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Prefeitura quer investimento da iniciativa privada em comunidades
Empresários visitaram vilas do bairro Mário Quintana, em Porto Alegre; Zaffari construirá praça
Saneamento, iluminação pública, áreas de lazer, centro de reciclagem e uma linha de ônibus direta até o Centro de Porto Alegre - essas são as principais demandas da Vila Recanto do Sabiá, no bairro Mário Quintana, relatadas pelo líder comunitário Paulo Monteiro ao prefeito Sebastião Melo (MDB) e empresários que visitaram o local na sexta-feira passada. A ação, chamada de Caravana Mais Comunidade, está prevista para acontecer mensalmente e é uma tentativa da prefeitura de sensibilizar a iniciativa privada para investir nas áreas da cidade mais carentes de infraestrutura e serviços.
É o caso do bairro Mário Quintana, no limite da Capital com Alvorada e Viamão, que cresceu em população no início da segunda metade do século XX em consequência do êxodo rural. Anos mais tarde, recebeu reassentamentos de vilas removidas do Centro. Tem uma população estimada em 38 mil habitantes, de acordo com dados de 2018 do ObservaPOA, mas o número deve ser maior, já que novas ocupações continuam surgindo na região.
As questões estruturais são as mais visíveis e certamente as mais urgentes. Em muitas ruas, o esgoto corre a céu aberto, a água não chega em todas as residências e falta calçamento - o pouco que existe é precário. Muitas das necessidades se acentuaram com a chegada no bairro das mais de mil famílias da antiga Vila Nazaré, removidas para a ampliação da pista do aeroporto, que hoje moram no Loteamento Irmãos Marista, ao lado do Recanto do Sabiá. "As famílias disputam a latinha para reciclar, o ônibus que já chega lotado, o posto de saúde é o mesmo", aponta o vereador Giovane Byl (PTB).
Mesmo assim, Melo não desviou do foco estabelecido de antemão para a visita, de engajar a iniciativa privada em ações pontuais. Em seu discurso à beira do Arroio Feijó, propôs que os empresários destinem as contrapartidas dos seus empreendimentos para a construção de equipamentos comunitários. Diferente da mitigação e da compensação, que são tentativas de reduzir o impacto gerado por uma obra, a contrapartida é uma forma de fazer com que o empresário retribua à sociedade o ganho que teve com a autorização para construir um projeto especial.
Nesse ensejo, o prefeito prometeu que será construída uma praça para o Recanto do Sabiá - isso depois de questionar Monteiro se estavam precisando e instigá-lo a "aproveitar a oportunidade de pedir aos empresários" a praça. Melo então disse que "o (Grupo) Zaffari tem um bom anúncio" e passou a palavra para o diretor de expansão da empresa, Cláudio Luiz Zaffari, que fazia parte da comitiva. "Das contrapartidas, é possível se fazer um destinamento para este local. Se é uma praça, então ok, vamos fazer", disse o empresário.
O terreno onde será construída a área de lazer foi a parada seguinte da caminhada pela vila. A água da chuva que caiu nos dias anteriores ainda restava em muitas poças e fazia o campo parecer um banhado. Com o lugar já definido, Cláudio Zaffari disse que será parceiro da prefeitura para buscar recursos com a iniciativa privada - à coluna, explicou que os projetos em andamento pelo Grupo Zaffari já estão com as contrapartidas definidas.
Os empresários também visitaram a comunidade João Goulart, área recentemente regularizada com esforço dos moradores, que se organizaram em cooperativa para adquirir os terrenos. Mas, das 120 famílias no local, somente 70 estão em área considerada segura, explica Paulo Ricardo Rosa da Rosa, vice-presidente da Cooperativa Habitacional Quintanas. É preciso realocar 50 famílias que vivem em área de risco, o que não tem o perfil de demanda a ser atendida como contrapartida. Outros pedidos da comunidade devem ser priorizados com o modelo de parceria proposto por Melo, como a instalação de um centro comunitário em terreno da prefeitura. No entanto, as obras estruturais seguem sendo de responsabilidade do poder público.
Sindicato de Hospedagem e Alimentação dará qualificação a jovens do bairro
Outra ação tirada da visita de empresários ao bairro Mário Quintana é a aproximação do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e região (Sindha) com as lideranças comunitárias. Como já tem um centro de formação de profissionais para atuar nesses setores, a ideia é entender as demandas de quem vive nas áreas periféricas da cidade e desenvolver um trabalho de formação específico, de acordo com as necessidades.
"Hoje o nosso setor é o líder quando se fala em primeiro emprego, em especial dos jovens. Precisamos formar essas pessoas. O prefeito nos convidou para vir aqui e enxergar a realidade de perto para ver de que maneira o nosso sindicato pode ajudar", comenta Sandro Zanette, vice-presidente da entidade. "A gente tem que entender porque o cara não quer um emprego de carteira assinada, com férias e 13º mas tem que pegar três ônibus, se pode ficar aqui trabalhando de maneira irregular com outras atividades", pondera.