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Gestão dos resíduos gera impasse em Santa Cruz do Sul
Prefeitura quer terceirizar serviço; cooperativa reivindica participação
Em Santa Cruz do Sul, 15 dos 36 bairros são atendidos pela coleta seletiva dos resíduos (lixo) realizada há quase 10 anos pela Cooperativa de Catadores e Recicladores do município, a Coomcat. Para ampliar o atendimento, a prefeitura pretende conceder a gestão dos resíduos para a iniciativa privada nos demais 21 bairros, onde hoje a coleta é convencional. O edital da licitação deve ser lançado nas próximas semanas. A decisão, no entanto, gerou um impasse entre o poder público e a cooperativa, que quer atender a nova demanda.
"Essa proposta foi construída pelo governo a portas fechadas. Nós estranhamos, pois toda a política até então era coletiva", critica Uiliam Mendes, coordenador da Coomcat. A reivindicação da categoria é expandir para o restante da cidade a coleta seletiva solidária, modelo em que os próprios catadores da cooperativa são responsáveis por recolher o resíduo. Eles também realizam ações de educação ambiental na área atendida, orientando a população sobre a separação correta e os dias de descarte.
Hoje a Coomcat recebe um repasse mensal de R$ 110 mil da prefeitura de Santa Cruz do Sul referente ao serviço de coleta e gestão da usina municipal (unidade de triagem). Pelo plano do poder público, a usina será desativada, permanecendo o galpão utilizado pelos catadores da cooperativa. Uma nova estrutura terá que ser construída por quem levar a licitação.
Uma proposta de recuperação do atual espaço e ampliação do serviço foi apresentada pela cooperativa, mas a prefeitura avaliou que não é suficiente para dar conta da nova demanda. Conforme o secretário de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Jaques Eisenberger, o município considera baixo o percentual de reciclagem obtido pela cooperativa - 10,27% em 2021. "Não tem como aumentar o repasse para ampliar a coleta, (a cooperativa) teria que aumentar (o percentual) para poder pleitear", afirma.
O dado informado é calculado em relação ao total dos resíduos coletados no município, o que inclui rejeito e orgânico. Conforme a cooperativa, o material com potencial para reciclagem é de 27%, o que eleva a reciclagem efetiva para mais de um terço do total. Como comparação, em 2020 Porto Alegre alcançava 3,7% de reciclagem dentre todo o material recolhido na cidade a serviço do poder público, informou à época o DMLU. Eisenberg conhece a realidade da Capital e diz que esse não é o exemplo seguido pela cidade, que busca excelência na gestão ambiental, o que inclui a destinação correta dos resíduos e a busca por aumentar o índice de reciclagem.
Ainda conforme o poder público, a abertura da coleta para o mercado não vai representar um prejuízo à Coomcat, que seguirá com o serviço já prestado e receberá o resíduo reciclável coletado nos outros bairros. Isso aumentará a quantidade de material triado, que depois será vendido. Para Uiliam, esse pensamento representa um retrocesso: "os catadores não querem voltar à época anterior à Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Nº 12.305/2010), em que a sobrevivência vinha somente da catação e comercialização dos recicláveis". O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público Estadual.