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Fabrício Carpinejar lança livro em homenagem à mãe, escritora Maria Carpi
'Coragem de viver' traz lições que autor aprendeu com uma das mais respeitadas poetas contemporâneas brasileiras
O escritor Fabrício Carpinejar tinha um projeto de lançar algo para comemorar os 30 anos de literatura de sua mãe, completados em 2020, o ano do isolamento social, que Maria Carpi cumpriu à risca - pelos dois avisos-prévios que ela diz ter. O primeiro é coletivo, pela pandemia; o segundo, pessoal, pela sua idade avançada, a "adolescente de 81 anos de pernas bonitas".
A ideia inicial era uma obra dos dois, a quatro mãos: "Mas daí me dei conta de que ela está em mim". Escolheu, então, abordar a coragem de viver, e para ter um exemplo concreto, provar que essa ideia existe, resolveu falar da pessoa mais corajosa que conheceu. Coragem de viver, que Maria foi fundamental para que a sua trajetória profissional decolasse.
Na obra, Carpinejar é muito fiel ao espírito de Maria lidar com o cotidiano, o encantamento com as flores, os pássaros, as borboletas; a faceta religiosa, o domínio da cozinha, “uma sobrevivente do mundo analógico”. É possível sentir o clima do bairro Petrópolis, na Capital, onde eles cresceram e ela ainda vive, ao folhear as páginas e visualizar as crônicas.
Ele sabe – e quem mais poderia fazer isso tão bem? – descrever perfeitamente a forma como ela dita ensinamentos, quase sussurrando, e o modo como ri de si mesma, graciosamente tímida. Algumas dessas histórias já são conhecidas dos leitores, pois foram contadas em entrevistas e conversas informais dos dois.
Com esta leitura, também enxergamos a origem do bom humor de “Bito” – como a mãe o chama –, não com gargalhadas esfuziantes, mas com uma origem particular de como enxergar os fatos. Em Tomada de consciência, há o seguinte diálogo: “– Mãe, estava preocupado, não viu as minhas ligações? – Não tinha visto, deixei a minha alma carregando”.
Inversão da lógica da herança
Coragem de viver (Planeta), além da graciosidade que traz nos textos, ainda é bem recheada de ilustrações lindíssimas de Ana Carolina (anacardia), inspiradas diretamente nos trechos. Esse elemento visual complementa de forma bastante lúdica o perfil da publicação, uma homenagem a uma mãe, mulher e profissional digna de muita admiração.
O livro poderia ser classificado como aqueles manuais para ler uma vez por dia, ao iniciar a jornada, com “pílulas de sabedoria”. É esta a qualidade que Fabrício Carpinejar destaca de Maria Carpi. A força, não, esse elogio é uma armadilha, como ele foi percebendo durante o passar do tempo.
“Minha mãe diferencia ver de perceber”, o autor afirma em Perceber é melhor do que ver. Sim, ela escreveu três cantos inteiros para o título O cego e a natureza morta (Ardotempo, 2016, 143 págs.), somando 101 poemas, sob esta perspectiva: “Adivinhar é ignorar que se conhece”.
Focando em sua mãe, Carpinejar aborda temas como superação, dor, tristeza, fé, ciúme, longevidade e sensibilidade. “As lágrimas são do corpo, os suspiros são da alma”, Maria ensina. “Minha mãe pedia: Seja firme com a tristeza para mandá-la embora, mas cordial com a dor para aceitá-la.”
Com 46 livros publicados, e mais de duas dezenas de prêmios literários (sendo Jabuti por duas vezes, mais os locais Açorianos de Literatura), o colorado Fabrício Carpinejar é um dos escritores contemporâneos brasileiros que fazem mais sucesso no País, tendo best-sellers e se apropriando com tranquilidade da televisão e das redes sociais. Seus lançamentos transitam entre gêneros diferentes, como poesia, crônica e infantojuvenil.
Segundo a editora, Coragem de viver inverte a lógica da herança - é um testamento em vida que o filho deixa para a sua mãe, Maria Carpi. Ele reconhece no livro que como escritora ela é mais desconhecida do que publicada (18 títulos editados), uma vez que mais da metade de sua obra segue inédita: são 23 livros sem previsão de lançamento. “Lembra um Fernando Pessoa de saia. (...) Ela organiza as obras como quem borda, como quem prepara um enxoval para a sua morte.”
Para Carpinejar, o público só conhece fragmentos da poeta, “a península de seu lápis”. E ele conclui: “A realidade é que eu me tornei as sobras da personalidade de minha mãe”.
Com tamanho talento desta família e deste sobrenome para as palavras a partir das coisas simples da vida, poderíamos brincar com um clichê: Carpe diem, CARPI vita!