No ano em que o Grammy tentou rejuvenescer sua premiação, para não perder o bonde da música pop contemporânea, uma cantora de 18 anos recém-completados sai como grande vencedora. Billie Eilish, que foi de desconhecida a fenômeno pop em alguns meses no ano passado, levou para a casa os quatro principais prêmios da noite deste domingo (26) – música do ano, gravação do ano, álbum do ano e artista revelação.
Artista mais jovem a ser indicada às quatro grandes categorias do Grammy, Eilish também é a mais jovem a ganhar todas elas de uma vez. Além disso, a cantora americana é a primeira a levar os quatro prêmios principais em uma mesma edição do Grammy desde 1981, quando Christopher Cross realizou o feito.
A cantora britânica Adele já conseguiu a façanha de ganhar os quatro prêmios, mas em anos diferentes. Sendo assim, Eilish se torna também a primeira mulher a conseguir levar as quatro categorias em uma mesma noite.
De quebra, seu disco de estreia, "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?", de 2019, ainda foi eleito o melhor álbum de pop vocal – desbancando Taylor Swift, Ariana Grande e Ed Sheeran – e ganhou em melhor engenharia de álbum não clássico. Pelo trabalho no disco, seu irmão, Finneas O'Connell, também venceu um Grammy, o de produtor do ano.
Billie Eilish acabou levando todos os seis prêmios aos quais ela concorria. A principal indicada à cerimônia, que aconteceu em Los Angeles no domingo (26), Lizzo, acabou levando apenas três dos oito prêmios aos quais concorria – melhor performance solo de pop, melhor álbum contemporâneo urbano e melhor performance de R&B tradicional.
Lil Nas X, outro que chegou com seis indicações à premiação, saiu com dois troféus. Um deles de melhor videoclipe e o outro de melhor performance pop em duo ou grupo.
A cerimônia do Grammy deste ano foi repleta de discursos, apresentações e homenagens. Como vem acontecendo nos últimos anos, cada vez mais prêmios estão sendo entregues na pré-cerimônia do evento, enquanto a premiação regular fica reservada às performances.
Neste ano, só nove prêmios seriam entregues na cerimônia, transmitida pela TV. Todas as outras 75 categorias tiveram seus vencedores anunciados horas antes da premiação em Los Angeles.
Ao subir ao palco na abertura da cerimônia do Grammy, a apresentadora do prêmio, Alicia Keys, fez uma homenagem ao ex-jogador de basquete Kobe Bryant, astro da NBA que morreu neste domingo num acidente de helicóptero.
Ela recebeu integrantes do grupo Boyz II Men e cantaram juntos "It's So Hard to Say Goodbye to Yesterday". Bryant era ídolo do Los Angeles Lakers, time de basquete da cidade onde ocorreu a cerimônia. Os Lakers, aliás, jogam no Staples Center, ginásio em que aconteceu o Grammy.
Lizzo se apresentou na abertura da cerimônia, o horário nobre para o Grammy. Cantou "Cuz I Love You", faixa-título de seu aclamado disco do ano passado, e emendou a performance com "Truth Hurts", hit feminista que a alçou à fama, acompanhada por dançarinas. Ainda tocou flauta, uma de suas marcas.
Billie Eilish, por sua vez, cantou a balada "When the Party's Over", acompanhada só por um piano. Lil Nas X, que chegou ao prêmio com seis indicações, cantou seu hit "Old Town Road" com o grupo de k-pop BTS, Billy Ray Cyrus e o cantor mirim Mason Ramsey, num número um tanto esquisito. A música rendeu a ele os troféus de melhor clipe e melhor performance de duo ou grupo de pop.
Neste ano, o Grammy também preparou homenagens a artistas que já morreram. Dois brasileiros, João Gilberto e Beth Carvalho, foram rapidamente lembrados, aparecendo por segundos no telão, ao som do clássico "Desafinado", do pai da bossa nova.
Prince, morto há quatro anos, havia sido homenageado em 2017, mas ganhou novo tributo. A ex-baterista de sua banda, Sheila E., dividiu o palco com Usher, que cantou hits como "Little Red Corvette" e "Kiss" ao lado de FKA Twigs –a participação da cantora, no entanto, ficou limitada às danças.
O rapper Nipsey Hussle, assassinado em 2019, foi homenageado por DJ Khaled e John Legend, parceiros dele na música "Higher", em performance com Meek Mill, Roddy Ricch, YG e Kirk Franklin. A canção ganhou na categoria melhor performance de rap cantado.
Outra música de Hussle, "Racks in the Middle", esta com Roddy Ricch & Hit-Boy, ganhou como melhor performance de rap.
A premiação abriu espaço para vários nomes pop que pouco se destacaram na lista de indicados. Entre eles os Jonas Brothers, que aproveitaram a visibilidade para mostrar uma música nova, "What a Man Gotta Do", e Camila Cabello, que cantou "First Man" para o pai, que não segurou as lágrimas.
Ariana Grande, que disputou categorias fortes como álbum do ano, mas saiu de mãos vazias, fez uma performance que começou comportada. Abriu com "Imagine", acompanhada de naipe de cordas, e depois emendou "7 Rings" dançando num cenário rosa. Fechou com "Thank U, Next".
Tyler, the Creator, que ganhou na categoria de melhor álbum de rap, com o disco "Igor", fez uma apresentação incendiária. Com uma peruca loira e um terno vermelho e rosa, ele teve a companhia de um coral – com o cantor Charlie Wilson fazendo uma das vozes – em "Earfquake". Depois, rimou com firmeza os versos de "New Magic Wand", enquanto pipocavam no cenário luzes e projeções de labaredas de fogo.
Outra apresentação barulhenta foi a do Aerosmith, que se reuniu com o grupo de rap Run-DMC para resgatar a parceria de um clássico dos anos 1990, "Walk This Way".
Já Demi Lovato fez uma das performances mais emocionantes do Grammy. Às lágrimas, a cantora pop apresentou sua nova música, "Anyone", para uma plateia lotada.
A composição foi escrita pela própria artista dias antes de sua overdose, em 2018. "Demi compôs essa música no verão passado quatro dias antes de um incidente que quase tirou a sua vida", contou a diretora Greta Gerwig, que introduziu a performance.
Ainda houve tempo para apresentações de Bonnie Raitt – em tributo a John Prine –, a cantora espanhola Rosalía e Blake Shelton com Gwen Stefani, entre outros.
Na pré-cerimônia da festa, se destacaram nomes como os Chemical Brothers – que levaram dois prêmios de música eletrônica –, Gary Clark Jr. – com dois troféus de rock – e Anderson Paak – vencedor em duas categorias de R&B. Até Michelle Obama ganhou um Grammy de palavra pelo audiolivro de "Minha História".