Após anúncio do
cancelamento da venda de ações ordinárias do Banrisul, o governador Eduardo Leite convocou uma coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (19), no Palácio Piratini, para esclarecer o recuo na operação. A desistência havia sido comunicada mais cedo, em fato relevante na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Leite afirmou que o preço por ação não atingiu o valor esperado - sem revelar qual a cifra pretendida, e que "o Estado não vende seu patrimônio a qualquer preço".
Ao lado do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, do secretário da Fazenda, Marco Aurélio Cardoso, e do chefe da casa Civil, Otomar Vivian, o governador enfatizou que a oferta das ações se tratava de uma "operação consistente", tendo grandes bancos como estruturadores, e que, por isso, a decisão de cancelar o negócio não se trata de uma perda. "Foi uma decisão em defesa do interesse do Estado, mas era uma oportunidade que deixou de ser possível", afirmou Leite.
O secretário da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, afirmou que a operação foi coordenada por um "primeiríssimo time do mercado" e que, "de modo algum, (a venda) estava fora de ambiente favorável", salientando que a bolsa brasileira vive sua máxima histórica.
Para o governador, "movimentos especulativos" e reportagens veiculadas na imprensa a respeito da operação prejudicaram o negócio. "O debate público contaminou o ambiente e afetou o preço das ações", disse, citando também mobilizações encabeçadas por partidos políticos e sindicatos esta semana. Deputados da oposição, independentes e da base, como Novo, MDB e PT, pretendiam lançar na manhã de hoje um manifesto contra a venda.
O anúncio sobre uma nova venda de lote de ações do banco, lançado no dia 10 de setembro, já indicava a possibilidade de o governo desistir do negócio, caso o valor de venda ficasse abaixo do esperado. O governo gaúcho contava com a negociação para resolver o problema de caixa e, sobretudo, colocar em dia o salário dos servidores estaduais, que recebem os vencimentos parcelados há 45 meses.
Sobre uma oferta futura de um novo lote de ações, ou de outras medidas envolvendo o Banrisul, Leite afirmou que nenhuma ação está descartada, mas garantiu que "não vê espaço" para a privatização do banco gaúcho.
As negociações envolvendo o banco fazem parte do projeto de Recuperação Fiscal do Estado (RRF) e são ponto de maior divergência entre o Estado e a União. Diante do recuo na negociação dos papéis, Leite afirmou que outras medidas a curto prazo estão no radar para adesão ao Regime, como negociação com outros poderes e ações judiciais para antecipação de recursos, sem detalhar cada medida.
O governador mostrou surpresa com a notícia, já que a negociação é com a STN e não com Casa Civil. "Nunca nos foi repassado sobre esta posição. Estamos em conversa com a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e não envolve a Casa Civil. Vamos trabalhar para assinar este ano. Se não ocorrer, não vai nos impor obstáculos para que continuemos tentando", afirmou Leite.