O Canadá quer imigrantes. De acordo com o Relatório Anual do Parlamento Canadense sobre Imigração de 2018, o país pretende conceder 341 mil vistos de residência permanentes em 2020, e 350 mil em 2021. O interesse por trás disso, de acordo com Ed Santos, consultor de imigração e sócio e cofundador da Canadá Intercâmbio, é de garantir a competitividade em um mundo globalizado.
"É uma estratégia de crescimento do país, e não é direcionada ao Brasil", explica. "O que o Canadá faz é uma campanha forte para atrair mão de obra qualificada dentro dos padrões que ele decidiu soberanamente, e é uma oportunidade que existe para os brasileiros".
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De acordo com dados do censo de 2016, dos quase 35 milhões de habitantes, 7,6 milhões nasceram fora do Canadá, representando um total de 22,3%. O problema, afirma Santos, é que nós não sabemos aproveitar isso. Em 2018, 89.800 convites de imigração foram expedidos através do Express Entry, sistema de imigração que utiliza critério de pontuação, e o Brasil ficou em sexto lugar com apenas 1.840 vistos emitidos.
De acordo com Santos, o governo canadense analisa seis critérios para conceder o visto: idade, formação acadêmica, experiência profissional, proficiência idiomática, possível oferta de emprego e, conforme o caso, uma vivência prévia no país. A partir disso, são analisados diferenciais dentro desses critérios.
No caso da idade, por exemplo, o ideal é até 29 anos. Já na formação acadêmica, pessoas com dois diplomas de Ensino Superior têm preferência. "O Canadá quer gente qualificada para poder competir num mundo globalizado", explica Santos. "Ele precisa de gente que tenha formação adequada para fazer isso bem".
De acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta), 23% dos estudantes intercambistas brasileiros foram para o Canadá em 2018, sendo o país que mais recebeu nossos estudantes. Por isso, há uma demanda na área para esclarecer dúvidas sobre o processo.
No mês de setembro, Porto Alegre é palco de dois eventos específicos para quem tem interesse em começar uma vida nova no Canadá. No dia 29, ocorre no BarraShoppingSul a feira de intercâmbio EduCanadá, que apresenta o sistema educacional do país para quem busca intercâmbio. Na semana passada, dia 11, ocorreu a ExpoCanada, com ciclo de palestras e consultoria sobre o processo de imigração para o país.
A empresária Ana Laura Mesquita foi morar no Canadá em 2011, após se formar em hotelaria, para buscar dominar a língua inglesa, obrigatória para quem quer exercer a profissão. Após seis anos no país, ela retornou e abriu uma empresa para ajudar outras pessoas a chegarem ao Canadá.
Na busca por mão de obra, o país procura principalmente profissionais de Tecnologia da Informação (TI), automação e outras atividades das áreas de exatas. "Se você tem o visto de trabalho, você não fica sem emprego. Só não trabalha quem não quer, porque tem muita oferta e falta de mão de obra", afirma Ana Laura.
Essa é a percepção de Valéria Kayser, brasileira que tem família morando em Toronto, maior cidade canadense, na qual 51% dos moradores são de algum grupo não-branco minoritário. Atualmente no Canadá visitando sua filha e genro, Valéria se diz orgulhosa de ver o que eles alcançaram no país e acredita que eles fizeram uma escolha certa. "Aqui se valoriza o social, se oferece oportunidades de empregos para todos", diz.
Com o desejo de estudar no exterior, a paulista Helena Osiro se mudou para o Canadá em 2017 para cursar Marketing em uma universidade na província de Ontario, a que mais recebe imigrantes no país. Ela nota que há mesmo bastante ofertas de emprego, mas isso não significa que é fácil consegui-las.
"Eu tenho a impressão que qualificação brasileira não te coloca na frente e você tem que ralar muito para chegar", diz. Helena concorda que há bastante oferta, mas que isso não significa que há uma garantia de boa qualidade de vida.
"O mercado está aquecido, mas é difícil para todo mundo, especialmente porque muito emprego não equipara custo de vida", afirma Helena, que também reside em Toronto. Segundo ela, Toronto é uma cidade com o custo de vida muito caro, e muitos dos empregos disponíveis não pagam o necessário para sobreviver. "Sair de São Paulo para vir para cá é trocar seis por meia dúzia financeiramente, mas é bem mais seguro aqui", afirma.
Além da oferta constante de trabalho, o Canadá vai contra a tendência do vizinho de baixo, os Estados Unidos, de ter uma política menos aberta à imigração. Segundo Ana Laura, o canadense é muito interessado em conhecer a cultura brasileira.
"Somos muito bem recebidos lá", diz. É a mesma visão de Santos, que diz que o Canadá é um país muito novo e feito por imigrantes. "Eles não têm a lógica de 'eu sou melhor do que você porque estou aqui antes'", diz Santos. "Lá costumam dizer 'um canadense é um canadense é um canadense'", completa.
Entretanto, Helena aponta que há bastante xenofobia e racismo, especialmente nas cidades pequenas. "O Canadá é um país que faz muita propaganda sobre receptividade com imigrante", diz. "É provavelmente uma opinião impopular, mas eu não acho o país tão bem estruturado para lidar com a quantidade de gente chegando".
Feira Internacional EduCanadá
- Local: BarraShoppingSul (avenida Diário de Notícias, 300 - Cristal, Porto Alegre)
- Data: 29 de setembro (domingo)
- Horário: 14h às 19h
- Ingresso: Entrada Franca
- Inscrições: http://www.eduexpos.com/feirabrasil