Uma das construções mais polêmicas de Porto Alegre, com defensores convictos e críticos veementes, o muro que separa o Cais Mauá da avenida Mauá está de volta ao debate.
No primeiro dia do mês de julho, a prefeitura formalizou a
parceria com o consórcio Sinergy/HMídia, que adotou o muro por dois anos e vai repaginar a estrutura de concreto. Solução para melhorar a aparência, mas que é tratada como temporária, já que a intenção de muitos integrantes do governo é derrubar o muro.
A ideia encontrou eco nos estudos de outro consórcio, o Revitaliza, contratado via BNDES pelo governo do Estado para definir o melhor uso para aquele trecho da área portuária da Capital - em 2022 será lançado edital para concessão. Os arquitetos do consórcio defendem a
adoção de um sistema móvel para contenção de cheias, à beira do Guaíba, protegendo assim a cidade, os armazéns e qualquer nova construção que se faça lá. O muro seria retirado, já que perderia sua função.
Tecnicamente, o
muro da Mauá integra um sistema maior de proteção contra inundações, motivo pelo qual não pode ser simplesmente retirado - deve ser ou substituído, ou mantido. Quem sustenta essa posição é Valery Pugatch, diretor do Sindicato dos Engenheiros (Senge) e presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba.
“O muro foi construído onde está porque, na época, o Cais Mauá operava como cais”, explica Pugatch. É o motivo que diferencia esse trecho de 2,6 km do sistema maior, de 68 km, que se estende desde o limite da cidade com Cachoeirinha e segue até o bairro Assunção, na Zona Sul. Em todos os demais trechos os diques são formados pelas próprias avenidas: Freeway, Castelo Branco, João Goulart, Beira Rio e Diário de Notícias.
O Senge ainda não tomou conhecimento da proposta que quer derrubar o muro, mas Pugatch adianta que “qualquer solução apresentada que mantenha o sistema de proteção como um todo é bem-vinda”. No entanto, faz duas ponderações. A primeira é se mantenha a parte “enterrada” do muro: são 3 metros de fundação, o que garante a estabilidade dos 3 metros visíveis, além de evitar a percolação de água (que, em caso de cheia, poderia encharcar o solo).
A outra ponderação é paisagística: mais de 1 km do muro está ladeado pela estrutura do Trensurb; e o trecho que resta não garante uma vista direta para o lago, já que parte da extensão é ocupada pelos armazéns do cais.
Mas, diferente da parede de concreto que separa o Centro de Porto Alegre do Guaíba, os antigos galpões de armazenamento não são estanques e permitem interação do público com a estrutura. Agora sem condição de uso por falta de manutenção, a prometida revitalização fará daquela área um lugar a ser ocupado pela população. Melhor ainda se não tiver barreira física para esse acesso.