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Não somos tão poderosos como pensávamos, reflete Cortella
Não adianta ficar na varanda mateando e orando para tudo acabar, sugere Cortella
MARCELO G. RIBEIRO/JC
Se você pudesse sair agora para fazer alguma coisa, sem riscos, sem o sufoco pandêmico, o que você faria? Faria compras? Comeria uma costela numa churrascaria? Abraçaria alguma pessoa em especial? Essas são algumas das reflexões que o filósofo e educador Mario Sergio Cortella, que participou na quinta-feira da LIVE do projeto Mentes Transformadoras, nos propõe neste cenário tão inusitado que vivemos desde o início da pandemia da Covid-19. “Qual será a nossa prioridade daqui para a frente? De repente, notamos que não temos todo tempo do mundo, e aí precisamos fazer escolhas boas, porque não sabendo o tempo que temos, é melhor que ele não seja perdido”, analisa. Natural de Londrina (PR), Cortella é autor de 45 livros, entre eles “Qual é a tua obra?” e “Por que fazemos o que fazemos”. Comunicador nato, fez referência diversas vezes ao Rio Grande do Sul durante a LIVE, citando do chimarrão e churrasco a escritores como Mario Quintana e Érico Verissimo. Morando em São Paulo já há muitos anos, ele contou que está há 142 dias em isolamento e deu a dica para as pessoas passarem melhor por esse período. “Não adianta ficar na varanda mateando e orando para tudo acabar. É preciso lidar com os sentimentos internos e com as perdas que carregamos”, diz. Para ele, a única coisa que diminui a ansiedade é a disciplina do tempo. “A disciplina é a organização da liberdade. Quanto mais você coordena os tempos e modos de fazer as coisas, menos você sofre”, analisa.
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Se você pudesse sair agora para fazer alguma coisa, sem riscos, sem o sufoco pandêmico, o que você faria? Faria compras? Comeria uma costela numa churrascaria? Abraçaria alguma pessoa em especial? Essas são algumas das reflexões que o filósofo e educador Mario Sergio Cortella, que participou na quinta-feira da LIVE do projeto Mentes Transformadoras, nos propõe neste cenário tão inusitado que vivemos desde o início da pandemia da Covid-19. “Qual será a nossa prioridade daqui para a frente? De repente, notamos que não temos todo tempo do mundo, e aí precisamos fazer escolhas boas, porque não sabendo o tempo que temos, é melhor que ele não seja perdido”, analisa. Natural de Londrina (PR), Cortella é autor de 45 livros, entre eles “Qual é a tua obra?” e “Por que fazemos o que fazemos”. Comunicador nato, fez referência diversas vezes ao Rio Grande do Sul durante a LIVE, citando do chimarrão e churrasco a escritores como Mario Quintana e Érico Verissimo. Morando em São Paulo já há muitos anos, ele contou que está há 142 dias em isolamento e deu a dica para as pessoas passarem melhor por esse período. “Não adianta ficar na varanda mateando e orando para tudo acabar. É preciso lidar com os sentimentos internos e com as perdas que carregamos”, diz. Para ele, a única coisa que diminui a ansiedade é a disciplina do tempo. “A disciplina é a organização da liberdade. Quanto mais você coordena os tempos e modos de fazer as coisas, menos você sofre”, analisa.
Mercado Digital – Existe algum paralelo do que estamos vivendo hoje com o coronavírus com o nosso passado?
Mario Sergio Cortella – No século XX tivemos as duas grandes guerras e a Gripe Espanhola, que matou milhões no mundo. Em 2001, com o atentado às Torres Gêmeas nos Estados Unidos, se imaginava que aquele era um momento único. Imaginávamos que levaria a uma alteração profunda de todas as estruturas, mas não aconteceu. Mas, esse abalo agora chegou com uma novidade. A gente não esperava. Quando uma situação de terrorismo vem à tona, há alguma previsibilidade. Mas, terminamos 2019 imaginando que esse ano seria de retomada do fôlego econômico, do agronegócio exuberando ainda mais, porém, bastaram dois meses para abalar as nossas certezas. Será que já vivemos algo assim? Nós, vivos, não. Outros já. Quem menos entende da água é o peixe, porque ele está ali, mergulhando. Precisamos olhar a distância. A história dará o olhar do que isso que estamos vivendo agora significa de fato.
Mercado Digital – O mundo está interconectado, o que faz com que todos estejamos vivendo juntos essa situação. Isso piora a sensação de medo ou nos conforta?
Cortella - Aumenta imensamente a nossa inquietude, afinal de contas, essa interconectividade amplia as nossas fontes de preocupação e sofrimento. Um exemplo. A minha preocupação com os meus filhos na adolescência era menor, porque não existia telefonia celular. Quando eu saberia que eles estavam bem? Quando chegassem em casa às quatro horas da manhã. As coisas não tinham tanta imediaticidade. Hoje temos fontes inúmeras de preocupação. Ao ampliarmos a nossa conectividade, temos vantagens, como o acesso ao conhecimento e aos mercados, mas a mesma velocidade que leva as nossas coisas para a China, também traz o vírus. A Peste Negra demorou muito mais para acessar todos os cantos, mas agora somos, literalmente, um só mundo, uma só encrenca, uma só interdependência. Tudo o que tem a ver com um, tem a ver com os outros também.
Mercado Digital – A Covid-19 nos coloca diante da nossa própria fragilidade? Que sentimentos essa percepção nos traz?
Cortella – O susto que tomamos foi tão grande que não foi acompanhado apenas da virulência da pandemia, mas de nos darmos conta que não somos assim tão poderosos. A nossa ciência e tecnologia, a nossa capacidade tem os limites de um ser que nem ser vivo é considerado, é um vírus. A nossa fragilidade ficou mais evidente. Estamos mais magoados com a ciência. Não que ela não nos auxilie imensamente, pelo contrário, é dela que virá a possibilidade de diminuição do horror que estamos vivenciando. Mas, as pessoas ficaram decepcionadas, pois mesmo com tanta capacidade anunciada do mundo novo mundo, da Inteligência Artificial (IA) e da holografia, ela não nos ofereceu de imediato uma vacina, uma alternativa. Mais do que frágeis, nos pegamos um pouco tolos. Achamos que éramos mais inteligentes do que de fato somos. É bom levar banho de humildade de vez em quando para vermos que nos somos toda essa potência. Não somos tão imensos.
Mercado Digital – As empresas estão sendo desafiadas a se reinventar, criar, inovar. É possível fazer isso mesmo quando o nosso ambiente interno está bagunçado, com medo e angustiado?
Cortella – Mais do que possível, é necessário. Logo no início da pandemia, as demandas de palestras on-line que eu recebia estavam ligadas ao momento inicial, ao medo, ao pânico. Agora, e para os próximos meses, essa procura está mais ligada a vida das organizações, a capacidade de empreender e de inovar em um cenário em que é preciso ser protagonista. Não basta sentar e chorar, é preciso levantar e enfrentar. Como lidar com novos modos de presença no mercado? Como dar vitalidade ao que já foi e que agora se mostra de outro modo. O rodizio das churrascarias vai ter que se reinventar. Um sistema de espeto corrido talvez não vá mais funcionar. Isso vale para o setor de alimentação, mas também para a educação, os negócios. Antes, o perigo era ser ultrapassado, ser passado para trás, mas aí você acelerava e tentava recuperar. Hoje, ser ultrapassado é ser jogado para fora da estrada.
Mercado Digital – Uma pandemia como essa pode melhorar a humanidade?
Cortella – Acho que vários de nós seremos melhores. As pessoas que tiverem inteligência emocional, capacidade afetiva, humildade e deixarem a arrogância de lado, alterarão o seu modo de ser. Ao mesmo tempo, se há pessoas que já se comportam mal durante a pandemia, porque teriam alteração em relação ao pós-pandêmico? Podemos aprender e melhorar. Entretanto, não sou pessimista a ponto de achar que estamos perdidos e nem triunfalista de pensar que sairemos da pandemia novos homens e mulheres.
Mercado Digital – A única constante hoje é a mudança?
Cortella – A mudança é a única coisa permanente na vida. Algumas pessoas são mais aptas à flexibilidade. Mas, quando a gente pensa em mudança, tem que considerar o que mudar e ter cautela para não cair no mudancismo desenfreado, para ir alterando as maneiras e pensar e fazer só porque é preciso. Ser flexível é diferente de ser volúvel.
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