Ufrgs é destaque em prêmio internacional de arquitetura

Propostas de estudantes para intervenções urbanas são reconhecidas

Por

Transformar o Viaduto dos Açorianos em um parque linear e produzir alimentos em uma fazenda vertical no 4º Distrito são propostas apresentadas em dois trabalhos de conclusão de curso (TCC) na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A intervenção urbana, nos dois casos em Porto Alegre, parte de estruturas já existentes - viaduto e uma antiga fábrica - para imaginar novos usos que dialogam melhor com as pessoas e com o restante do espaço construído. Desenvolvidos por Ana Clara Lacerda Menuzzi e Yasmin Feijó Jaskulski, os trabalhos foram reconhecidos pelo ArchDaily, um dos principais portais de arquitetura do mundo, entre as 25 melhores produções acadêmicas em países de língua portuguesa em 2021.
 

Um olhar para as mulheres em viadutos de Porto Alegre

"Pensar a cidade para as mulheres não é pensar exclusivamente para as mulheres, abarca várias necessidades."

 
Da experiência como pedestre à constatação que a insegurança em espaços públicos é mais sentida por mulheres, Ana Clara Lacerda Menuzzi percorreu um caminho que relacionou mobilidade, apropriação dos espaços públicos e urbanismo feminista. Ela mapeou 26 viadutos, 11 corredores e 13 faixas exclusivas para ônibus em Porto Alegre para criar um plano de qualificação. No levantamento, identificou situações recorrentes que geram dificuldade de locomoção, como a falta de espaço para pedestres e ciclistas, e insegurança, como pouca ou nenhuma iluminação. O trabalho foi orientado pela professora Clarice de Oliveira.
Esses dados, junto com questionários e observação a partir de caminhadas em grupo levaram Ana Clara a constatar a demanda por um planejamento que considere as necessidades das mulheres. "O debate público sobre insegurança é focado na patrimonial. Para as mulheres, a principal preocupação é a violação do corpo". Além disso, é mais comum que o deslocamento das mulheres seja feito mais a pé ou com transporte coletivo.
Ao cruzar os problemas de mobilidade identificados com as referências bibliográficas de estudo sobre o urbanismo feminista, surgiu uma proposta de intervenção. Ana Clara escolheu o Viaduto dos Açorianos, no Centro, que já passou por revitalização parcial. Na época do estudo, o viaduto estava fechado para manutenção. "Propus que continuasse fechado, já que trânsito estava adaptado. A parte de cima seria um parque linear, com elemento de conexão entre a praça (Isabel A Católica) e a área reformada do Açorianos".

 

Proposta de novo sistema produtivo para o antigo distrito industrial

"Pessoas de toda a cidade poderiam desfrutar dos espaços abertos; ao se sentirem parte do espaço, prezam por ele."

A ideia de desenvolver um projeto arquitetônico pensando num futuro mais sustentável e inclusivo instigou Yasmin Feijó Jaskulski a olhar para a região de Porto Alegre conhecida como 4º Distrito, parte importante da história da cidade, mas que tem edificações subutilizadas - muitas com potencial de reuso. Ela buscou entender a realidade local e relacionar uma nova proposta com o entorno e as necessidades da cidade. Surgiu assim um projeto que alia técnica de agricultura urbana, sistema de educação vinculado a essa produção de alimentos e um espaço para a reintegração social para pessoas em situação de rua. O trabalho foi orientado pelas professoras Eugenia Aumond Kuhn e Geisa Zanini Rorato.
O terreno escolhido para a intervenção é da antiga Fábrica de Fogões Wallig, com ruínas dos galpões, fachadas de 1921 e acesso pelas ruas Câncio Gomes e Almirante Barroso. Yasmin propõe adotar a modalidade de fazenda urbana vertical como "uma estratégia para o abastecimento urbano, reduzindo custos com transporte, melhorando o microclima e reduzindo áreas de desmatamento para a produção de alimentos". Relacionado a esse uso, somam-se outros dois: uma república, com a proposta de servir como moradia temporária para pessoas em situação de rua, e o restaurante-escola. Moradores poderiam trabalhar na fazenda ou participar de cursos de capacitação. O projeto prevê uso do espaço pelo público, como áreas abertas, lojas, centro de reciclagem e compostagem.
O 4º Distrito receberá o próximo plano de intervenção do poder público, a exemplo do já aprovado para o Centro. Yasmin entende que é preciso ter consideração com a história dos bairros e a população que já mora no local.