Em uma noite cheia de vida em Porto Alegre, a arte fluiu aos olhos e ouvidos de centenas de pessoas que, após dois anos, retornaram às ruas da cidade para a Noite dos Museus, neste sábado (21). O Centro Histórico, sempre tão escuro e perigoso à noite, esteve cintilante, vivo, acolhedor e ocupado por gente de toda a cidade. A 6ª edição da Noite dos Museus não marcou apenas a volta do evento, que em tão pouco tempo se tornou uma das principais atrações culturais da capital gaúcha, mas o reencontro do habitante com o seu lugar e as diversas formas de expressão artística e cultural que ele tem a oferecer.
Foram mais de 100 atrações em 22 espaços culturais concentrados principalmente na região central. A Praça da Alfândega foi o epicentro do evento. Nela, um palco foi montado para receber artistas que embalaram o público até o início da madrugada.
O clima porto-alegrense esteve favorável para as pessoas, que estiveram presentes em todas as idades - das crianças até os mais velhos - e se sentirem confortáveis mesmo em uma região localizada às margens do Guaíba. Após o vendaval gerado pelo ciclone extratropical durante a semana, o sábado ofereceu uma noite sem ventos e de 14ºC por volta das 20h30min, o que não afastou os espectadores.
Na Casa de Cultura Mario Quintana, um público essencialmente mais jovem, formado em sua maioria por pessoas de 20 a 35 anos, empunhava garrafas de vinho e copos de quentão, produzido e vendido por ambulantes nas ruas, para se aquecer do frio que foi chegando conforme se aproximava a madrugada deste domingo (22).
Mesmo após este hiato provocado pela pandemia da Covid-19, a Noite dos Museus não deixou de ser querida pelo público. O sucesso do evento esteve visível desde o início, com os museus recebendo visitantes ininterruptamente até a hora de fecharem as portas.
"A gente está muito feliz com essa grande mobilização. As pessoas estão circulando felizes, contentes de estarem na rua, de se reencontrar com os museus e se reencontrar com a cidade. Essa experiência é uma construção. Ajuda a perceber que a cidade é bonita e que conseguimos apreciá-la também à noite, em segurança. É a ocupação das pessoas que proporciona esse sentimento de segurança, não é só o policiamento", disse o idealizador do evento, Rodrigo Nascimento.
As exposições em cartaz trouxeram os mais diversos temas. O Museus de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), por exemplo, apresentou "Presença Negra", que procurou mostrar que a população negra, do Sul ao Norte do Brasil, sempre esteve presente nesta terra, pois escrita e arte são formas de se afirmar existência.
Público de todas as idades aderiu ao evento, que celebrou a cultura e a arte da Capital. Fotos: Andressa Pufal/ JC
No Farol Santander, moradores da aldeia Anhetenguá, o lar de 120 indígenas, localizada na Lomba do Pinheiro, apresentaram suas histórias e memórias. "Estamos aqui para mostrar a cultura indígena. Nem todo mundo conhece. Queremos mostrar qual é a cultura, como que dança, como que canta", disse o sempre sorridente Arnildo Gonçalves, indígena Kaingang de 52 anos, nascido e criado na aldeia.
Quem encerrou a noite foi a cantora e compositora argentina Barbarita Palacios, que apresentou seu novo disco “Criolla”, durante a primeira atração internacional do evento.
O idealizador da Noite dos Museus ressaltou a vontade de ver uma Porto Alegre com vida noturna ativa nas ruas não apenas em um evento como esse, que ocorre uma vez por ano, mas sempre. Para ele, o principal ensinamento da Noite dos Museus é que os moradores da cidade têm vontade de vivê-la não apenas durante o dia, e o sucesso da iniciativa nesta volta, e durante as cinco edições anteriores, prova que isso é possível.
"A gente tem um problema que é ir aceitando as coisas, tornando-as normal. Então, cabe a nós, a partir dessa experiência, dizer: eu quero mais. E não é só Noite dos Museus, eu quero mais cidade. Eu quero viver. Eu quero Centro Histórico, quero museus, quero cultura, quero caminhar pelas ruas", afirmou Nascimento.
O prefeito da Capital, Sebastião Melo (MDB), avaliou que esta foi uma "noite de reencontro com os museus.". "A cultura é a alma de uma cidade, que é para as pessoas. A gente têm que discutir essa questão dos horários, de repente, em alguns lugares, estender mais o horário. A gente tem que desburocratizar, ser parceiro. Esse é o caminho", disse Melo.
Em sua sexta edição, o Noite dos Museus levou cerca de 180 mil pessoas às ruas e aos espaços culturais de Porto Alegre, superando a última edição presencial do evento, em 2019, que havia reunido 105 mil pessoas.