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- Publicada em 24 de Dezembro de 2021 às 13:57

Melo aposta em 'fatiar' Plano Diretor da Capital

Prefeito Sebastião Melo em apresentação da proposta para investimentos no Centro Histórico

Prefeito Sebastião Melo em apresentação da proposta para investimentos no Centro Histórico


MARIANA ALVES/JC
A expectativa de retomar a revisão do Plano Diretor de Porto Alegre não foi atendida em 2021, mesmo assim a pauta urbana esteve presente no primeiro ano do governo Sebastião Melo (MDB) à frente da prefeitura. Em diversas declarações nos últimos 12 meses, Melo deu o tom do que espera para o planejamento urbano na Capital: prédios mais altos, desregulamentação e definição das regras para a construção por regiões.
A expectativa de retomar a revisão do Plano Diretor de Porto Alegre não foi atendida em 2021, mesmo assim a pauta urbana esteve presente no primeiro ano do governo Sebastião Melo (MDB) à frente da prefeitura. Em diversas declarações nos últimos 12 meses, Melo deu o tom do que espera para o planejamento urbano na Capital: prédios mais altos, desregulamentação e definição das regras para a construção por regiões.
"Existem muitas cidades dentro da cidade" disse Melo a empresários em outubro. Ele trata isso como "vários Planos Diretores" ou "fatiamento", modelo que inaugurou com o projeto que muda as regras para investimentos da construção civil no Centro Histórico - aprovado em novembro e que ainda depende de sanção. Os parâmetros (incentivos urbanísticos, como desconto ou isenção de pagamento por solo criado) serão replicados em outras áreas da cidade, e uma proposta semelhante já foi apresentada para o 4º Distrito.
No entanto, a ideia de dividir o planejamento e definir regras para construção por partes não existe no ordenamento jurídico brasileiro. O Estatuto da Cidade, lei que orienta o planejamento urbano no Brasil, define que "o Plano Diretor deverá englobar o território do Município como um todo". Para sustentar a opção da prefeitura, Melo e a equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade falam em planos setoriais, se valendo de definições previstas no Plano Diretor de Porto Alegre, como as áreas de revitalização e os projetos especiais.
Outro assunto recorrente no discurso do chefe do Executivo é a crítica à "cidade espalhada", que ele aponta como um problema por obrigar o poder público a levar infraestrutura para lugares afastados do Centro. Para combater isso, defende o adensamento das áreas centrais com prédios mais altos, embora seja consenso entre especialistas que essa relação não é direta.
A ideia do prefeito não é criar um novo limite de altura, e sim acabar com ele. Em reunião aberta com vereadores em dezembro, chamou de "mediocridade" o que classificou como "redução" da discussão do Plano Diretor à definição da altura de novas edificações. Ele quer que essa decisão seja caso a caso, como conseguiu aprovar para o Centro: "se dependesse da minha opinião, o Plano Diretor não tinha que ter (definição de) altura. O Estudo de Viabilidade Urbanística é que tem que dizer 'ali cabem dois andares, ali cabem 10, ali cabem 30, ali cabem 100 ou 200 metros'".
Esses são posicionamentos que agradam o mercado da construção civil, ao mesmo tempo que preocupam entidades ligadas ao planejamento urbano. Mesmo com a revisão do Plano Diretor parada em 2020 e 2021 por causa da pandemia, alterações seguem acontecendo pontualmente, com a participação muitas vezes restrita ao ambiente virtual. Esse é um dos pontos na mira de investigação do Ministério Público Estadual, assim como a ideia de fatiar o planejamento.
Sebastião Melo conhece o terreno e o tamanho do desafio que está enfrentando - vale lembrar que ele presidiu a Câmara Municipal em 2008 e 2009, quando tramitou a primeira revisão da lei que instituiu em Porto Alegre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA). A escolha de fazer alterações por partes pode ser entendida como a forma que o prefeito encontrou para garantir protagonismo no planejamento da cidade no seu mandato à frente do Paço Municipal.

Paralelas

Protagonismo

A articulação com o Legislativo a cada novo projeto apresentado e a ampla base que formou na Câmara garantiram ao prefeito Sebastião Melo facilidade para aprovar as propostas do governo colocadas em votação no ano que se encerra. A mudança no Plano Diretor para o Centro, por exemplo, foi aprovada em menos de quatro horas de sessão, com 26 votos favoráveis e 10 contrários. A resistência vem somente da oposição e parece não preocupar. Com isso, o Executivo tomou para si o protagonismo na pauta urbana, que no passado já foi compartilhado com a Câmara.

Pauta urbana em 2022

O primeiro tema urbano de Porto Alegre a ser debatido na Câmara Municipal em 2022 deve ser a mudança na área do estádio Beira-Rio para permitir a construção de duas torres. Também tramita um projeto da prefeitura com nova alteração na lei do Solo Criado. Na sequência, a expectativa é avançar com a proposta que cria um programa de incentivos para investimentos no 4º Distrito.

Revisão do Plano Diretor

Sem anunciar data de início, a prefeitura apresentou novamente, na semana passada, as cinco etapas que integram a revisão do Plano Diretor. Assim que retomado, o processo será realizado ao longo de 20 meses. A projeção é enviar para a Câmara em 2023.