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RS dependerá do Brasil para crescer em 2020
Agronegócio foi o segmento que deu 'gordura' às finanças do Estado
O desempenho da economia brasileira e a demanda do mercado interno serão cruciais para o crescimento das vendas no Rio Grande do Sul em 2020. Segundo Boletim de Conjuntura divulgado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag), a desaceleração econômica em outros países deve continuar afetando a demanda das exportações no Estado no decorrer do ano que vem. O levantamento avaliou o desempenho da economia gaúcha no terceiro trimestre do ano, quando ocorreu o fim do ciclo de vendas de veículos, máquinas e equipamentos ligados à distribuição da safra agrícola. Segundo o estudo, não ocorreu crescimento do PIB gaúcho em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
Os serviços foram o único setor com resultado positivo (1,4%) e superior ao nacional (1%), enquanto o desempenho do comércio sofreu queda de -0,8%. Ainda assim, o Estado superou o desempenho do País (que registrou alta de 1%) no acumulado do ano, inflando em 2,7%. "Isso ocorreu devido às boas taxas de crescimento da economia gaúcha no início do ano", explica a chefe da Divisão de Indicadores Estruturais do DEE, Vanessa Sulzbach. Ela afirma que, devido aos resultados do agronegócio, o Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho "acumulou gordura" no primeiro semestre, o que viabilizou este resultado.
"Como no quarto trimestre não poderemos contar novamente com a safra anual de grãos, a expectativa é que a expansão ocorra a partir do consumo no comércio e serviços, impulsionado pelas medidas do governo de liberação do FGTS aos trabalhadores", comenta Vanessa. "Apesar deste viés positivo, o cenário de aumento do desemprego indica a cautela dos consumidores em comprometer em demasia o orçamento familiar", pondera. A especialista ainda destaca uma melhora na indústria, com a retomada da construção civil depois de 21 trimestres de queda.
"No exterior continuaram as incertezas geopolíticas, e as projeções de crescimento (3%) são menores que em 2018, quando o índice foi de 3,5%", observa Vanessa. Ela destaca que as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, e a crise na Argentina influenciaram negativamente a economia gaúcha, com queda das exportações - especialmente soja, máquinas agrícolas, equipamentos e veículos de passageiros. Estes fatores influenciaram ainda no mercado de trabalho, que no acumulado em 12 meses até outubro, aponta a criação de 14.312 vagas formais, número inferior ao registrado no mesmo período do ano anterior (16.847) e levaram a uma alta da taxa de desocupação, que passou 8,2% para 8,8% no período. Vanessa ressalta que o ano "caminha para encerrar com o pior desempenho do comércio mundial desde a crise financeira de 2009" e a perspectiva é de que este cenário permaneça no primeiro semestre do próximo ano.
"Como no médio prazo a tendência não é de mudanças, os nossos olhos estarão muito voltados para o mercado interno e por isso a recuperação da economia brasileira, ainda que seja lenta, será muito importante para o Rio Grande do Sul", avalia Vanessa. Juros baixos, inflação sob controle e aumento do crédito devem colaborar com a indústria gaúcha, "bem estruturada na fabricação de bens de capital", comenta a economista. Entre as perspectivas positivas, o documento elaborado pelo DEE não descarta a possibilidade de novos recordes na safra de grãos, visto a previsão de condições climáticas favoráveis.
Apesar da Selic baixa, juros se mantêm altos para clientes
A despeito do baixo patamar da taxa básica de juros ao longo de 2018 e primeiro semestre de 2019, as taxas de juros ao tomador final permaneceram elevadas no Brasil, com alta no acumulado dos primeiros sete meses de 2019. A análise foi publicada pelo Núcleo de Análise de Política Econômica (Nape) da Ufrgs, em sua Carta de Conjuntura do 4º trimestre de 2019. Segundo o documento, apenas após os últimos cortes na taxa básica de juros, é que os juros do sistema financeiro retomaram a trajetória de queda de forma mais consistente. No entanto, a medida teria ocorrido de "forma atrasada", uma vez que o País atravessa um longo período de baixo crescimento e de altas taxas de desemprego.
De acordo com a análise, as baixas taxas de juros nas principais economias mundiais, inclusive negativas em certos países, deram o espaço necessário para que os cortes nas taxas básicas de juros no Brasil tenham ocorrido. No entanto, o volume de crédito ao longo de 2018 e até outubro de 2019 não acompanhou o mesmo ritmo do afrouxamento dos juros, embora tenha havido uma certa recuperação a partir do segundo semestre. O documento analisa o mês de outubro, quando houve uma alta do volume de crédito em relação ao mês anterior de 0,5 pontos percentuais (p.p). Em comparação com outubro de 2018, houve uma elevação de 13,4 p.p., e, no trimestre, a elevação chega a 2,2 p.p. e no ano está com crescimento acumulado de 12,9%, aponta o levantamento.
Ainda conforme a Carta de Conjuntura do 4º trimestre de 2019, o crédito direcionado fechou julho de 2019 com a taxa média de 8%, o que representa uma queda de 0,4 p.p. ao ser comparado com julho de 2018 - e o crédito no conceito de recursos livres ficou em 38%, redução de apenas 0,1 p.p. na mesma comparação. "Isso significa que apesar da queda acentuada da Selic, as diferenças nas taxas de juros para os tomadores finais de recursos direcionados e livres se mantiveram altas", aponta o relatório.