Autora estreia no mundo editorial com poderoso romance ambientado em Veneza

Jornalista lança 'A gôndola vermelha' nesta sexta-feira (10)

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Jornalista lança 'A gôndola vermelha' em e-book e versão impressa nesta sexta-feira (10)
A estreia da jornalista Andreia Salles na literatura concretiza-se nesta sexta-feira, com o lançamento do romance 
A autora é uma apaixonada por Veneza. Em paralelo às atividades como profissional de comunicação corporativa, que exerce desde 1993, Andreia estuda a vida e a sociedade dos tempos da República Sereníssima de Veneza (697-1797), quando os Doges comandavam a política e a economia da região. Apontada como um dos 350 profissionais de Public Relations mais influentes do mundo, pelo PRWeek Powerful Book, por dois anos consecutivos, em 2016 e 2017, a jornalista e empresária, que é pós-graduada em Jornalismo Digital pela ISE/IICS (Universidad de Navarra/Harvard School of Business), coleciona viagens pela cidade e escreve seu primeiro romance, baseado em tudo que leu, viu, ouviu e sentiu de Veneza.
A trama de A gôndola vermelha se passa em 1590. Chegada à região ainda adolescente, vinda do interior da França, para casar-se com um aristocrata riquíssimo, Isabelle é a mulher mais bonita de Veneza. O marido carrega um sobrenome importante, vive viajando e tem idade para ser seu pai. Ela levava uma vida de luxo e solidão, tendo uma única amiga, Paola, com temperamento bem diferente do seu. Em um dos trajetos com ela, pelos canais da cidade, percebe os olhares do gondoleiro Giovanni, às vésperas dos bailes de máscara do Carnaval.

Obra foi escrita na quarentena, em menos de dois meses

JC - Panorama: A gôndola vermelha é tua estreia em literatura como romance. Já tinhas publicado em algum outro gênero literário, participado de alguma coletânea ou frequentado alguma dessas oficinas de escrita literária?
Andreia Salles - Por incrível que pareça, nunca publiquei nada e também não participei de nenhuma coletânea. Tampouco frequentei oficinas de escrita. Acho que A gôndola vermelha navegou naturalmente na minha alma.
Panorama - Tu és uma pessoa da palavra, tua profissão te exige a escrita, mas objetivamente. Como é trabalhar na literatura com vistas a uma construção que carregue emoção? Qual foi teu preparo nesse sentido? Tiveste alguma inspiração/influência? Os romances “mais românticos” eram um nicho que te agradava como leitora, anteriormente?
Andreia - Sempre li muito e considero Os miseráveis o melhor livro de todos os tempos - Victor Hugo, para mim, é incomparável. Quando bem jovem, eu também lia romances "mais românticos", e gostava do gênero. Mas, devido às exigências do jornalismo, meu gosto literário foi se ampliando e passei a dar preferência à leitura de grandes biografias e livros técnicos. Isso fez com que minha escrita profissional tenha sempre um tom técnico. Em relação à composição de A gôndola vermelha, confesso que Veneza sempre desperta algo inusitado em mim...
Panorama - A ambientação da obra no decorrer da narrativa, com detalhes sobre o período histórico e explorando todo o imaginário que ronda Veneza, é onde moram seus pontos altos. Quais foram tuas fontes de estudo? Como e quando começou este fascínio?
Andreia - A primeira vez que fui a Veneza, em 2009, tive um choque. Amei a cidade com todas as minhas forças, e se abriu uma fonte de inspiração, tanto que escrevi uma poesia, sobre a Ponte Rialto, mas a guardei na gaveta e segui a vida. Dez anos se passaram e voltei a Veneza no dia 25 de dezembro de 2019, para uma temporada em família. E novamente surgiu a inspiração. Desta vez, regressei ao Brasil com vontade de escrever um romance de época sobre a Sereníssima República. Passei dois meses lendo de tudo, de livros a sites, para compor o panorama histórico da vida de Isabelle e Giovanni. Foquei os estudos em um período específico da história daquela magnífica cidade, o final do século XVI, época da inauguração da Ponte Rialto no formato que vemos hoje. Comecei a escrever no dia 3 de março. Com quarentena imposta pelas necessárias precauções para impedir a disseminação do novo coronavírus, pude me concentrar, com mais vigor, na elaboração do livro. E terminei em 26 de abril.
Panorama - Qual a justificativa em escolher narrar os prazeres e dores de Isabelle em primeira pessoa? Identificação feminina, talvez?
Andreia - Confesso que Isabelle tem muito de mim... Só que ela é mais impetuosa e não mede as consequências. Decidi narrar em primeira pessoa porque, na hora de escrever o livro, precisei me sentir dentro da narrativa para poder contá-la de forma real. Sofri e amei junto com ela. Nos momentos mais difíceis dela, senti as mesmas dores físicas, espirituais e mentais. Era como se eu vivesse o papel de Isabella em um filme.
Panorama - Outro elemento que gostaria de abordar é o “vermelho” e os significados que esta cor traz consigo. O tom ruivo está nos cabelos do protagonista e vai dar o título ao livro. Como construíste esta teia, para chegar neste descendente de irlandeses de olhos verdes? Qual foi o processo de criação para chegar a esta caracterização do personagem?
Andreia - Tradicionalmente, o vermelho é uma cor ligada à paixão, mas a verdade é que compus Giovanni mentalmente antes mesmo de batizar o livro. Sua presença parte do perfil de Isabelle, uma aristocrata riquíssima, mimada e indiferente a tudo, com uma vida sentimental beirando a catástrofe. Uma mulher jovem e com um toque natural de indiferença e distância. Para alguém assim, somente um homem que fugisse completamente do lugar comum poderia despertar sua atenção. Até hoje, se você passear por Veneza, verá que não existem muitos ruivos originais da cidade. Giovanni tem um 1,80m em um tempo de homens com estatura bem mais baixa. Se trouxermos para o mundo atual, com homens maiores, Giovanni seria um ítalo-irlandês de quase 2m de altura, em cima de uma gôndola, segurando um remo gigante. Algo bastante inusitado e que chama a atenção. Colorir o cabelo dele com o vermelho-fogo da paixão contrastando com sua pele branca foi a cereja do bolo, o inusitado que nos leva à perigosa atração dos dois.
Panorama - O teu romance de estreia promete uma continuação: A herança de Lucca. Este novo livro já está pronto ou mesmo desenhado? Tens intenção de fazer uma trilogia?
Andreia - Herança já está pronto, entrando na fase de pós-produção, composta pela revisão ortográfica, elaboração do prefácio, revisão final. Tenho, sim, a intenção de escrever uma trilogia, mas o terceiro livro ainda está somente desenhado.
Panorama - Falando ainda sobre futuro na literatura: tem algum outro local do mundo que te inspire como Veneza e possa dar origem a uma nova obra? Ou te imaginas escrevendo em algum gênero bem diferente?
Andreia - Em A herança de Lucca, eu passeio por mais duas cidades da Itália, além de Veneza, que ainda é o foco principal: Colle di Val'Elsa e Nápoles. Por enquanto, ainda preciso de Veneza para me inspirar, mas não me vejo escrevendo romances fora da Itália. Quanto a me aventurar em outros gêneros, tenho vontade de escrever livros de histórias reais, pois participo de um trabalho voluntário junto aos moradores da Cracolândia de Brasília. Há, ali, histórias fantásticas, fantasiosas, tristes, alegres... Mas, por enquanto, é apenas uma ideia.
Panorama - Sobre o lançamento neste momento: a previsão era para o livro sair agora, mesmo? A pandemia mudou alguma coisa na tua logística de estreia como escritora?
Andreia - A pandemia acelerou o processo. Não esperava escrever os dois livros de uma vez. Havia me programado para lançar o primeiro e escrever o segundo, mas acabei utilizando o período da pós-produção do Gôndola, em que o livro sai da minha mão, para escrever o Herança.