Nos oito anos de vida desta coluna, tenho procurado dedicar este espaço a uma visão holística do empresário. Para mim, Deus e propósito, vida espiritual e ikegai japonês são a mesma coisa.
A cultura empresarial é a religião da empresa. Há uma religião forte dentro da Amazon, há um conjunto de valores sagrados no Magazine Luiza.
Na coluna que se avizinha das festas de fim de ano, procuro sempre falar do Natal, festa que me move e me comove. Indústria, comércio e marketing significam criar e vender coisas que falam com a alma e o imaginário e, portanto, viram desejos das pessoas. E, se marketing é falar com a alma das pessoas, é imprescindível que quem faz marketing tenha alma.
Hoje é dia 18 de dezembro, terça-feira, e 18 é um número sagrado para os judeus, povo que admiro muito.
Os judeus mantiveram sua religiosidade passando por todos os regimes e provações. Vagaram 40 anos pelo deserto no relato bíblico do Êxodo e mais muitos séculos sofrendo com a Inquisição, os pogroms, o nazismo e, mais recentemente, lutando por sua terra prometida.
Acho lindo que, apesar de tudo isso e das constantes expulsões e deslocamentos que o tornaram errantes pela Terra, os judeus não se perderam.
Guiados por seus textos sagrados, por sua fé e por sua ética, mantiveram sempre sua identidade - alguns de forma muito explícita, usando teimosa e orgulhosamente suas tranças, suas vestes diferentes e seus quipás sem se importar com o que o passageiro do metrô ao lado acha de suas roupas e seus costumes e se acham seus ritos belos ou estranhos.
Neste mundo volátil, é preciso ter coisas sólidas e pétreas nas famílias, nas organizações e nas ações. Sem Elie Horn não se faz uma Cyrela, sem Leon Feffer não se faz uma Suzano, sem os Klabins não se faz uma Klabin, sem Bloomberg não tem Bloomberg, sem Zuckerberg não tem Facebook.
Sem os judeus, não haveria Hollywood. E o que seria da ciência sem Albert Einstein?
A contribuição judaica, seja pelo empreendedorismo e pela filantropia, seja pela sua inteligência e sua criatividade, tem brindado a humanidade de maneira colossal. Mas, para mim, a maior contribuição judaica é a resiliência de não se dissolver com o tempo, de não negociar em sua essência, de acender as velas de seu Shabat na noite mais escura.
Por isso, eu, cujos avós nasceram no Líbano, cristãos maronitas das montanhas de Zahle, celebro o exemplo desse grande povo neste Natal, certo de que, no mundo que será parte transformado, parte devastado pela inteligência artificial, serão as colunas do templo que vão manter a civilização de pé enquanto o mundo verga. Isso é cultura, é propósito, é tradição. São seus valores e sua essência.
A Bahia é judia, o Rio Grande do Sul é judeu. Os evangélicos, com suas bíblias, são judeus. Luiza Trajano, com seus propósitos e suas crenças pétreas, é judia.
Por isso, uma forma de celebrar este Natal é sermos judeus: é não termos vergonha de nossos ritos e de nossas crenças. É o que eu faço toda sexta-feira, ao usar branco para saudar Oxalá da cultura da minha terra e ao acender as velas de cada semana do advento, teimosamente, como um bom judeu.
Até porque, vale lembrar, Jesus era judeu, assim como Maria, José, Pedro e boa parte daqueles que cremos no cristianismo.
Feliz Natal ao mundo que Adonai criou.
Publicitário, fundador do Grupo ABC