Protagonizada por Andrea Beltrão no papel-título, Hebe - A estrela do Brasil não é exatamente uma cinebiografia, mas a reconstituição de um período histórico específico na carreira da mais carismática apresentadora que a televisão brasileira já teve. Projeto da roteirista Carolina Kotscho, que desenvolveu a intensa pesquisa sobre a personalidade retratada, com direção de Maurício Farias, a trama começa na metade dos anos 1980, abordando o período da "dita" abertura política do País. A estreia ocorre nesta quinta-feira (26) em salas por todo o Brasil.
Tendo tentativas de censura à personalidade irreverente e imprevisível de Hebe (nome da deusa mitológica da juventude) como fio narrativo, esse trecho cronológico aborda a saída da rede Bandeirantes e a ida para a emissora de Silvio Santos, o SBT. Para a roteirista, a artista foi "a prova de que defender o que é certo não é uma questão de ideologia, é uma questão de caráter. E tudo que ela disse há 30 anos estamos precisando muito ouvir hoje". A declaração foi feita no palco do Palácio dos Festivais, na serra gaúcha, quando da apresentação do filme no 47º Festival de Cinema de Gramado, em agosto último.
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De fato, o recorte histórico da trajetória da apresentadora de programa de variedades é com ela sempre lutando para fazer "tudo do seu jeitinho". Para Carolina, este foi o momento em que ela deixou de ser uma boneca no palco, quando viu a responsabilidade de ser uma mulher com microfone na mão.
Hebe, que estreou no rádio aos 14, completando quatro décadas de profissão, perto de chegar aos 60 anos de vida, está madura e já não aceita ser apenas um produto que vende bem na tela da televisão. Mais do que isso, já não suporta ser uma mulher submissa ao marido, ao salário, ao governo e aos costumes vigentes. No seu programa, ela recebia de Henfil a Paulo Maluf, de travesti a padre. "É uma obra de ficção, uma interpretação da vida da Hebe, que foi uma figura incrível como apresentadora", afirmou Maurício Farias. O diretor concorda que não produziu uma biografia, pois tinha que trazer ao público uma personalidade que já era conhecida: "Meu olhar foi pelo desconhecido, usando o que a ficção proporciona, mas não mudei a Hebe".
Conforme os realizadores, todo o texto dito pela atriz Andrea Beltrão em cena no filme saiu, de fato, da sua boca. "Parti do ponto de vista dela, lendo as suas entrevistas, a Hebe em primeira pessoa", destacou Carolina Kotscho, assegurando que escreveu a personagem sem embelezamento. "Ela trazia o incômodo, é difícil catalogá-la, porque ela era original, espontânea", complementa Farias.
Sobrinho da apresentadora, que trabalhava diretamente na sua produção, Claudio Pessuti estava presente junto com a equipe. A Hebe Forever, empresa dele com o primo Marcelo Camargo, filho da estrela, é coprodutora do longa. "Foram parceiros do projeto, de uma generosidade incrível, nos cedendo os direitos", comentou Lucas Pacheco, um dos coprodutores. Eles abriram a intimidade, o acervo e o armário de Hebe: todos os acessórios, joias e cerca de 600 sapatos foram disponibilizados para a equipe.
Durante a transição da ditadura militar para a democracia, quando a censura "estaria acabada", Hebe decide correr o risco de perder tudo que conquistou em sua trajetória profissional para ter o direito de ser ela mesma na frente das câmeras, dona de sua voz e única autora de sua própria história.
Entre o brilho da vida pública e a escuridão da dor privada, Hebe enfrenta o preconceito, o machismo, os chefes poderosos e os poderosos políticos para se tornar a mais autêntica e mais querida celebridade da história da nossa TV: uma personagem com dramas comuns a qualquer um de seus milhões de fãs.
Sobre a rainha da telinha, Hebe - A estrela do Brasil também tem no elenco Danton Mello (como o sobrinho), Marco Ricca (o marido ciumento), Gabriel Braga Nunes (o ex, pai do filho Marcelo), Claudia Missura (Nair Bello), Karine Teles (fazendo uma maravilhosa Lolita Rodrigues), Daniel Boaventura (impecável como Silvio Santos), Danilo Grangheia (Walter Clark), Otávio Augusto (Chacrinha), Stella Miranda (Dercy Gonçalves) e Felipe Rocha, muito simpático no papel do Rei Roberto Carlos.
A equipe teve Inti Briones na direção de fotografia, Luciane Nicolino na direção de arte, e Joana Collier e Fernanda Krumel na montagem (premiada com Kikito em Gramado). O material ainda vai virar uma série da Globo no ano que vem, com desdobramentos do filme, tendo exibição inclusive na Globo Play.