{{channel}}
'Consumidor vai ter de botar água no leite', avisa presidente da Agas, ante alta do preço
Alimento atinge preços que desafiam consumo das famílias de renda mais baixa
Não é gasolina, mas o preço do litro está assustando os gaúchos nas últimas semanas, principalmente aqueles que têm renda mais baixa. O litro do leite de caixinha (UHT), que é o longa vida, ultrapassou os R$ 5,00, em patamar considerado histórico ao consumidor final e com alerta de mais alta, pois o pico de preços vai até agosto.
"O consumidor vai ter de botar água no leite", avisa o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antonio Cesa Longo, que reafirma a constatação à coluna, ao tentar buscar alguma saída a um dos principais ingredientes da cesta básica.
"Famílias com quatro integrantes que compravam duas caixas de leite UHT (com 12 litros cada) por mês estão reduzindo, comprando uma", observa Longo, sobre a estratégia nas idas ao mercado.
Considerando uma média de R$ 5,00 por litro (que é um valor rebaixado e só aparece em algumas promoções), as duas caixas com 24 litros chegariam a R$ 120,00 no mês, cerca de 10% do salário mínimo nacional, que está em R$ 1.212,00.
"Não pode comprometer mais de 10% do salário com leite", pondera o presidente da Agas.
Uma comparação é acionada pelo supermercadista quase no automático, para dar ideia de que a condição do mercado do lácteo "saiu da curva":
"O leite ultrapassou o preço do refrigerante!" (lembrando que a bebida costuma ser vendida com volume acima de dois litros)
Falando em cesta básica, a pesquisa do Dieese em Porto Alegre mostrou que, em maio, o alimento subiu 3,52%. No ano, a disparada acumulada chega a 31,05% e, em 12 meses, a 33,87%. Ou seja, a fervura no preço é um fenômeno deste ano.
Outro detalhe, trazido pela economista do Dieese no Rio Grande do Sul Daniela Sandi: enquanto as famílias sentem esse nível de alta, o preço ao produtor (leiteiro) teve elevação de 21% no mesmo período. (fonte Cepea/Esalq)
Daniela Sander cita ainda: "a elevação do preço do leite em 12 meses é quase três vezes a inflação do período (11,90%), pelo INPC/IBGE. Mas no ano, a alta é seis vezes o INPC acumulado (4,96%)". Lembrando: o INPC é o balizador das negociações de reajustes salariais. Ou seja, na reposição de custos, trabalhadores com carteira assinada terão de repensar a sua cesta básica.
'O leite ultrapassou o preço do refrigerante', compara Longo, diante da disparada do valor. Foto: Marco Quintana/Arquivo/JC
Leite em caixinha x manteiga
Um detalhe também chamou a atenção da coluna. Encartes impressos de promoções de atacarejos não trazem o longa vida. Ou seja, não deve estar fácil ou sendo viável fazer preço mais baixo e atraente com leite, em um modelo de negócio que depende de descontos polpudos.]
O valor do leite longa vida no nível praticado agora está gerando uma relação desproporcional.
Por exemplo: a manteiga, que sempre tem valor muito acima (três a quatro vezes mais), não tem tido alteração de preço em lojas que a coluna verificou. O tablete de 200 gramas se mantém entre quase R$ 10,00 e até R$ 14,00 em marcas premium. Longo cita que mesmo o iogurte não disparou.
"O leite é um grande balizador e atinge em cheio a grande massa (famílias)", analisa Longo, que associa a disparada à elevação de custos dos insumos, para a alimentação das vacas, e a questão de combustíveis e frete.
O dirigente observa que, se agora já está neste nível que a renda mais baixa não suporta, imagina como vai ser até o fim do inverno, estação que o produto que integra a cesta básica sobe devido à entressafra.
"Nos assusta, pois ainda não chegou agosto. Está no limite", garante o supermercadista.
"De R$ 6,00 não passa", arrisca o presidente da Agas, mas titubeando em sua convicção, diante das oscilações.
No supermercado, a alta sem limites do leite comum gera mais distorções. Outros tipos de leite, como o vegetal (de soja, que é o mais barato), estão com os mesmos preços ou levemente acima. Pode ser uma opção, mas para quem quer buscar uma alteração na dieta, e não para consumidores que precisam contar o dinheiro para colocar leite na mesa.
O presidente da Agas garante que o setor está repassando o mínimo ao produto. O valor sobe porque vem mais alto da indústria. O custo alto de fazer estoques restringe a manobra do varejo para conseguir estender preços menores ou ter estabilidade na gôndola, explica Longo.
Entre as opções, o leite in natura (em saquinho, por exemplo), com validade mais curta, de poucos dias, deve desaparecer, projeta Longo. A razão: porque o preço é próximo ao longa vida e por estar em nível alto, como a variante UHT.