Jair Bolsonaro faz visita emblemática à China

Desembarque em Pequim ocorre no dia 25, após agenda no Japão

Por Thiago Copetti

Em 2018, presidente fez críticas aos negócios do país asiático no Brasil
A visita do presidente da República, Jair Bolsonaro, à China, incluída no roteiro pelo Oriente Médio e Ásia, pode ser classificada como a mais emblemática da missão internacional inciada no sábado. Antes de se tornar presidente, Bolsonaro se envolveu em pelo menos duas polêmicas com o principal parceiro comercial do Brasil. O desembarque em Pequim está previsto para o dia 25, depois da agenda no Japão, que começa nesta terça-feira, dia 22.
Em fevereiro de 2018, ainda como deputado federal, também em roteiro pela Ásia, Bolsonaro ignorou Pequim e visitou apenas Taiwan, a chamada Ilha Rebelde, que busca a independência. Ao passar somente pela ilha com um representante do parlamento brasileiro, gerou forte crítica do governo de Xi Jinping no Brasil. Na época, a embaixada chinesa em Brasília emitiu nota criticando a visita a Taiwan. Pouco depois, em junho, em declarações à imprensa e já como candidato à presidência, Bolsonaro criticou os investimentos chineses por aqui, afirmando que a China "estava comprando o Brasil e não do Brasil".
Esses "mal entendidos", causados por declarações "um pouco sinofóbicas", como descreve o coordenador de análise e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Tulio Cariello, no entanto, já teriam sido superados. Parte da pacificação, avalia Cariello, tem uma parcela de méritos à viagem do vice-presidente Hamilton Mourão à Pequim em maio.
"Acho que todas essas posições e dúvidas que se tinha sobre a China por parte do atual governo já passaram. Mourão fez um bom trabalho de contenção desses mal entendidos em sua viagem ao país", avalia Cariello.
O executivo do CEBC destaca ainda que, agora, poderá haver até avanços nas relações entre os dois governos. Um dos sinais da aproximação de Bolsonaro com a China pode ser verificado em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, no final de setembro. Bolsonaro afirmou, para surpresa de muitos, que estava em estudo liberar os visitantes chineses da exigência de visto para ingressar no Brasil, a exemplo do que já foi feito com os norte-americanos.
"Vejo isso como algo positivo, principalmente se a China também facilitar a entrada dos brasileiros. Enfim, em relação aos conflitos, creio que está tudo dissipado e poderá até evoluir a nossa agenda com a China em termos de Estado. Em termos privados, já anda por conta própria", analisa Cariello.
Para o advogado Guilherme Amaral, coordenador do Asian Desk do escritório Souto Corrêa, porém, as primeiras declarações do Bolsonaro como presidente, e do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não teriam ajudando a dissipar as dúvidas sobre o ambiente de negócios brasileiro para empresários chineses. O advogado avalia que há um compasso de espera, por parte de empresas estatais e privadas chinesas, sobre uma melhor definição das oportunidades existentes, agora, no Brasil.
"No entanto, o que se vê por parte da equipe econômica e de outras autoridades, como o governador João Dória (SP), é um pragmatismo mais alinhado com as expectativas chinesas", ressalta Amaral.
Segundo o ministério das Relações Exteriores, a viagem à China marca os 45 anos de retomada das relações diplomáticas entre os dois países e se insere em três áreas prioritárias na relação bilateral: ampliação e diversificação das exportações brasileiras; atração de capital e investimentos chineses para o Brasil, especialmente para os projetos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI); e cooperação na área de ciência e tecnologia.

Agronegócio e aviação estão na pauta das reuniões

O agronegócio e a indústria aeronáutica poderão ter novidades na volta da comitiva presidencial. Na sexta-feira passada, a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, embarcou diretamente para Pequim e lá deve se reunir com a comitiva de Bolsonaro. É a segunda visita da ministra ao país, que neste ano já abriu seu mercado de lácteos às indústrias brasileiras e está ampliando as habilitações de frigoríficos, o que tende a elevar as exportações para o mercado chinês.
Na passagem pelo mundo árabe, com escalas nos Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita, a pauta brasileira, de acordo com o Itamaraty, também tem viés comercial, com destaque para o aumento das exportações da agropecuária, a atração de investimentos para os projetos de concessão de ativos do PPI, e o interesse árabe na indústria de defesa do Brasil. Um dos focos militares seriam as aeronaves KC390, produzidas pela Embraer em parceria com a Força Aérea Brasileira.