O Rio Grande do Sul, que sempre teve tradição e destaque quanto à participação em leilões de energia do governo federal, perdeu "fôlego" no mais recente cadastramento feito para a disputa do próximo certame. No processo de ingresso no leilão A-4 (quatro anos para a entrega da energia) realizado neste mês, 74 projetos a serem desenvolvidos no Estado manifestaram interesse em participar da disputa que está prevista para ocorrer em 28 de junho. Esse número é aquém do registrado nos últimos eventos realizados no ano passado (114 e 107).
Os empreendimentos inscritos para a concorrência de junho somam uma potência total de 1.986 MW (aproximadamente a metade da demanda média de energia dos gaúchos), sendo que 69 deles são de natureza eólica (1.910 MW), uma hidrelétrica (35 MW) e quatro pequenas centrais hidrelétricas (41 W). Apesar desse conjunto de usinas significar investimentos bilionários, caso saiam efetivamente do papel (os leilões selecionam apenas os projetos mais competitivos e para uma demanda limitada de energia), o Rio Grande do Sul vem verificando uma queda na quantidade de iniciativas que têm sido inscritas nos certames.
No ano passado, foram promovidos dois leilões de energia nova no País. No cadastramento da concorrência A-4, feito em janeiro de 2018, foram inscritos 114 projetos, que totalizavam 2.932 MW (a maior parte era constituída de empreendimentos eólicos, 102, que somavam 2.789 MW). No certame A-6 (seis anos para o fornecimento da eletricidade), cujo cadastro foi feito em maio do ano passado, foram 107 iniciativas gaúchas, que significavam 3.369 MW (99 eólicas, com 2.681 MW).
O Estado também caiu no ranking em relação a outras regiões. No leilão A-4 de 2018, a soma da potência de energia dos empreendimentos cadastrados do Rio Grande do Sul somente era inferior às da Bahia, Piauí e Ceará. Para o certame deste ano, além desses três estados, também superaram os gaúchos Minas Gerais, Piauí e Rio Grande do Norte. Um dos motivos que explica esse fato é o crescimento do número de projetos de usinas solares, que é muito mais acelerado em outras regiões do Brasil. No total do País, foram cadastrados 1.581 empreendimentos para participarem do próximo certame, que totalizam 51.204 MW (26.253 MW de geração fotovoltaica).
O coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Edilson Deitos, salienta que, no caso dos complexos eólicos a serem desenvolvidos no Estado, um fator que inibe a participação dessas usinas em leilões é o atraso de uma série de obras de transmissão que anteriormente seriam feitas pela Eletrosul e, como a estatal não foi adiante com os serviços, tiveram que ser relicitadas em dezembro passado. O empresário argumenta que muitos dos agentes do setor de geração eólica irão aguardar para destravar seus investimentos para quando se tiver um cronograma sólido quanto a essas estruturas de transmissão, que são consideradas essenciais para escoar a energia de novas usinas gaúchas.
A competitividade dos projetos nordestinos, que têm uma cadeia de fornecimento de equipamentos eólicos já estabelecida, assim como a ocorrência intensa de ventos, é outro fator que complica o desenvolvimento de complexos no Rio Grande do Sul. O dirigente afirma que um fator que pode ajudar a materializar novos empreendimentos no Estado, em especial os eólicos, é se o governo federal adotar a ideia da realização de leilões regionais.
Secretário defenderá certames regionais em Brasília
A questão dos leilões regionais de energia, focando nas fontes características de cada estado, está na pauta do governo gaúcho. O secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos Júnior, pretende conversar com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, sobre a necessidade de organizar disputas dessa natureza durante o fórum nacional dos secretários de energia, que acontecerá no dia 24, em Brasília.
O dirigente confirma que, atualmente, o problema de conexão é um fator que inibe a participação de projetos eólicos gaúchos nos leilões. Lemos reforça que muitos projetos se inscreveram nos últimos leilões sabendo que não teriam condições de ir adiante neste momento, mas como estratégia para demonstrar que o empreendimento está ainda dentro dos planos das empresas.
De acordo com o secretário, a perspectiva é que, a partir de 2020, com as obras de transmissão começando neste ano, seja possível concorrer com mais segurança dos leilões. Também há a expectativa de que em um leilão A-6, que concede mais prazo para a implantação dos empreendimentos, seja possível uma concorrência mais efetiva dos complexos gaúchos ainda neste ano.
O presidente do Sindieólica-RS, Guilherme Sari, compartilha a projeção que o ano que vem será melhor para as iniciativas a serem desenvolvidas no Estado quanto às condições de concorrência.