Espetáculo novo, inauguração da sede própria e um apanhado de apresentações de todas as peças do repertório. Assim serão as comemorações dos 10 anos de Grupo Cerco, que surgiu na década passada despretensiosamente, com uma adaptação para O sobrado, de Erico Verissimo - a montagem foi tão bem recebida que gerou uma sequência ao trabalho dos artistas.
Arena selvagem, a primeira das atividades que marcam o aniversário de uma década do grupo, já pode ser conferida pelo público a partir deste fim de semana. Com direção de Inês Marocco, a peça é livremente inspirada em textos de Carlos Carvalho, Franz Kafka, Carlos Drummond de Andrade e do grupo. A montagem fica em cartaz no Teatro de Arena (Borges de Medeiros, 835) de sexta-feira (13) a 5 de agosto; sextas e sábados, às 20h; e domingos, às 18h. A entrada é franca, com distribuição de senhas uma hora antes das apresentações.
"Eu comecei a me preocupar com isso: o grupo ser rotulado de só trabalhar com Erico Verissimo", afirma a diretora, em referência também a Incidente em Antares (2012), outra das peças do Cerco com base no trabalho do autor de O tempo e o vento. "Acho reducionista, e o grupo também pensa assim", ressalta.
Arena selvagem é, de certa maneira, uma reação a esse estigma. O espetáculo conta com oito atrizes e atores que se revezam em cena entre diversas personagens. São várias situações costuradas por links que ligam uma história a outra - e todas elas tratam da animalidade do ser humano. "No fundo somos todos animais, mas não queremos nos ver assim. Achamos que isso é pejorativo, que isso é nos tornar menor", destaca Inês, caracterizando a peça como uma colagem.
Os oito artistas que participam do projeto trabalham com o grupo desde o início das atividades, há 10 anos. A equipe original era composta por 14 integrantes e surgiu devido a uma encomenda do Instituto de Artes da Ufrgs, que comemorava 100 anos em 2008. Na época, O sobrado foi encenado pela primeira vez. "Achei que terminado o projeto, a gente ia se espalhar. O trabalho durou um ano e foi bastante desafiador, todos eram alunos na época", lembra a diretora, citando que a boa aceitação fez com que espetáculo começasse a ser vendido. No fim das contas, rendeu turnê e prêmios. O coletivo, então, teve que dar nome ao grupo.
Conforme Inês, a ideia de trabalhar com o mínimo de cenário e de objetos possíveis, valorizando ao máximo o trabalho corporal e físico dos atores, é o que marca as incursões realizadas até então. "É minimalista no sentido de ligar ao ator essa possibilidade de criação de poesia. Ele mesmo cria a poesia da cena. Para mim, se não tem ator, não tem nada", resume ela.
A sede própria, localizada no porão do departamento gaúcho do Instituto de Arquitetos do Brasil, deve ser um sonho realizado ainda neste semestre. O local vai servir para que os artistas guardem materiais como figurino e objetos cênicos, mas terá importância também para o desenvolvimento do grupo a longo prazo. O plano é que os atores possam realizar oficinas no espaço - gerando retorno financeiro, para que não seja necessário contar com aportes de editais o tempo todo. A nova peça, por exemplo, foi vencedora de um edital de ocupação do Teatro de Arena. "Fazer teatro sem ganhar nada, sem retorno financeiro, é muito difícil. Todos eles, os oito (atores do espetáculo), vivem disso", explica a diretora.
Caso as oficinas na sede se tornem frequentes, o local vai proporcionar uma possibilidade de autonomia para os artistas, auxiliando também na continuidade do grupo. A previsão é que a inauguração fique para depois da rotina relacionada à nova peça - já que os próprios integrantes do grupo são responsáveis pela reforma, salvo pequenas exceções.
Para o fim do ano, o planejamento inclui uma sequência de apresentações no Theatro São Pedro. O grupo irá encenar os quatro projetos do seu repertório: O sobrado, Incidente em Antares, Arena selvagem e Puli-pulá (2015). O último deles é um projeto infantojuvenil totalmente autoral, com presença de cinco atores e direção de Mirah Laline. "Será um ano bem festivo para nós", finaliza Inês.