Uma informação que os produtores de Cemitério maldito querem que o leitor saiba é que o filme, em cartaz, é uma adaptação direta do romance de Stephen King, publicado em 1983, e não um remake do longa de 1989. Outra coisa - que eles revelam apenas após uma certa insistência - é a opinião sobre o cultuado terror dirigido por Mary Lambert, com roteiro do próprio King e, claro, a canção Pet Sematary, que viraria um dos maiores sucessos dos Ramones.
"Não sei por que tanta gente adora o primeiro filme. O livro é tão melhor", relata o produtor Lorenzo di Bonaventura, um dos responsáveis pela versão moderna da aterrorizante história sobre o cemitério de bichinhos capaz de ressuscitar todos os seres ali enterrados (em especial gatos e crianças).
Se a missão de fazer uma adaptação à altura do romance foi bem-sucedida, é outra história. Em geral, as críticas norte-americanas se dividiram entre quem achou a releitura perturbadora e quem a considerou uma ruminação genérica da anterior. Nas redes sociais, o autor da obra deixou claro pertencer ao primeiro grupo ("É assustadora", escreveu King). De toda forma, o Cemitério maldito de 2019 traz um desfecho surpreendente até para os fãs mais obcecados.
"Stephen King é conhecido pelo terror, mas ele é, na verdade, muito sentimental. É um homem com coração grande, o que dá para ver até em obras como O iluminado. Não é o caso de Cemitério maldito", relata o codiretor Dennis Widmyer.
Para quem não se lembra, Cemitério maldito acompanha a família Creed, que se muda para uma área rural de Maine, nos Estados Unidos (onde se passam as histórias de King, em geral), em busca de uma vida tranquila. Quando o gatinho Church morre, o pai, Louis (Jason Clarke), o enterra no tal Pet Sematary, próximo à nova casa, por recomendação do vizinho Jud (John Lithgow), que conhece muito bem o poder mágico do terreno. No longa original, Jud foi interpretado por Fred Gwynne (1926-1993).
"Fred era meu amigo, e saber que ele fez o mesmo papel me inspirou", afirma Lithgow. "Éramos bem diferentes na vida real, e isso certamente se reflete na atuação. O Jud dele é, digamos, bem mais feliz que o meu. Quis criar um homem mais caladão e introspectivo."
No dia seguinte ao enterro, o bicho volta à vida - ou algo parecido. O ex-gatinho fofo agora é violento, fedido e despelado. Ou seja, enterrá-lo ali claramente não foi uma boa ideia. Mas adivinha só o que Louis faz quando sua filha Elile (Jeté Laurence), de 9 anos, é morta num terrível atropelamento de caminhão?
A partir daí, o filme não se acanha em criar situações macabras e violentas, culminando num desfecho calculado para fazer o espectador sair do cinema sentindo-se péssimo (Stephen King aprovou). Cemitério maldito trata, afinal, da incapacidade de lidarmos com a dor do luto.
"Meu Deus do céu, isso é completamente doente", exclama o ator Jason Clarke, como se tivesse parado para pensar na premissa pela primeira vez. "O cara vê a filha morta e quer brincar de Deus. É mais perturbador do que assustador. É horrível. Sei que é um filme de terror, mas para mim é sobre o que a gente é capaz de virar. Eu tento pensar nos meus filhos e imaginar o que eu faria. Não sei", confessa.
Os diretores também encaram o filme como um trabalho para além das convenções do gênero. Sem modéstia, Dennis Widmyer afirma: "os melhores filmes de terror foram feitos por cineastas que não consideravam estar fazendo um filme de terror. Kubrick nunca viu O iluminado (1980) dessa forma, assim como William Friedkin em relação a O exorcista (1973). São dramas domésticos sobre famílias em frangalhos. Essas são nossas influências", completa.