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Mercado para cuidadores de idosos cresce mais de 500%
Rio Grande do Sul é o terceiro no ranking dos estados brasileiros onde a profissão mais se expandiu na última década
Liderando a lista das ocupações que mais ganharam espaço no mercado brasileiro nos últimos anos, a profissão de cuidador de idosos teve um aumento de 547% entre 2007 e 2017, de acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho. A atividade, no entanto, ainda não foi regulamentada, e não há regras claras sobre a formação mínima que deveria ser exigida, nem qual seria o conteúdo obrigatório dos cursos preparatórios. Ainda assim, projetos de capacitação e formação têm sido ofertados pelo País, principalmente no Rio Grande do Sul, terceiro no ranking dos estados onde a profissão mais se expandiu na última década. A ideia é preparar melhor os candidatos ao ofício, e também aproveitar o nicho que surge a partir dessa demanda dentro da área da saúde.
Somando muitos anos de trabalho em hospitais nas funções de secretária e atendente de nutrição, a hoje cuidadora de idosos Marta Rodrigues, 56 anos, entrou para o ramo há um ano. "Eu já tinha prática, mas fui me aperfeiçoar e buscar um certificado para o campo de trabalho, pois as pessoas exigem na hora da contratação", explica Marta. Ela descobriu que tinha vocação para o ofício depois de ter cuidado da mãe desde o período em que a progenitora adoeceu abatida com os efeitos do Alzheimer até falecer. "Isso me ensinou bastante, mas, por outro lado, não tinha ideia de muitas coisas, que aprendi após fazer um curso específico no Senac Saúde."
A instituição de educação profissional do Sistema S oferece a alternativa desde 2009, com foco em instrumentalizar os profissionais em relação aos cuidados do idoso com demência - para melhor compreensão, enfrentamento e manejo dessas manifestações. Também são abordados conhecimentos relacionados ao atendimento humanizado e integral à pessoa idosa. "À medida que a população brasileira está envelhecendo (colocando o País no sexto lugar do ranking daqueles com maior número de idosos com mais de 60 anos), a necessidade de cuidados especiais aumenta", justifica a mestre em Gerontologia Biomédica, pelo Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pucrs, Fernanda Regina Rodrigues.
Graduada em Educação Física, Fernanda, inicialmente, voltou o olhar para a questão do envelhecimento, trabalhando com caminhada orientada e exercícios e alongamentos adaptados para a terceira idade. Atualmente, tem especialização em Atenção Geriátrica e é professora do Curso de Cuidadores de Idosos do Senac. "A qualificação profissional dos cuidadores de idosos é fundamental", opina a docente, alertando que, "em um curso de 40 horas, é impossível capacitar alguém para este mercado". "Tem que ter, no mínimo, 160 horas para ter alguma qualidade e garantir que não ocorram - ainda que sem intenção - quaisquer maus tratos."
Enfermeira com pós-graduação em Gerontologia, a proprietária da agência de cuidadores Humanize Care, Tatiana Barbiere Santana, também ministra curso para quem quer seguir a profissão. Ela comenta que, no caso da Humanize Care, o perfil de quem procura o curso é, na maioria, de mulheres. "Antigamente, muitas pessoas cuidavam de familiares que adoeciam e percebiam que tinham vocação para isso, começando a trabalhar nessa área. Mas o Ministério da Saúde criou uma cartilha com as atribuições, e é bem importante conhecer, porque têm coisas que só o enfermeiro pode fazer, como o uso de sonda no paciente, para alimentação enteral", comenta Tatiana.
"Em 2015, trabalhei junto à uma instituição de atendimento a idosos, onde fazia a seleção de cuidadores para contratação junto com a assistente social - ali, me dei conta que muitos não sabiam sequer tirar o paciente da poltrona para transferir para a cama", observa a professora do curso ofertado pelo Senac Saúde.
Fernanda afirma que, além do cuidado a domicílio, também há um mercado impulsionado por instituições de longa permanência para idosos (nominação para os antigos asilos). "Há, de fato, muitas oportunidades de trabalho nesta área, que é uma das que mais cresce no País", avalia.
Regulamentação depende de projetos de lei que tramitam no Congresso
O assunto que trata da regulamentação da profissão de cuidador tramita no Congresso Nacional há, pelo menos, sete anos. Aprovada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, a proposta que regulamenta a profissão de cuidador, atualmente, aguarda análise do Plenário. Outro projeto de lei que cria e regulamenta o ofício - estendido para o de cuidador de crianças e de pessoas com deficiência ou doença rara - aguarda designação de Relator na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) na Câmara dos Deputados.
Por enquanto, o cuidador que for empregado por pessoa física, para trabalho por mais de dois dias na semana, atuando em domicílio ou no acompanhamento de atividades do paciente, terá contrato regido pelas mesmas regras dos empregados domésticos. "Muitos cuidadores, hoje, atuam só como acompanhantes", destaca a proprietária da agência de cuidadores Humanize Care, Tatiana Barbiere Santana. A contratação depende do que a família precisa. Pode ser escala noturna, de 12 horas (folgando 36 horas), diurna, de seis a oito horas, ou plantão. Já o salário depende do que é acertado.
O ex-eletricista Paulo Cezar da Costa Machado, 44 anos, entrou para o mercado de cuidadores há pouco tempo. Antes mesmo de finalizar um curso de capacitação, foi contratado para cuidar de um senhor de 84 anos durante o dia. "Pretendo fazer um outro curso na área da saúde, me identifiquei com a profissão e pretendo continuar trabalhando com isso", comenta Machado, que decidiu procurar uma outra qualificação, após passar dois meses desempregado. "Antes, eu prestava serviços para uma empresa que faliu e não pagou os direitos. Na época, ganhava bem menos do que hoje em dia", destaca. "Fico muito feliz de ter descoberto esta vocação e encontrado esta profissão, que está me acrescentando muito como pessoa."
Os pré-requisitos e o perfil de quem atua como cuidador de idoso estão relacionados apenas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). De acordo com o texto, devem ser contratados maiores de idade, que fizeram cursos livres com duração entre 80 e 160 horas, e que demonstrem empatia e paciência. "O profissional deve dialogar com o paciente para estabelecer um vínculo e fazê-lo sentir-se parte de um grupo. Além disso, é importante conhecer a rotina da família e como todos se organizam diante da situação", observa a professora do curso de Serviço Social do Centro Universitário Internacional Uninter, Denise de Almeida.
"Observamos um grande número de profissionais da saúde, como técnicos de enfermagem, por exemplo, que estão exercendo a função. Mas, em alguns casos, não são especialistas em cuidar de idosos, ou não possuem alguma formação na área de geriatria", adverte Denise. Entre as principais atividades de quem assume a responsabilidade de acompanhar uma pessoa idosa estão os cuidados com higiene, medicação e descarte de materiais, bem como cuidados com a alimentação e o risco de queda.