Após enfrentar quatro anos difíceis, o mercado de imóveis da Capital tem esboçado sinais de que obterá um melhor desempenho a partir do segundo semestre de 2019. Segundo empresários do ramo, os sinais de melhoria começaram a partir do término do processo eleitoral no País, em novembro do ano passado. Desde então, produtos de incorporadoras, construtoras e imobiliárias que estavam parados nas prateleiras passaram novamente a ser requisitados, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin. E não foi somente a disposição dos consumidores que revigorou: os índices de confiança de todo o setor se elevaram visivelmente, segundo estudo da empresa de consultoria Alphaplan Inteligência de Mercado.
"Tivemos um pico de otimismo no primeiro trimestre de 2018, mas, a partir do segundo semestre, os dados mostravam que o setor imobiliário vinha perdendo o entusiasmo", comenta o economista e diretor da Alphaplan, Tiago Dias. Ele observa que, no ano passado, a expectativa do setor era de que a recuperação ocorresse mais cedo. De acordo com a pesquisa, o Índice de Expectativa do Mercado Imobiliário levou uma injeção de ânimo sobre o último trimestre do ano passado, e a confiança atingiu uma alta recorde em comparação aos números pesquisados desde 2015.
Os gráficos do estudo apontam que o quarto trimestre (de outubro a dezembro) de 2018 foi, sem dúvida, o período de maior pico de otimismo do mercado - estendido durante janeiro de 2019. Com queda acentuada após agosto de 2015, o ânimo do setor reagiu (melhorando mês a mês) durante todo 2016, patinando de forma "razoavelmente estável" nos dois anos seguintes, sem alcançar o patamar atual. Incorporadoras com projetos parados nos últimos dois anos acenavam para "uma das maiores crises que o setor já viveu", nas palavras do presidente do Sinduscon-RS. "Esse período de baixa sacrificou o caixa das empresas, que estavam aguardando a melhoria do mercado para adquirir terrenos e fazer novos lançamentos", destaca Dal Molin.
O presidente do Sinduscon-RS opina que "foi a vitória da direita" que movimentou as vendas. À frente da entidade que representa 3 mil empresas no Estado - incluindo 400 incorporadoras e construtoras de Porto Alegre -, ele afirma que "a crise afetou muito a classe média - e a maioria das pessoas estava aguardando o resultado do pleito para comprar com mais segurança" (uma vez que o mercado financeiro econômico promete se recuperar a partir das reformas anunciadas). "Em 2012 e 2013, nós ainda tínhamos um mercado de imóveis populares mais ascendente, enquanto o alto padrão entrava em um momento mais recessivo, devido à falta de liquidez", recorda o consultor empresarial da Colnaghi Imóveis, Cesar Pancinha.
Naquele período o mercado estava "muito aquecido", destaca o consultor. "Ocorreu um ápice grande de vendas de imóveis de valor menor, como os vinculados ao programa Minha Casa Minha Vida, implementado durante o governo Lula", comenta Pancinha.
No entanto, a desestabilização da economia gerada pelo aumento da inadimplência e do desemprego, e, consequentemente, de distratos, inverteu o cenário: as vendas de alto e médio padrão aqueceram, enquanto os imóveis com preços mais baixos sofreram queda de demanda.
"O melhor ano para o setor foi o período do segundo mandato do governo Lula", concorda o presidente do Sinduscon-RS. "Havia estabilidade econômica, pleno emprego, financiamento abundante no mercado imobiliário e todos os bancos fornecendo crédito, além de pessoas confiantes dispostas a consumir - não sei se voltaremos a esse patamar", admite.
Maioria dos lançamentos deve sair do papel a partir do mês de abril
Empresas estão comprando terrenos para novas obras, diz Dal Molin
/LUIZA PRADO/JC
Com melhores perspectivas, incorporadoras e construtoras que têm projetos para a Capital começam a acelerar os trabalhos e "pressionar" a prefeitura no que se refere ao retorno de aprovação e liberação de licenças. "Inclusive, há empresas comprando terrenos, para a implementação de novas obras", comenta o presidente do Sinduscon-RS, Aquiles Dal Molin. Após dois anos com poucos lançamentos, "devido às adversidades da economia", a agenda de novos empreendimentos residenciais e comerciais para 2019 comprova a reação e as boas perspectivas do segmento, avalia o sócio-proprietário da 2day Gestão de Lançamentos e Estoques, Guilherme Dutra.
Para os próximos seis meses, a empresa especializada em consultoria de lançamentos e marketing imobiliário tem previstos nove novos produtos para apresentar ao mercado, sendo dois ainda no final deste ano. Três serão implementados em Porto Alegre: o residencial de alto padrão junto ao Menino Deus e à orla do Guaíba, assinado por Celsul e SVB Par; outro no estilo boutique, desenvolvido pela Capitânia para o bairro Petrópolis, na avenida Bagé; e também o Centro da Capital recebe projeto para moradia com uma estrutura de lazer que promete ser bastante diferenciada, anuncia Dutra.
O sócio da 2day observa que, de forma geral, o volume de lançamentos na cidade (considerando as previsões de diversas incorporadoras) aumentou visivelmente, mas pondera que a procura dos consumidores, apesar de estar melhor agora, ainda "não voltou a pleno". "As empresas estão colocando os produtos na rua, e o preço dos imóveis deve passar por uma valorização ainda neste ano", avalia. Sócio também da imobiliária Une, Dutra destaca que 2018 foi um ano de "sobrevivência" para o mercado de compra e venda de imóveis. "Foram poucos negócios fechados, tivemos um ano muito difícil, com os consumidores muito inseguros." Para 2019, o empresário tem expectativa de que as comercializações devem crescer em 30%.
"Antes das eleições, o mercado estava mesmo bastante reprimido, mas o pessoal voltou a pesquisar, influenciando no otimismo e na reação positiva setor", reforça o diretor comercial da Tomasetto Engenharia, Romeu Tomasetto. A empresa está construindo um condomínio (com apartamentos de mais de 200 m2 e preços a partir de R$ 2,6 milhões) no bairro Rio Branco, e já conta com 40% das unidades vendidas. "Também estamos em fase de aprovação de projeto para a construção de um condomínio no bairro Mont'Serrat, cuja obra deve ser finalizada até 2022", detalha o empresário.
Segmento de alto padrão é o mais sólido em cenário atual, destaca economista
Abrindo o indicador da Alphaplan Inteligência de Mercado, o diretor Tiago Dias observa que o maior otimismo é com o médio prazo. "Por outro lado, o índice sobre o mercado atual está mais baixo", analisa. "A expectativa é bem diferente, havendo até um descompasso", conclui. Os índices do estudo revelam alta de 2,9% entre os consumidores (com 106,1 pontos); elevação significativa (de 8,2%) entre corretores e imobiliárias (140,9 pontos) e crescimento forte (de 51,9%) no humor da incorporadoras e construtoras (153,9 pontos). Para Dias, há uma demanda reprimida, que deve alavancar as vendas a partir de 2020.
O presidente do Sinduscon-RS, Aquiles Dal Molin, concorda que, somente em 2020, "quando ocorrer uma estabilidade na economia", é que se poderá apontar crescimento consistente do mercado, com demandas mais definidas. "Estamos a caminho de uma solidez e maior segurança nos empregos e rendas - com o tempo, as pessoas irão voltar a adquirir imóveis", considera. "Se alguém está pensando em comprar imóvel, a hora é agora. Quanto mais melhorar os índices do mercado, mais incorporadoras podem recuperar os valores que haviam caído", avalia.
As boas notícias já se refletem nos plantões de venda em prédios que estão sendo erguidos. O All Lindóia, misto de empreendimento comercial e residencial em construção pela Mocellin Incorporações na Zona Norte, em um terreno com 2.540 mil2, a obra (com investimento total de R$ 28 milhões), está indo para a primeira laje e já tem 25% das unidades vendidas". Serão 66 salas e sete lojas, e 50 apartamentos de dois e três dormitórios (a partir de R$ 450 mil), em condomínio com piscina, salão de festas e sala fitness.
"A procura melhorou, percebemos que os negócios saíram da gaveta e voltaram para a mesa", comemora o diretor da incorporadora, Fernando Mocellin. "O mercado não estava bom, e seguramos os lançamentos para quando retomasse o bom ciclo", admite.