Cidade de 15 minutos é proposta pós-pandemia

Novas centralidades reduzem deslocamentos ao unir moradia e serviços

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Conceito inclui o tempo máximo para ir de casa até o trabalho
Um conceito urbanístico que começou a ser debatido no início deste ano, antes da Covid-19 se tornar uma preocupação mundial, ganhou força ao longo de 2020 e parece fazer ainda mais sentido para a vida nas cidades pós-pandemia. É a proposta da cidade de 15 minutos, teorizada pelo urbanista Carlos Moreno e aposta da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, na sua campanha à reeleição no início do ano.
O conceito sugere que 15 minutos seja o tempo máximo de deslocamento de uma pessoa de casa até o trabalho ou a serviços básicos do dia a dia, como saúde, educação, cultura e lazer, usando locomoção ativa (ou seja, não motorizada) - caminhada ou bicicleta, por exemplo. A viabilidade desse modelo se daria com a criação de novas centralidades em áreas urbanas já existentes, a partir do estímulo ao uso misto de atividades.
O ganho para as pessoas, projeta o urbanista, é o melhor aproveitamento do tempo e menor geração de tráfego com a redução dos deslocamentos. Como consequência, a redução na emissão de poluentes a longo prazo é um caminho para conter o aquecimento global.
A proposta de Moreno se diferencia de teorias anteriores, como o urbanismo moderno do início do século XX, marcado pelo zoneamento da cidade por funções e que separava as pessoas das suas necessidades cotidianas. Esse é o modelo que influenciou a formação de muitas cidades e marcou o processo de urbanização do Brasil.
Em vídeo gravado para a plataforma TED em outubro, Moreno explica que o propósito do novo conceito é "garantir que todas as pessoas, as que moram no centro e as que moram nas periferias, tenham acesso aos principais serviços nas proximidades". Ele explica que em Paris o poder público local estimula a descentralização com a criação de novos serviços para diferentes áreas da cidade, instalação de mais ciclovias e incentivo ao comércio local.
A ideia de desenvolver novas centralidades urbanas pautou algumas propostas eleitorais em Porto Alegre e deve ser retomada na revisão do Plano Diretor da Capital. Além do poder público, ações da iniciativa privada podem estimular esse movimento.

Projeto quer incorporar serviços ao bairro Três Figueiras

O conceito da cidade de 15 minutos está na concepção do Magno, o primeiro residencial sênior de alto padrão do Brasil que será instalado no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre. Quem explica o é Eduardo Fonseca - CEO da ABF Developments, incorporadora do empreendimento.
O terreno abriga uma das árvores que dá nome ao bairro e, para seguir a característica arquitetônica da vizinhança (que é de baixa altura), os 114 apartamentos e as áreas de atendimento e convívio serão distribuídos em cinco andares. Diferente do que é imaginado para residenciais voltados à terceira idade, distante das áreas urbanas, a proposta do Magno é aproximar o projeto - e os residentes - da vida no bairro. "Terá um café aberto ao público, faz parte da ideia de convívio intergeracional. Qualquer pessoa poderá acessar", exemplifica Fonseca. Ou seja, o espaço de convívio atenderá a uma demanda do bairro e servirá como estímulo à socialização.

Novo bairro em Guaíba tem acesso a serviços da cidade

Em Guaíba, a proposta para aproximar moradia e serviços surge com um bairro criado do zero na região central. O Altos da Figueira já tem um hotel Ibis e um edifício residencial com lojas comerciais. Também no local ficará o condomínio residencial Reserva das Figueiras, que está concluindo a primeira de quatro fases de venda dos lotes.
Diretor da incorporadora Pinenge, responsável pelo projeto do bairro e do condomínio, o engenheiro Marcos Pinheiro chama a atenção para a proximidade com "a cidade que já existe". O destaque é importante, pois diferencia esse empreendimento do que é comum a bairros planejados, que geralmente se instalam em regiões afastadas, onde existe a oferta de amplos terrenos, mas geralmente desabastecidos de infraestrutura básica.
Pinheiro conta que preservar a vegetação que forma um cinturão verde no entorno do empreendimento, embora reduza a área de implantação dos lotes, foi uma aposta na qualidade do projeto. A orientação para construir nos limites do condomínio, que prevê ocupação de até 50% da área do lote, também tem esse propósito. Assim, responde a outra demanda da pandemia, além da proximidade com serviços: a busca por espaços privativos maiores, que privilegiam o convívio familiar e a necessidade de home office.

As figueiras

Comum aos dois empreendimentos são as figueiras, árvores de copa larga e comum em regiões de clima subtropical, caso do Rio Grande do Sul. Estudo do urbanista Jorge Piqué para a ABF indica que as espécies que dão nome ao bairro Três Figueiras foram avaliadas com 300 anos de idade quando da formação do bairro, no início do século XX. Em Guaíba, uma figueira centenária ao lado da casa que serviu como hospital de campanha durante a Guerra dos Farrapos está incorporada ao empreendimento.