Criar equipes capazes de conduzir a transformação exigida pelo mercado é um dos maiores desafios das empresas, e também uma das grandes dores dos líderes à frente deste processo. “As pessoas que nos trouxeram até aqui nem sempre são as que nos farão darmos saltos daqui para frente”, admite o presidente Grupo Dimed/Panvel, Julio Ricardo Mottin Neto. Para o executivo, é preciso entender o ritmo certo das mudanças e conseguir criar uma cultura em que as pessoas entendam que esse movimento é para o bem. “Muitas vezes o grande erro é querer fazer uma transformação gigantesca e, com isso, perder a cultura, o jeito de as pessoas se relacionarem dentro da empresa e a visão do próprio consumidor sobre a proposta de valor da companhia”, alerta.
Mottin é o personagem do 11º episódio do Mentes Transformadoras. A série de vídeos e podcasts entrevista personalidades que falam sobre o cenário atual do mercado, os novos modelos de negócios que estão surgindo e os desafios deste mundo cada vez mais conectado.
PERFIL: Formado em Economia pela PUCRS e especialista em gestão e finanças pela Harvard Business School, Mottin iniciou a sua carreira em agências de propaganda, depois atuou como gerente e diretor de marketing e vice-presidente do Grupo Dimed/Panvel, empresa na qual hoje o presidente.
> VÍDEO: Confira as ideias dessa mente transformadora
Jornal do Comércio – Como tem sido a experiência de liderar uma empresa tradicional em um momento de mudanças tão imediatistas?
Julio Ricardo Mottin Neto – É um desafio diário, mas ao mesmo tempo fascinante. O maior risco hoje em dia é não ver a velocidade da mudança, e não enxergar que as barreiras de competição praticamente inexistem. Vemos uma empresa de eletrodoméstico entrando no mercado de farmácias, a farmácia entrando no mercado de eletrodomésticos. O importante é as empresas entenderem que o seu negócio é muito maior do que parece ser. A Panvel poderia ter ficado parada nesse tempo porque o mercado farmacêutico é muito tradicional e tem a receita médica, que faz com que o consumidor tenha de ir ao ponto de venda, mas entendemos que o nosso mercado poderia ser muito maior. Já temos 90 clínicas funcionando dentro das lojas que prestam os mais variados serviços. Estamos usando novas tecnologias de análise de sangue e, daqui a pouco, sem nos darmos conta, estaremos no mercado de medicina diagnóstica. Nos propusemos a ser um player importante no mercado de saúde.
JC – Qual é o ritmo ideal da mudança?
Mottin – Gradual. A mudança, em uma empresa tradicional, não pode ser de uma hora para outra. Muitas vezes o grande erro é querer fazer uma transformação gigantesca e, com isso, perder cultura e a forma de as pessoas se relacionarem dentro da organização. Além disso, o próprio consumidor pode acabar não entendendo mais qual é a proposta de valor da empresa. No caso da Dimed, a inovação está no nosso DNA e o que a gente vem fazendo ao longo do tempo é fazer com que as mudanças sejam graduais, buscando o ritmo correto para o que a gente precisa. Se a empresa, que chegou a faturamento de R$ 3 bilhões em 2019, pegar um transatlântico e pilotar como se fosse uma lancha, pode quebrar ao meio.
JC – As pessoas muitas vezes estão confortáveis em uma forma padrão de trabalhar. Como ajudá-las a entender e aceitar a força do cenário digital?
Mottin – É preciso criar uma cultura em que elas entendam que as mudanças vêm para o bem. Acho que nós conseguimos fazer isso porque investimos muito, em um primeiro momento, na integração dos estoques. Com isso, proporcionamos que as lojas vivenciassem com rapidez o que vinha do digital. Os profissionais viram a loja se tornando protagonista dentro da estratégia digital, como o grande hub de relacionamento e de entrega de produtos para os clientes. Quando a gente envolve os times desta estratégia e eles percebem o resultado no seu dia a dia, passam a enxergar a tecnologia como algo importante.
JC – Todos conseguem acompanhar essas transformações?
Mottin – Estou há 25 anos na empresa e uma das mais minhas dores, neste ritmo de mudanças tão rápido, é ver que às vezes, as pessoas que foram importantes durante um tempo, não conseguem acompanhar essa transformação. A gente ter de trocar equipe e buscar pessoas diferentes é uma dor que precisa ser encarada, enfrentada. As pessoas que nos trouxeram até aqui não são, necessariamente, as que nos farão dar saltos daqui para frente.
JC – Onde buscar as principais referências para inovar hoje em dia?
Mottin – O principal é estar conectado e instigado a sempre buscar o novo e ver o que pode ser adaptado à estratégia de negócio. A curiosidade é uma matéria-prima importante em um processo de inovação. A Panvel sempre foi uma empresa curiosa. Fomos um dos primeiros centros de distribuição automatizados o Brasil, na década de 1990, e a primeira empresa a emitir nota fiscal eletrônica no País. Estamos abraçando as inovações para oferecer um atendimento mais qualificado e uma economia de tempo, pois o tempo hoje para as pessoas é o bem mais valioso. Temos uma característica na empresa de fazer muitas viagens. Participamos de feiras de inovação, vamos a China ver o que está acontecendo. Acreditamos muito no desenvolvimento interno da inovação, porque tem coisas que precisam ser proprietárias. Mas, nos abrimos para tudo isso que está acontecendo. A nossa área de inovação está se preparando para falar com as startups, e até contratamos uma empresa para ensinar os nossos executivos a falar com essas empresas, porque não é uma coisa tão simples. Temos acompanhado de perto o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, que se tornou um grande hub de startups. Inclusive, participamos como sócios fundadores do Instituto Caldeira. Entendo que muito do desenvolvimento do Estado passa por aí. Estrategicamente, o Rio Grande do Sul está mal localizado no Brasil. Então, a matriz tecnológica é um caminho importante para o crescimento futuro do Estado.
OUTROS EPISÓDIOS: Confira abaixo as próximas entrevistas da temporada. Saiba mais sobre o projeto Mentes Transformadoras e confira os outros episódios clicando aqui. Acesse a primeira temporada clicando aqui.