Concluí a coluna "
Reduza o custo de investir" (18/3) informando que o único produto isento de custo, literalmente grátis, é a poupança. A frase criou uma certa expectativa de que, então, a poupança é uma boa opção de investimento, a despeito da imensa torcida contrária.
O fato de a poupança ser isenta de custo - e de Imposto de Renda - não a transforma, automaticamente, na melhor opção de investimento. Mas asseguro que também não é a pior.
O que leva milhões de brasileiros a escolher a poupança não é, isoladamente, a rentabilidade. Aliás, acho que é o que menos importa. TR?! Quem sabe o que é a TR? Quanto foi a TR em 2017 e 2018, por exemplo? Esse indicador, ilustre desconhecido até de muitos profissionais que trabalham no mercado financeiro, não ajuda em nada a compreensão da rentabilidade.
A poupança nova (depósitos a partir de 4 de maio de 2012) remunera 70% da taxa Selic, enquanto a maioria das aplicações de renda fixa paga percentual do CDI. Será que o investidor conhece essas duas taxas e entende a diferença entre elas? Atrevo-me a dizer que não.
E ainda tem a poupança antiga (depósitos feitos até 3 de maio de 2012), que continua pagando taxa prefixada de 0,5% ao mês sempre que a Selic for igual ou superior a 8,5% ao ano.
Se pensarmos bem, a rentabilidade da poupança é muito confusa, não ajuda em nada, pelo contrário, atrapalha.
Então por que a poupança atrai tantas pessoas? Entendo que o que move o investidor em direção à poupança é a simplicidade da aplicação. Ele deposita o dinheiro e pronto, começa a render. Quando precisa do dinheiro, é só sacar.
Ele faz tudo sozinho, não precisa falar com ninguém, gerente da conta, assessor de investimento, agente autônomo, vendedor, consultor, um monte de gente que fala difícil, que vai oferecer produtos que ele não conhece e pode acabar comprando o que não quer e não precisa.
Negociar uma cotação melhor para seu depósito a prazo ou reduzir o custo de investir não está no seu radar. Ele nem sabe que pode, deve achar que é tudo igual e que todos ganham o mesmo, como na poupança.
E não estou falando apenas de investidores com pouco dinheiro para investir. Estou falando da grande maioria das pessoas que querem apenas guardar dinheiro, em um lugar seguro, sem risco de perder, de sacar menos do que aplicou.
Vamos voltar ao exemplo do artigo anterior e comparar o capital acumulado em 20 anos de quatro aplicações: poupança nova e antiga (isentas de custo e de IR), Tesouro Selic (custo de 0,25% ao ano) e fundos de investimento ou planos de previdência (taxa de administração de 2% ao ano).
A simulação considera estáveis a taxa Selic (6,50% ao ano) e o CDI (6,40% ao ano), aplicação mensal de R$ 500,00 a 100% da taxa de referência e alíquota de 15% de IR sobre os rendimentos, no vencimento.
Com essas premissas, o ponto de equilíbrio entre a poupança nova e outros produtos é uma taxa de administração de 1,4% ao ano. Quem paga acima disso ganha menos que a poupança. Aplicações com taxa entre 0,25% e 1,4% ao ano ganham da poupança, mas perdem para o Tesouro Selic.
Planejadora financeira CFP ("Certified Financial Planner"), autora de "Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro"