Na Serra, no 47° Festival de Cinema de Gramado, Miguel Falabella, diretor do longa Veneza, leu na íntegra a Carta de Gramado 2019, assinada por 63 entidades do setor do audiovisual. O realizador e toda sua equipe apresentaram o filme em competição na mostra nacional do evento, na noite de quinta-feira (22). Antes de descer do palco, a atriz Dira Paes ainda gritou para a plateia: "Não ao desmatamento e às queimadas na Amazônia!", sendo apoiada com palmas, assobios e brados do público.
"Apoiamos a permanência e independência da Ancine, agência responsável pelas políticas públicas de fomento e regulamentação, cada vez mais ativa, livre e desburocratizada com foco no desenvolvimento de uma cinematografia forte, capaz de representar o Brasil em toda a sua diversidade", diz trecho da Carta (confira o texto na íntegra abaixo).
Segunda direção em longa de Falabella - o primeiro foi Polaroides urbanas, comédia de 2007 -, Veneza é uma enorme produção, com méritos artísticos e grande, variado e competente elenco (além de Dira, Du Moscovis, Carol Castro, Danielle Winits, Maria Eduarda de Carvalho, André Mattos, Caio Manhente, Roney Villela e Pia Manfroni, entre outras participações menores), incluindo estrelas internacionais, como Carmen Maura.
Segundo o cineasta, o filme é uma fábula e deve ser entendido como tal. "Hoje, essa mítica viagem através do sonho seria uma maneira de atravessar o pesadelo que vivemos, a bordo dessa gôndola poética." Os personagens encenam juntos uma viagem à romântica cidade italiana com ruas de água para a velha cafetina cega vivida por Maura resolver os seus ressentimentos do passado, em busca de perdão do grande amor. A equipe do circo vizinho ao bordel ajuda na missão. Não é muito difícil adivinhar como será o pagamento da trupe pela montagem do espetáculo de sensações que perpassam a visão.
CARTA DE GRAMADO
Profissionais e entidades representativas do Audiovisual Brasileiro vêm se manifestar em apoio à manutenção e ao fortalecimento das políticas públicas para o desenvolvimento do setor.
Apoiamos a permanência e independência da Ancine, agência responsável pelas políticas públicas de fomento e regulamentação, cada vez mais ativa, livre e desburocratizada com foco no desenvolvimento de uma cinematografia forte, capaz de representar o Brasil em toda a sua diversidade.
Apoiamos o Fundo Setorial do Audiovisual, a sua vinculação à Ancine e a nomeação do Comitê Gestor. Seus recursos são gerados pelo próprio setor de forma autossustentável.
Apoiamos a Lei da TV Paga (12.485), pelo seu papel decisivo no crescimento do setor e por facilitar o acesso da população ao conteúdo nacional independente.
Reivindicamos a renovação da Cota de Tela cujo decreto para o ano de 2019 ainda não foi assinado pelo governo brasileiro.
Reivindicamos a renovação do Recine e da Lei do Audiovisual, antes da sua expiração em dezembro deste ano.
Apoiamos a regulação do VOD, que precisa estabelecer as bases deste novo mercado e integrar este segmento às políticas de estímulo à produção nacional.
Contestamos a Portaria 1.576, de 20 de agosto, que suspende os termos do Edital de Chamamento das TVs Públicas publicada ontem.
Repudiamos qualquer ataque e qualquer tipo de censura que atenta à liberdade de expressão e fere os preceitos constitucionais garantidos pelo Art. 5o da Constituição.
O audiovisual brasileiro vive o seu melhor momento, com reconhecido potencial cultural, artístico e econômico dentro e fora do país. A nossa cadeia produtiva é dinâmica e movimenta mais de 25 bilhões de reais por ano, representando 0,46% do PIB brasileiro, tem uma taxa de crescimento de 8,8% ao ano e é responsável por mais de 330 mil empregos.
Garantir um audiovisual fortalecido e livre é fundamental para a soberania nacional. Gramado, 22 de agosto de 2019.