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PIB do Rio Grande do Sul sobe 1% em 2017
Primeiro trimestre teve queda de 0,8%, segundo a Fipe que sucedeu a FEE
O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul em 2017 teve alta de 1%, segundo divulgação feita na manhã desta quinta-feira (21) pelo governo estadual e que marca a estreia da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) na produção de indicadores, sucedendo a extinta Fundação de Economia e Estatística (FEE). Em 2016, o indicador, calculado pela FEE, havia caído 3,1%, com maiores recuos da indústria e agropecuária.
O valor nominal gerado na venda de bens e serviços produzidos pela economia gaúcha no ano passado foi estimado em R$ 375,4 bilhões. A cifra é nominal, segundo a Fipe, e foi calculada com base no PIB de 2015 e somente mais à frente será feito o cálculo atualizando o montante. Por esta limitação, a divulgação gerou um descompasso: o PIB de 2017, que teria crescido 1%, ficou abaixo do valor de 2016, que foi de R$ 410,276 bilhões, dado calculado pela FEE.
No ano passado, a agropecuária e o comércio tiveram as maiores elevações, de 11,4% e 10,3%, respectivamente. Indústria teve um leve aumento, de 0,2%. Já construção civil caiu 9%, e os serviços recuaram 1,8%. No primeiro trimestre de 2018, o PIB teve recuo de 0,8% frente ao mesmo trimestre de 2017, segundo a Fipe. No primeiro trimestre, comércio mostrou de novo mais fôlego, com alta de 6,1%. Já construção civil mostrou alguma reação, com avanço de 6,4%. Indústria teve alta de 0,3%. Já agropecuária caiu 8,5% e serviços, 1,9%.
O coordenador de pesquisa da Fipe, Eduardo Zylberstajn, qualificou como "boa notícia" o resultado do primeiro trimestre em construção e comércio. Mas lembrou que as quedas maiores ocorrem desde 2015, com estagnação nos últimos meses. "Não há sinais de que superamos este momento", analisa Zylberstjan. "A indústria perdeu um terço de participação desde 2015", apontou o coordenador. O setor recuou de uma fatia de 26,9% para 18,8% em 2017.
Sobre a comparação com o PIB do Brasil, que teve alta de 0,4% no primeiro trimestre, o coordenador diz que a situação gaúcha segue a conjuntura ruim do cenário nacional. "O Rio Grande do Sul segue o que está acontecendo no resto do País", diz o coordenador da Fipe. Sobre a maior queda na agropecuária de janeiro a março, Zylberstjan atribui a uma base maior de crescimento no mesmo período de 2017 e até a preços mais baixos de commodities. Como não há dados mais detalhados dos setores, não é possível avaliar mais no detalhe como foi o comportamento. A equipe da Fipe diz que divulgará as informações nos próximos meses. A FEE apresentava sempre os dados de cada ramo dentro da indústria, comércio e serviços, além de setor público, e por volume de produção do setor primário.
A Fipe diz que usou a mesma metodologia das contas nacionais de outros estados e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seguindo a FEE, mas que refez as séries de dados desde 1995 e 2002 (ano em que houve revisão da estrutura de cálculo e o Estado se ajustou ao padrão do IBGE) e que há algumas variações, mas que os percentuais são muito próximos aos apurados pela antecessora.
O coordenador de pesquisa confirmou que não foram acessados os dados do IBGE, que comunicou ao governo em maio que não repassaria mais dados devido ao sigilo e extinção da FEE, instituição com a qual mantinha acordo de colaboração. O titular da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), Josué Barbosa, diz que o Estado não vai contrapor parecer que impede a continuidade da troca de dados. "O IBGE que calcula o PIB e que precisa da nossa parceria", observou, indicando, como já fez em outras oportunidades, que a secretaria está à disposição para retomar a parceria. Barbosa também afastou qualquer questionamento sobre a credibilidade dos dados e diz que a Fipe buscou informações públicas para o cálculo.
Tensão e muita explicação marcam divulgação do indicador
A divulgação do PIB foi marcada pelo clima tenso no 20º andar do Centro Administrativo do Estado. Foi a primeira desde que a FEE entrou no processo de extinção. Ex-integrantes da FEE - parte deles ainda sem destino definido dentro do governo e outros vinculados ao Departamento de Economia e Estatística (DEE) da SPGG - acompanharam a agenda na sede da secretaria. Uma força-tarefa chegou a ser nomeada para fazer o cálculo, mas o grupo com integrantes da FEE/DEE alegou que não poderia fazer devido à falta de dados do IBGE. Com isso, não há previsão de como será o repasse de dados para o IBGE, que divulga anualmente PIB nacional, de estados e municípios e que contava com o processamento pela FEE.
O contrato com a Fipe, assinado em abril e que tem custo de R$ 6,6 milhões para 24 meses, não incluía o cálculo do PIB de 2017. Segundo o titular da SPGG, Josué Barbosa, a fundação paulista aceitou fazer e não terá alteração nos termos e valores atuais. O coordenador de pesquisa da Fipe, Eduardo Zylberstjan, chegou a dizer que "não tem almoço grátis, mas aqui é quase isso", mas depois esclareceu que o cálculo foi possível porque a entidade já estava processando os dados para estimar o PIB do trimestre e estava mexendo com dados desde 2015. "Para fazer o PIB de 2018, precisa acessar 2016 e 2017", diz o coordenador, admitindo que o grupo teve de acelerar a elaboração para apresentar e que parte será lançado mais à frente.
Em todas as respostas, a equipe assegurou que não há perda de qualidade de dados e que informações estarão disponíveis em nome da "transparência". Esta divulgação está prevista no contrato. A fundação pretende divulgar também o PIB mensal, que hoje não é feito. Segundo ele, serão feitos ajustes para ter os dados em período mais curto. O secretário voltou a dizer que o Estado é pioneiro em ter uma instituição que não é ligada ao governo, como era a FEE, para fazer o cálculo. Nos demais estados, o indicador é feito por instituições públicas. Hoje o pagamento da Fipe está suspenso por liminar do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Zylberstjan disse que não comentaria o caso e que o trabalho será mantido.
O economista Roberto Rocha, que coordenou as contas regionais na FEE, disse que acredita na credibilidade da Fipe e no trabalho consistente "dentro da metodologia que foi adotada". A ressalva é a ausência de dados do IBGE, que dariam "mais peso ao cálculo". Rocha qualificou o material apresentado como "PIB adaptado". "É um indicador que tem menos capacidade de medir o nível da atividade", observou o economista.
Rocha citou limites como medir o impacto da parada da planta da Celulose Rio-Grandense, que ocorreu em 2017 e que afetou exportações com previsível efeito na receita da economia. "Conseguimos ver isso pelo IBGE", explica Rocha. Para o economista, o trabalho apresentado pela Fipe poderia ser feito pelas áreas de economia de universidades gaúchas, como Ufrgs, Unisinos e Pucrs. "O Estado está pagando caro por estes dados", advertiu o ex-coordenador de contas regionais da FEE.