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- Publicada em 03 de Novembro de 2020 às 21:27

Podas de árvores em Porto Alegre: entidades cobram transparência

Árvore de espécie nativa tem mais de 25 metros de altura

Árvore de espécie nativa tem mais de 25 metros de altura


JOYCE ROCHA/JC
A recente tentativa de corte de uma árvore no bairro Moinhos de Vento foi o ponto emblemático de protestos e críticas recentes à remoção e à poda de árvores em Porto Alegre. Um ato impediu o corte de um guapuruvu, na rua 24 de Outubro há 10 dias. Em outubro, podas em ruas do Centro Histórico também foram alvo de críticas.
A recente tentativa de corte de uma árvore no bairro Moinhos de Vento foi o ponto emblemático de protestos e críticas recentes à remoção e à poda de árvores em Porto Alegre. Um ato impediu o corte de um guapuruvu, na rua 24 de Outubro há 10 dias. Em outubro, podas em ruas do Centro Histórico também foram alvo de críticas.
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Caso do guapuruvu do Moinhos desencadeou debate sobre gestão ambiental. Foto Jéssica Alvarenga/Divulgação/JC
Na esteira de mobilizações em diferentes áreas da cidade, foi entregue ontem ao Ministério Público Estadual e à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams) um documento, assinado por 47 entidades da sociedade civil - ONGs ecológicas, sindicatos e associações comunitárias - que pedem transparência na gestão ambiental na Capital. "A população não quer simplesmente saber a quantidade de árvores podadas, suprimidas e a velocidade com que esses serviços foram realizados", diz o texto.
Professor do Instituto de Biociências da Ufrgs e um dos coordenadores do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá), Paulo Brack pede informação sobre árvores a serem suprimidas ou podadas. Ele lembra que, com a reforma administrativa no início da atual gestão municipal, o trabalho de poda que era de competência do órgão ambiental passou para a Secretaria de Serviços Urbanos, o que teria prejudicado o monitoramento por biólogos. A prefeitura garante todas as podas e cortes de árvores são feitos com laudo e responsáveis técnicos.
"Não se tem mais o cuidado em tentar, se tiver um galho podre, podar o galho ao invés de cortar toda a árvore", aponta Brack. Esse é o caso do guapuruvu do Moinhos de Vento, árvore cuja a queda de um galho em 2019 atingiu um carro que passava pela 24 de Outubro. "Reconhecemos que ficou cicatriz do galho que caiu, mas entre isso e decidir o corte de uma árvore belíssima", pondera o professor, que pede análise criteriosa, sob o risco de a cidade perder árvores saudáveis.
No caso das podas no Centro, a prefeitura justifica que intensificou podas nos últimos meses para aproveitar a menor quantidade de pessoas circulando, atendendo solicitação de moradores e realizando cortes após análise técnica. Mas há reclamações de cortes "desnecessários".
Desde julho de 2018, a Capital conta com uma empresa terceirizada para realizar esses serviços, aumentando a média mensal de intervenções de 500 para quase 2 mil. No caso do guapuruvu do Moinhos, por estar em área privada, um laudo particular orientou a supressão da árvore, com autorização da Smams e execução de empresa particular. A árvore de espécie nativa tem mais de 25 metros de altura. O grupo que impediu o corte questiona a empresa que realizava o serviço por não cumprir requisitos previstos em lei, como placa informativa e porte do documento de autorização. "A prefeitura poderia dar acesso a laudos e um prazo para manifestação (em relação ao corte). Se soubéssemos antes, talvez evitaria esse desgaste e certo confronto", pondera Brack.
Entidades pedem "o resgate, a aplicação e o respeito ao Plano Diretor de Arborização Urbana de Porto Alegre" - elaborado nos anos 2000. O texto orienta métodos para preservação, manejo e expansão das árvores na cidade. Na mesma linha, o Ingá defende que a Smams coordene a arborização e pede "uma auditoria quanto a podas e supressões indiscriminadas e sem responsabilidade técnica".

Raio-X dos investimentos

O investimento em gestão ambiental em Porto Alegre foi de R$ 8,2 milhões em 2019, o que corresponde a 0,14% do orçamento municipal. O dado consta na Declaração de Contas Anual feita pela prefeitura ao Tesouro Nacional. Em 2018 o investimento foi de R$ 3,5 milhões ou 0,06% do orçamento. A informação foi obtida na ferramenta Raio-X dos Municípios, desenvolvida pelo Insper a partir de bases de dados públicas.

Histórico de mobilização pela causa ambiental

A iniciativa que impediu o corte do guapuruvu é mais um capítulo da história do movimento ambientalista em Porto Alegre. A campanha contra a poda indiscriminada de árvores foi uma das primeiras da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), em 1971, liderada por José Lutzenberger. Outra ação que está no imaginário porto-alegrense foi a do estudante Carlos Dayrell, que em 1975, subiu em uma árvore tiipuana em frente a faculdade de Direito da Ufrgs, para evitar o corte. Mais recentemente, em 2013, jovens tentaram impedir o corte de árvores para o alargamento de vias próximo da Usina do Gasômetro, porém, não obtiveram sucesso.
 

Agapan lança selo e campanha pelos 50 anos

Em comemoração aos 50 anos que irá completar em abril de 2021, a Agapan lançou o selo que estampará as peças de comunicação e produtos da entidade, desenvolvido com apoio da agência Veraz Comunicação. Em dezembro entra no ar o novo site da entidade. Mantida por trabalho voluntário, a Agapan está com uma campanha colaborativa para arrecadar recursos para produção de materiais comemorativos aos 50 anos. Para ajudar, basta acessar http://vaka.me/1399652.