Porto Alegre, quinta-feira, 01 de maio de 2025.
Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Porto Alegre, quinta-feira, 01 de maio de 2025.

Cinema

- Publicada em 05 de Novembro de 2021 às 03:00

Documentário e ficção

Hélio Nascimento
O documentário American factory, que recebeu o Oscar da categoria em longa-metragem no ano de 2020, não perdeu e certamente nunca perderá a relevância. O filme continua disponível na Netflix e certamente interessará a todos os que consideram o gênero uma das mais importantes formas de expressão cinematográfica. Infelizmente, o documentário, que continua sendo praticado e exibido em todo o mundo, raramente é visto nas telas brasileiras, mesmo que aqui três notáveis exemplos tenham sido produzidos: Nelson Freire (em função da morte do pianista nesta semana, o Canal Curta! exibe o filme no sábado, às 22h, e também é possível assistir pelo Globoplay, com acesso aberto para não assinantes) e Santiago, de João Moreira Salles, e Edifício Master, de Eduardo Coutinho, que conseguiram espaço raramente conquistado por outros. American factory, realizado por Steven Bognar e Julia Reichert, descreve o processo iniciado pelo fechamento de uma fábrica da GM em cidade que passa a enfrentar um grave problema de desemprego. A situação parece resolvida com a chegada de uma empresa chinesa, que no local instala uma fábrica de vidros para veículos automotivos. Junto com o investimento, a empresa traz da China operários que passam então a conviver com seus colegas norte-americanos. O tema do choque cultural é então desenvolvido, mas não é o único, pois o documentário também explora com expressiva habilidade as situações enfrentadas por trabalhadores em ambos os países, já que a obra também tem cenas filmadas na nação de origem da nova fábrica, revelando condições de trabalho em alguns casos condenáveis. E nem humor falta, principalmente na cena em que um operário americano empunhando um cartaz pedindo a criação de um sindicato faz referência a Sally Field em Norma Rae, filme realizado por Martin Ritt em 1979. Numa época em que tanto se fala em uma nova guerra fria, agora entre Estados Unidos e China, é valioso conhecer o documentário de Bognar e Reichert, para se constatar as complexidades criadas pelo globalismo e pela própria ação de forças econômicas em movimento.
O documentário American factory, que recebeu o Oscar da categoria em longa-metragem no ano de 2020, não perdeu e certamente nunca perderá a relevância. O filme continua disponível na Netflix e certamente interessará a todos os que consideram o gênero uma das mais importantes formas de expressão cinematográfica. Infelizmente, o documentário, que continua sendo praticado e exibido em todo o mundo, raramente é visto nas telas brasileiras, mesmo que aqui três notáveis exemplos tenham sido produzidos: Nelson Freire (em função da morte do pianista nesta semana, o Canal Curta! exibe o filme no sábado, às 22h, e também é possível assistir pelo Globoplay, com acesso aberto para não assinantes) e Santiago, de João Moreira Salles, e Edifício Master, de Eduardo Coutinho, que conseguiram espaço raramente conquistado por outros. American factory, realizado por Steven Bognar e Julia Reichert, descreve o processo iniciado pelo fechamento de uma fábrica da GM em cidade que passa a enfrentar um grave problema de desemprego. A situação parece resolvida com a chegada de uma empresa chinesa, que no local instala uma fábrica de vidros para veículos automotivos. Junto com o investimento, a empresa traz da China operários que passam então a conviver com seus colegas norte-americanos. O tema do choque cultural é então desenvolvido, mas não é o único, pois o documentário também explora com expressiva habilidade as situações enfrentadas por trabalhadores em ambos os países, já que a obra também tem cenas filmadas na nação de origem da nova fábrica, revelando condições de trabalho em alguns casos condenáveis. E nem humor falta, principalmente na cena em que um operário americano empunhando um cartaz pedindo a criação de um sindicato faz referência a Sally Field em Norma Rae, filme realizado por Martin Ritt em 1979. Numa época em que tanto se fala em uma nova guerra fria, agora entre Estados Unidos e China, é valioso conhecer o documentário de Bognar e Reichert, para se constatar as complexidades criadas pelo globalismo e pela própria ação de forças econômicas em movimento.
**********
Todo filme de ficção não deixa de ser também, em parte, um documentário. E mesmo quando o cinema ficcional naufraga no mar da mediocridade disfarçada de fantasia, ele não deixa de expressar certas características de uma época em que não apenas o cinema serve de instrumento destinado a afastar o espectador da realidade. É, portanto, um documentário involuntário. O documentário nasceu com o cinema e o trabalho de seres humanos anônimos esteve presente na primeira sessão dos Irmãos Lumière, pois entre os filmes exibidos estava A saída dos operários da fábrica. Em vários momentos de American factory, aquela cena reaparece, forçada pelas circunstâncias ou talvez utilizada de forma deliberada. Sempre é necessário lembrar que o documentário britânico dos anos 1930, um movimento comandado por John Grierson, e no qual Alberto Cavalcanti teve papel relevante, seja como realizador, seja como orientador, em obras como Coal face e Night mail, é o ponto mais importante do gênero e dedicou ao trabalho atenção especial. Da focalização do trabalho e do cotidiano de seres humanos, o documentário com o passar do tempo começou a eleger personagens, seja pela aproximação a suas atividades, seja por entrevistas, algo que foi chamado de cinema verdade, cuja invenção foi atribuída por Jean-Luc Godard a Charles Chaplin, no epílogo de O grande ditador.
**********
Claramente uma fantasia, a série Round 6 não deixa de ser, também, um documentário, na medida em que coloca o dinheiro como grande senhor, contemplado com devoção e que, caindo das alturas, resolverá os problemas dos envolvidos num jogo mortal. O cinema da Coreia do Sul tem dado mostras recentes de vitalidade, com alguns de seus realizadores mostrando que a nossa arte tem ainda muitos espaços a serem descobertos. Esta série, na essência um longa-metragem de várias horas, foi realizado por Hwang Dong-Hyuk, que revela como a ficção pode se transformar num documentário. Por outro lado, é importante as citações e homenagens feitas a Fritz Lang, René Clair, Charles Chaplin e Stanley Kubrick, deste último com referências a De olhos bem fechados e a 2001: uma odisseia no espaço, cuja trilha sonora é lembrada com a utilização de O Danúbio Azul, de Johan Strauss. É o sistema de educação coreano atuando também no ensino do cinema.
Conteúdo Publicitário
Comentários CORRIGIR TEXTO
notification icon
Gostaria de receber notificações de conteúdo do nosso site?
Notificações pelo navegador bloqueadas pelo usuário