No embalo da recuperação do varejo brasileiro, que em setembro registrou o melhor mês em dez anos, o setor calçadista espera com otimismo, mesmo que de maneira ainda tímida, uma melhora nos negócios. A recuperação do setor, aguardada com mais força para 2020, tem reflexo sensível no Rio Grande do Sul. O Estado concentra duas mil empresas dentre toda a cadeia nacional calçadista, que soma seis mil ao todo, e responde por um terço do total de empregos no setor.
A expectativa positiva pode ser sentida entre os corredores e estandes da Zero Grau, feira de calçados e acessórios que ocorre em Gramado, na serra gaúcha, desta segunda-feira (18) até quarta (20). De carona no turismo de negócios propiciado pela região, a Zero Grau faz frente como uma das maiores feiras de calçados do País. A edição deste ano reúne 320 expositores e 1,5 mil marcas nacionais, além de um grupo de 200 importadores.
Apesar de já mirar 2020, com o lançamento de linhas de outono-inverno, a exposição também contempla itens do chamado alto-verão, ofertando aos lojistas, praticamente, duas feiras em uma só. Para Frederico Pletch, diretor da Merkator, empresa que organiza a Zero Grau, o crescimento de 6% da mostra em espaço ocupado demonstra a aposta para que compradores do País todo saiam de Gramado com bons negócios fechados.
Para Frederico Pletch (ao centro, de branco), crescimento da mostra demonstra a aposta em bons negócios. Foto Dinarci Borges/Divulgação/JC
"O foco é procurar por ofertas e pronta-entrega com desconto", comenta Giovana Fontes, gerente de produto da Pernambucanas e que veio de São Paulo para a feira. Aressa Fontes, gerente de estilo da mesma rede, acredita que as expectativas para 2020 ainda pedem cautela, por conta de 2019 não ter deslanchado como o esperado.
Embora faltando menos de 50 dias para o fim do ano, o comércio ainda conta com duas datas quentes pela frente, a Black Friday e o Natal. A Associação Brasileiras de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac) projeta incremento de 5% nas vendas até o fim de 2019, recuperando as perdas das vendas de calçados no País até setembro, que caíram 0,3% ante o mesmo período de 2018.
Grande parte das marcas já passou a régua nos negócios para 2019. Algumas, porém, ainda fazem ações que possam suprir as necessidades dos lojistas no curto prazo, como é o caso do Grupo Ramarim. Davi Hergemoller, coordenador de produto da fabricante com sede em Nova Hartz, no Rio Grande do Sul, pontua que a marca teve incremento de vendas expressivo no Sudeste brasileiro. "É um sinalizador muito importante, por ser um mercado de grande peso no âmbito nacional", afirmou Hergemoller. O crescimento passou dos dois dígitos naquela região.
Davi Hergemoller, coordenador da Ramarim, aponta que marca teve incremento expressivo no Sudeste. Foto: Bruna Oliveira/Especial/JC
Em termos de produção, a estimativa também é positiva, ainda que menor. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) espera crescimento de 3% na fabricação de calçados no fechamento de 2019. De acordo com a entidade, a produção nacional até setembro saltou 2,4% na comparação com o mesmo período de 2018.
O grande problema enfrentado pelo setor em 2019, no entanto, ficou por conta do mercado externo, reflexo direto da crise financeira argentina, explica o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira. O país vizinho, que é o segundo maior mercado do produto brasileiro, reduziu significativamente o volume importado. As vendas ao exterior amarguram crescimento de apenas 0,6% em receita no acumulado até outubro. "Se tivéssemos mantido o mesmo patamar de crescimento do ano passado, nosso crescimento de exportação estaria em mais de 5,5%", diz Ferreira.