Há cerca de um ano e meio, os palcos adequados para shows internacionais em Porto Alegre seguem silenciosos. Alguns espetáculos, depois de uma série de mudanças de data, estão marcados para o final de 2021 - mas a emergência sanitária da pandemia persiste, e não há nenhuma certeza de que os shows serão de fato realizados neste ano. Para quem gosta de viver a experiência da música ao vivo, resta ter paciência até que o 'velho normal' possa regressar - uma espera que
Quando o som bate no peito (Memorabilia, 224 págs., R$ 60,00 - pré-venda em
quandoosombatenopeito.com.br), de Márcio Grings, pode ajudar a preencher.
A obra traz 34 resenhas de shows internacionais em Porto Alegre, cobrindo um período de 23 anos. Das páginas, ressurgem o som e o impacto de nomes emblemáticos do rock como Bob Dylan, Paul McCartney, The Who, Rolling Stones, Roger Waters, Buddy Guy, Deep Purple e Black Sabbath, entre outros. Não apenas em texto, mas também em imagem, já que o livro traz 130 fotos, parte delas reunidas em um álbum colorido em papel especial.
O lançamento de
Quando o som bate no peito acontece nesta terça-feira (8), às 19h, em uma live pelo
canal Pitadas do Sal no YouTube, com os fotógrafos Lauro Alves, Fábio Codevilla, Toni Müller e Pablito Diego. O músico Vinicius Brum ainda fará uma participação especial, tocando alguns temas clássicos das bandas mencionadas.
"Tentei não fazer do livro um diário de um repórter, por mais que algumas visões sejam bastante pessoais", garante Grings, em papo com o Jornal do Comércio. "Espero que as pessoas se enxerguem um pouco no livro, sabe? Preparei pensando em quem foi ao espetáculo e, lendo, sente um pouco como se estivesse retornando ao que viveu, pelas minhas palavras. Da mesma forma, quero que a pessoa que não esteve lá consiga se ver naquele ambiente, enxergar e sentir um pouco daquilo que estou falando."
Márcio Grings tem uma vivência ampla na área, em diferentes esferas. Escreve profissionalmente sobre música desde 2010, e publica conteúdo sobre shows nos sites Grings Tours e Grings Memorabilia. Já apresentou programas de rádio, foi colunista em jornais e sites, teve loja de discos e, hoje, também atua como músico e produtor cultural. Isso tudo ajuda na hora de trazer, em suas análises, observações que muitas vezes escapam ao fã que se junta à multidão para curtir um show de rock.
Os relatos seguem uma linha cronológica às avessas: começam em 2019, último ano com ampla oferta de shows internacionais na Capital, e retornam no tempo até 1998, ano em que ocorreu o hoje lendário show de Bob Dylan no Opinião. "Foi o primeiro show internacional que vi, um divisor de águas para mim. Realmente entendi o impacto de ver um monstro sagrado do rock na tua frente. Virei um missionário dylanista depois daquela noite", recorda o escritor.
Para transformar essa compilação de crônicas musicais em livro, Grings mergulhou em um trabalho quase de reescritura, revendo diferentes aspectos das resenhas originais. "Grande parte do material foi publicado, originalmente, horas depois do show. Saía de lá umas 2h da manhã e às 9h já estava no ar, com fotos e tudo. E no calor do momento a pessoa acaba meio que se inebriando, deixa passar coisas importantes", reflete. "Reescrevi algumas partes, tentando manter o tom e o espírito original de casa resenha, mas, ao mesmo tempo, dar uma voz específica para cada uma delas. E muitas vezes ampliando, abrindo janelas para outros aspectos daquela experiência musical."
O resultado é um livro que se move com a mesma dinâmica de um bom show de rock, evocando diferentes emoções pelo caminho - e abrindo caminho para ousadias, como não poderia deixar de ser. "Gosto de escrever sobre música porque acho que a experiência musical é algo transcendente", acentua Grings. "Sou influenciado por essa coisa do New Journalism, de contar uma história realmente como ela é, mas também promover viagens dentro dessa história. Na resenha do Dylan de 1998, acabou entrando uma viagem minha, de imaginar uma história que talvez não tenha acontecido, mas convidar o leitor a brincar e imaginar aquilo junto comigo."
Tudo isso para acentuar eventos que, a seu modo, também acabam pontuando a história de diferentes gerações: "A memória cultural sobrevive no livro, porque às vezes tu vais procurar informações sobre espetáculos que viu e encontra pouco, ou apenas informação protocolar. É um livro de música para quem gosta de música, e acho que ele ajuda a valorizar a lembrança disso tudo que foi vivido, reforçar o quanto cada noite pode ser especial e única".