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Opinião Econômica

- Publicada em 03 de Fevereiro de 2022 às 22:03

Tecnologia, trabalho e crescimento

Cecilia Machado
Economista, professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV
Economista, professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV
Trabalhadores nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática -CTEM em português, STEM em inglês- contribuem para a criação e a difusão de novas ideias e processos produtivos.
Mesmo quando não participam diretamente da geração de pesquisas ou do desenvolvimento de produtos, estão envolvidos na adoção de inovação tecnológica em seus ambientes de trabalho, ampliando as perspectivas de crescimento de longo prazo da economia.
Nos países desenvolvidos, políticas de subsídios educacionais e imigratórias estão sendo direcionadas para esse importante setor, que vem se tornando cada vez mais estratégico, a exemplo do que se vê nos EUA.
Na economia americana, são cerca de 10 milhões empregos STEM em 2019, ou seja, quase 7% da força de trabalho desempenha funções nessa área (US Census Bureau). O número preciso de trabalhadores STEM está sujeito a alguma arbitrariedade de classificação, podendo alcançar até 30 milhões empregos, quando se considera definição mais ampla que inclui funções correlatas ou mesmo atividades realizadas por trabalhadores sem diploma universitário.
Independentemente da métrica, o aumento da relevância do trabalho STEM é inequívoco. Para a próxima década, a projeção de crescimento para empregos no setor STEM é 40% maior em comparação ao setor não STEM (Bureau of Labor Statistics, BLS).
Espera-se um crescimento maior em computação, nas funções de analistas de segurança da informação, de desenvolvedores de softwares e de pesquisadores em computação e informação. O crescimento da economia digital, acelerado pela internet das coisas, coloca cada vez mais valor no uso e na análise da enorme quantidade de dados que vem se tornando disponíveis, assim como na segurança e na proteção dessas informações. Fica claro que por trás do aumento observado no emprego STEM está a maior demanda por esse tipo de trabalho, e o salário de trabalhadores STEM é mais do que o dobro das demais ocupações (BLS).
E no Brasil, o que se pode dizer do setor STEM? Em estudo que realizei em parceria com Rachter, Schanaider e Stussi, estabelecemos uma classificação das ocupações STEM em diferentes bases de dados considerando códigos das ocupações brasileira.
Empregando-a nos dados da PnadC, calculamos que 1,5 milhão de trabalhadores estão ocupados no setor STEM em 2019. Comparado aos Estados Unidos, o tamanho do setor é menor não apenas em números absolutos como em proporção da população ocupada: 2% dos empregos são STEM.
Ainda que pareça haver espaço para o crescimento do setor em perspectiva comparada, a composição das atividades, e como estes trabalhadores serão absorvidos na economia, irão ditar o quão relevante o setor STEM se tornará no Brasil. A alta remuneração desses trabalhadores no Brasil -com salários quase 2,5 vezes maiores que os demais trabalhadores- é indicativo de que aqui também há demanda para esses profissionais.
Além disso, a formação em STEM está associada à enorme resiliência de emprego em períodos de recessão, um atrativo adicional para essas ocupações. Durante a pandemia, trabalhadores STEM foram pouco impactados, e, no último ano, o emprego nesses setores cresceu de forma expressiva tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Dados da PnadC mostram que, enquanto o emprego em setores não STEM ainda não se recuperou, o emprego em setores STEM cresceu 18% no mesmo período.
A análise dos dados americanos indica que a resiliência de empregos STEM não está associada a características particulares da recessão pandêmica, como a que favorece o trabalho remoto. Ao contrário, os resultados refletem a importância de um conjunto de conhecimentos, habilidades e aprendizagem na formação em STEM, que torna esses trabalhadores adaptáveis às mudanças no mercado de trabalho.
Em uma economia fadada a enfrentar ciclos e recessões econômicas, como a brasileira, o investimento em STEM não parece má ideia. Resta ver como a oferta de cursos em ciências e tecnologia será capaz de se adaptar ao dinamismo da economia digital, atraindo e preparando nossos jovens para as profissões do futuro.
 
Cecilia Machado
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