Um manifesto contra a implementação dos projetos de mineração no Rio Grande do Sul foi lançado nesta terça-feira (11) durante a Assembleia Popular da Mineração, em Eldorado do Sul. Reunindo cerca de 250 pessoas entre assentados da reforma agrária, pescadores, agricultores, estudantes e ambientalistas, o encontro promovido pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deu origem à reivindicação, que aponta possíveis efeitos negativos, tanto sociais quanto ambientais, nos locais que receberão os projetos.
Em levantamento realizado pelo MAM foram mapeados 166 projetos de mineração no Estado. Entre os considerados os mais avançados estão a Mina Guaíba, entre Charqueadas e Eldorado do Sul, para exploração de carvão; Três Estradas em Lavras do Sul, para exploração de fosfato; Retiro em São José do Norte, para extração de titânio; e Caçapava do Sul, para mineração de cobre, zinco e outro minerais, que são os principais alvos de objeção do grupo.
"Exigimos que audiências públicas sejam realizadas em Porto Alegre e cidades impactadas pela mineração com a população que desconhece os projetos das mineradoras e seus impactos desastrosos, e que o governador Eduardo Leite e a Fepam rejeitem as instalações das minas em nosso Estado", reivindica o movimento por meio do manifesto.
O texto marca o início da articulação dos movimentos sociais contra os projetos, que deve amplificar o debate sobre os problemas decorrentes da mineração, segundo o coordenador nacional do MAM, Márcio Zonta. Ele sustenta que a extração de carvão na região de Eldorado do Sul, próximo ao Delta do Jacuí, poderia contaminar a água utilizada por cerca de 4 milhões de pessoas, considerando Porto Alegre e a Grande Porto Alegre. O ativista também avalia que a produção rural poderia ser prejudicada pela intoxicação do solo.
"A região de Eldorado do Sul abastece 43 feiras da Região Metropolitana de Porto Alegre e é responsável pela maior produção de arroz orgânico da América Latina, que produziu 16 mil toneladas na última safra. Essa agricultura orgânica, campeira e familiar é incompatível com um projeto com esse nível intoxicação do solo e da água como um projeto de carvão", afirma o coordenador do MAM.
O movimento também não acredita que a implantação dos polos mineradores refletirá de forma positiva na economia do Estado, considerando outras regiões brasileiras que receberam projetos de mineração. "Podemos pegar o exemplo Minas Gerais, onde municípios não são necessariamente ricos, tampouco o Estado. Eles ainda possuem grandes dívidas e graves problemas ambientais", analisa o pesquisador do Observatório dos Conflitos do Extremo Sul do Brasil da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Caio dos Santos, que participou da mesa de debate durante a Assembleia.