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Fortalecimento do Brics passa por mais intercâmbios culturais
Fórum mostra as artes, ações pessoais, turismo, esporte e até mesmo a gestão do patrimônio histórico podem ajudar a aumentar a integração e as economias do bloco econômico
De Brasília
Um documentário apresentado pela primeira vez nesta quarta-feira (13), em Brasília, sintetiza como as pessoas e a cultura, em suas diferentes formas, podem aproximar países e ajudar no desenvolvimento e na integração dos cinco países que compõem o bloco econômico denominado Brics.
Reunindo as histórias de cinco meninos e meninas do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul, o documentário Crianças e Glória abriu o Fórum Sobre Intercâmbios Culturais e Pessoais do Brics e foi inspiração para diferentes debates ao longo de todo o dia.
Representando o Brasil na produção audiovisual, Tiago Arakilian retratou a trajetória de Iago Nogueira na busca por ser tornar jogador profissional de futebol. O esporte, uma das ferramentas da chamada diplomacia People-to-People e que independe de governos, foi a linha condutora de todas as narrativas do documentário. E, no processo de integração dos trabalhos dos cinco diretores da produção, Arakilian visitou a China e retrata com sua experiência a distância de visões que ainda separam bloco econômico. Talvez até mais do que as distâncias geográficas, afirma o diretor.
“Minha maior surpresa ao chegar lá foi com a modernidade da China. Apesar de toda a tecnologia que os chineses produzem, nossa visão sobre o país ainda remete a uma nação bastante agrícola e não tão prospera como ela realmente é”, avalia o cineasta, que defendeu no fórum a necessidade de continuidade de produções culturais e comerciais entre os cineastas do bloco.
A imagem distorcida não ocorre apenas quando se fala do gigante asiático, ressalta Arakilian. A imagem distorcida ou antiquada se repete na visão que a maioria das pessoas de cada um dos países do bloco têm dos outros integrantes. Acelerar o processo de integração cultural do Brics para romper essas barreiras foi o que permeou o fórum e as muitas propostas de trabalho cultural que podem ser desenvolvidas conjuntamente. Isso tudo sem esquecer do foco econômico, colaborativa e até mesmo tecnológico.
Ao mostrar como a diplomacia também é uma ação individual e não-governamental, a proposta do fórum é mostrar como as relações entre seres humanos e a aproximação cultural pode promover o desenvolvimento do bloco. As propostas apresentadas incluíram desde a intensificação turística entre os cinco países, o aumento de intercâmbio entre pesquisadores e cientistas e até a expansão das trocas literárias, entre outras.
Uma tragédia cultural brasileira vivida recentemente foi citada como exemplo de integração possível para prevenir danos ao patrimônio histórico. Vice-diretor de Administração Nacional do Patrimônio Cultural da China, Hu Bing, afirmou que a troca de experiências na gestão de museus poderia ter ajudado a evitar incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018.
“A China tem grandes tecnologias de prevenção de incêndios e de cuidado com um imenso patrimônio histórico, reconhecido pela Unesco. Podemos nos aproximar na gestão do patrimônio cultural para evitar mais tragédias culturais como esta”, exemplificou Hu.
O representante chinês também destacou o turismo como uma ferramenta de aproximação e integração do bloco. Citou as viagens feitas mundialmente por 170 milhões de chineses todos os anos, gerando emprego e renda, em um negócio que depende fundamentalmente da boa imagem que as pessoas fazem de outras nações.
Para o presidente do Centro de Estudos do Leste Asiático da Universidade de Jawaharlal Nehru, da Índia, Srikanth Kondapalli, feiras de livros também podem ser bons canais para maior integração do bloco. A tradução de mais obras e escritores para os diferentes idiomas do bloco é tanto fator de aproximação cultural e pessoal quanto um negócio a ser explorado.
“Assim como a literatura, a temos que nos aproximar por meio da indústria audiovisual, como estamos fazendo com o documentário aqui lançado hoje”, defendeu o pesquisador indiano.
Pesquisadora do Centro de Estudos da em Ciências Humanas da África do Sul, Thandeka Dabata exemplificou como o intercâmbio agrícola, com foco em pequenos produtores rurais, também é um bom exemplo de como a integração e um canalizador de crescimento econômico. Em sua fala, destacou que após diferentes intercâmbios e vivências na China, agricultores da África do Sul passaram a adotar mais o modelo cooperativista, ampliando seus ganhos.
“Fizemos uma troca agrícola, mas sob uma perspectiva cultural. Temos 2 milhões de pequenos agricultores que hoje, com mais foco em cooperativas de trabalho, estão ajudando no desenvolvimento de suas regiões e, portanto, a economia nacional”, afirmou Thandeka.
A diversidade cultural dos cinco países que formam o Brics, que inicialmente poderia ser visto com um fator limitante, é na verdade uma das grandes riquezas do bloco, sintetizou Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getulio Vargas (FGV).
“O repertório cultural extraordinário do Brics precisa ser melhor explorado, e talvez nos aponte soluções para diferentes problemas atuais que o mundo enfrenta”, resumiu Carvalho.