de alface. Apesar de a produção de folhosas ter escapado de perdas graças ao plantio irrigado, Dullius afirma que mais duas semanas com pouca chuva colocará em risco a colheita de alface.
“Ainda tenho água na propriedade, mas se a situação não mudar, vou ter problemas”, preocupa-se o agricultor, que comercializa cerca de 300 caixas de alface, de um dúzia cada, por semana.