Em menos de um dia, entrou e saiu da pauta na Câmara Municipal de Porto Alegre, sem ser votado, o projeto de lei que muda a característica do terreno onde está o estádio Beira-Rio. O objetivo com isso é conseguir autorização para construir e vender duas torres, para uso residencial e comercial. O PL 04/2019, enviado ainda na gestão passada e recuperado pelo prefeito Sebastião Melo (MDB), altera duas leis anteriores: uma de 1956, quando a área foi doada ao Sport Club Internacional, e outra de 2004, para tirar o clube da área de interesse institucional do Plano Diretor.
Previsto para ser votado na manhã desta quarta-feira (22), a pauta encontrou resistência dentro e fora do plenário. O líder da oposição, vereador Pedro Ruas (PSOL) disse não ter sido consultado sobre a inclusão do projeto na ordem do dia. Primeiro item da pauta de votação, a retirada aconteceu antes mesmo de iniciar a discussão, a pedido do vereador Idenir Cecchin (MDB), líder do governo Melo. Segundo ele, atendendo a um pedido do prefeito para garantir mais tempo de debate. Embora conte com ampla base para aprovar as propostas do Executivo, o governo deve enfrentar maior resistência com essa pauta.
A polêmica está na construção de torres à beira do Guaíba - pela proposta, uma terá mais de 130 metros de altura e a outra 80 metros. Também está no centro do debate a venda de parte do terreno que o Internacional recebeu como doação para uso com fins desportivos. Se conseguir levar adiante a construção dos prédios, essa área será vendida e terá unidades comerciais e residenciais.
Contrariedade à proposta mobilizou comunidade
Nas galerias da Câmara Municipal, o tom era de contrariedade ao projeto que muda o que pode ser construído no terreno do Beira-Rio: “O gigante é da torcida - não às torres” dizia uma faixa carregada por torcedores do Internacional. Também se manifestaram contra representantes de escolas de samba e moradores do Quilombo Lemos, vizinho ao clube.
"Vai impactar todo o território. Nos deixa com sentimento de impotência e incerteza", declara Sandro Lemos, liderança do Quilombo Lemos, que fica em terreno próximo ao estádio. Segundo ele, não houve abertura para o diálogo com os dirigentes do clube e a proposta de uma "revitalização" daquela área gera preocupação sobre a permanência da comunidade no local. Para os torcedores, falta transparência sobre o impacto que o empreendimento poderá gerar, seja ambiental, urbanístico, mas também em relação à rotina do estádio.