Cassio Bobsin � CEO da Zenvia e co-fundador da WOW Aceleradora
RAFAEL SAMBRANO - ARTE/JC
A Inteligência Artificial está cada vez mais presente nas estratégias de comunicação das empresas com os seus clientes. Para alguns players, essa tecnologia é encarada como um caminho real para ajudar a escalar o atendimento e personalizar o relacionamento com seus públicos; para outros, ainda é tratada superficialmente, mais como forma de se posicionar bem diante de um mercado cada vez mais interessado por estas soluções.
O fundador e CEO da Zenvia, Cassio Bobsin, comenta que o desafio é encontrar um caminho factível entre estes dois mundos, sem gerar expectativas exageradas. “Estamos robotizando o ser humano no atendimento e tentando humanizar os robôs. Isso na verdade não faz sentido, é incoerente”, alerta o empreendedor gaúcho. A Zenvia, plataforma de comunicação multicanal líder de mercado na América Latina, tem mais de seis mil clientes ativos no Brasil e foi eleita cinco vezes a empresa de tecnologia de pequeno e médio porte que mais cresce no País, segundo o ranking Deloitte Exame.
Bobsin é o terceiro convidado da 2ª temporada do Mentes Transformadoras. A série de vídeos e podcast traz entrevistas com personalidades do empreendedorismo sobre o cenário atual do mercado, os novos modelos de negócios que estão surgindo e os desafios deste mundo cada vez mais conectado.
Bobsin fundou a sua primeira empresa aos 18 anos de idade e, desde lá, já participou da criação de diversas startups. Além de seu trabalho na Zenvia, é co-fundador da WOW Aceleradora de Startups, maior aceleradora independente do Brasil, e membro do Young Presidents Organization (YPO). Graduado em Ciência da Computação pela UFRGS, cursou também MBA em Gestão Empresarial pela ESPM e mestrado em Administração pelo PPGA-UFRGS. É Owner/President Management na Harvard Business School e Executive Program for Growing Companies em Stanford.
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Jornal do Comércio – As empresas estão superestimando o uso dos robôs na comunicação?
Cassio Bobsin – Sempre existiu e sempre vai existir muita expectativa em torno da Inteligência Artificial. Faz parte da mitologia tentar saber se os robôs vão ser humanos ou não. E, claro, tem uma expectativa super inflada de que, fazendo a implantação de robôs de comunicação, eles vão ser tão naturais quanto um ser humano. Porém, se a gente pegar os assistentes virtuais mais famosos, por exemplo, veremos que mesmo a tecnologia de ponta ainda não permite uma conversa fluída. Logo, é muito difícil que consiga estabelecer uma conversa hiper fluída das empresas com os consumidores. É importante deixar bem claro para as empresas e para os consumidores que o robô pode ajudar a automação, mas ele não é um ser humano.
JC – As empresas estão explorando bem a tecnologia para melhorar a sua comunicação com os clientes?
Bobsin – Ainda falta muito para que as empresas consigam entender o que os clientes querem e entregar os produtos que eles precisam. Essa é a percepção geral, quando conversamos com as pessoas no dia a dia. As oportunidades de as empresas melhorarem a comunicação é gigantesca. Estamos bem na superfície, por exemplo, do uso da Inteligência Artificial. Hoje, o mais importante para as pessoas é a instantaneidade. Não queremos mais esperar para que algo aconteça. O consumidor quer falar com uma empresa e quer uma resposta na hora, mesmo que não seja a final. Ele quer ser atendido, quer comprar algo sempre na hora. Disponibilizar diferentes formatos para que a empresa consiga ouvir o consumidor conseguir responder o mais rápido possível é o ponto chave na comunicação de hoje e para o futuro. Mas para isso acontecer, não basta dar respostas evasivas, tem de garantir que o processo de receber aquela comunicação do cliente provoque algo.
JC – Qual deve ser o sentido da inovação em uma empresa?
Bobsin – O sentido da inovação em uma empresa é conseguir resolver um problema que já existe de uma forma muito mais eficiente. Às vezes, se pensa que a inovação só está ligada à tecnologia, mas ela pode ser uma nova forma de olhar para um problema, que pode levar a uma inovação radical. Entretanto, as melhores inovações nas empresas não são as que envolvem tecnologias mirabolantes e, sim, as melhorias em processos feitos da mesma forma há 10 anos ou 20 anos e que trazem um olhar diferente que muda radicalmente a forma que aquilo é feito. Isso é muito mais poderoso.
JC – O ambiente para empreender é mais acolhedor hoje em dia?
Bobsin – O ambiente empreendedor está sendo puxado pela necessidade de transformação da economia, dos negócios e da cadeira produtiva. Há oportunidades gigantes para quem tem vontade de transformar. Felizmente, hoje tem muito mais apoio para empreendedor do que tinha há dez anos. Porém, empreender é muito mais que ter um ecossistema que incentive isso. É um desafio muito mais individual, de saber que é preciso atender a demanda dos clientes e saber se o que está criado vai, efetivamente, ser comprado pelos consumidores.
JC – Como você tem sentido o apetite das novas gerações de empreendedores?
Bobsin – Tem o que se chama de empreendedor mais raiz e o Nutella. O empreendedor raiz tem consciência que a trajetória é muito mais dura do que o que ele vai colher. Pode ser que dê certo, mas a escolha é por uma jornada de muito trabalho, dedicação e consciência das chances de dar errado. Já o empreendedor Nutella está mais pela onda, pelo palco, por aparecer e dizer que tem uma startup. Esse, geralmente, não sabe muito bem como criar valor para o que está desenvolvendo. É importante entender que o caminho de tentar parecer antes de ser é perigoso e muito frustrante. Construir empresas de sucesso requer trabalho árduo e leva algum tempo.
JC – O que ainda trava o surgimento de mais negócios inovadores e competitivos globalmente no Brasil?
Bobsin – Precisamos de menos burocracia, de um sistema tributário mais eficiente e de um custo de capital mais baixo. Problemas para resolver a gente tem. Também não falta gente boa para resolver. O que falta no ambiente é eliminar as barreiras que só dificultam essa caminhada. São barreiras de uma economia antiga e um tipo de pensamento que não faz sentido no mundo de hoje.
JC – O que você diria a um jovem empreendedor que está iniciando a sua jornada para criar a sua startup?
Bobsin – Quando alguém está começando a empreender, eu diria que a principal coisa a fazer é refletir se o problema que ele pretende resolver faz sentido e se é grande o suficiente. Muitas vezes, o empreendedor começa porque tem ideia de uma solução, mas não tem clareza do problema, e aí fica muito tempo procurando por ele. Isso é um grande equívoco. Também é importante saber que a cada momento que a empresa evolui, exige do empreendedor novas habilidades. E aquelas que o trouxe até aqui, podem não ser mais úteis. É preciso um alto grau de flexibilidade para conseguir liderar esse processo na empresa ao longo do tempo. Isso exige muito pessoalmente. É fundamente ter envolvimento e humildade para entender que é preciso aprender constantemente coisas novas.
JC - O que te inspira a continuar inovando?
Bobsin – O que me move é a possibilidade de que fazer as coisas de uma forma diferente, e saber que podemos conseguir isso se fizermos um esforço. O que eu busco dentro das minhas habilidades e capacidades é entender como posso contribuir para que o mundo evolua. Logo, quando escolho os empreendimentos que vou participar, preciso ver neles bons problemas que merecem ser resolvidos.
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