Contabilidade brasileira em números
Existe mercado para diferentes tipos de serviços prestados
Um assunto recorrente nas rodas de empresários contábeis é a preocupação com a competição com as empresas de contabilidade digital, que oferecem serviços mais baratos e menos personalizados e vem abocanhando uma grande fatia de mercado. A migração de clientes dos escritórios físicos já é sentida pelos empresários gaúchos, mas o presidente do Sescon/RS, Célio Levandovski, tranquiliza aqueles mais alarmados. Ele garante que o mercado tem espaço para todos.
Segundo Levandovski, a contabilidade digital pode ser útil para aquela empresa que não precisa contar com o apoio do contador como auxiliar da gestão - "o que na verdade serve apenas para uma minoria". Essa espécie de competição com um modelo de serviço oferecido em ambiente digital e com as novas tecnologias capazes de importar dados gerados pelos clientes e manuseá-los, está forçando as empresas tradicionais de contabilidade a ir além, destaca o também empresário contábil.
Uma das empresas de contabilidade digital que mais têm despontado no País é fintech Contabilizei. Este ano, a startup foi incluída na lista Linkedin Top Startups, que reuniu as 25 jovens empresas de destaque onde os brasileiros querem trabalhar atualmente.
Recentemente, a empresa com sede em Curitiba recebeu investimento de R$ 75 milhões da Point72 Ventures, fundo de capital de risco do bilionário norte-americano americano Steve Cohen. Foi o primeiro investimento em startup do grupo no Brasil. Disponível em mais de 30 cidades em todo o Brasil, incluindo as principais capitais, a empresa foi fundada em 2013 pelo empresário Vitor Torres e tem mais de 5 mil clientes em todo Brasil.
A companhia desenvolveu sistema que permite que a contabilidade de empresas com até 20 funcionários seja feita a partir da internet. Para isso, ela investe em sistemas de automação que agilizam o cálculo de imposto a pagar e o preenchimento de declarações obrigatórias, explica o fundador e presidente da empresa, Vitor Torres. "A contabilidade foi feita por muito tempo da mesma forma, o governo nunca facilitou para o empresário e para o contador. Automatizamos tudo o que é operacional, que ocupa quase 100% do tempo do profissional", explica Torres.
Contudo, Levandovski garante que os escritórios contábeis já existentes que forem além do serviço tradicional e criarem um vínculo com os clientes terão um diferencial em relação às empresas online e devem sobreviver. "O segredo é para um pouco na correria do dia a dia, valorar o serviço prestado, buscar qualificação e manter-se em contato com o cliente, ajudando no gerenciamento das suas contas", indica Levandovski, que também mantém um escritório em atuação há anos em Porto Alegre.
Para ele, o escritório físico tem entre as suas principais qualidades o olho no olho com o cliente, a adequação do serviço ao que o cliente realmente precisa e a divisão da responsabilidade sobre as informações prestadas e pagamentos feitos ao Fisco com o profissional contábil. Caberá aos clientes fazer a escolha do serviço que mais se enquadra nas suas necessidades.
Contadores precisam dar atenção à saúde do próprio negócio
Além de se dedicarem aos negócios dos seus clientes, os contadores devem pensar sobre a qualidade do serviço que estão oferecendo, seu modelo de negócios e como tornar-se mais competitivo e qualificado.
O contador e vice-presidente do CRCRS, Celso Luft, garante que o mercado segue aquecido para os contadores. "O crescimento da necessidade de implementação de ferramentas de transparência e resposta às exigências do mercado e da população pressionou o contador a entregar as demonstrações contábeis de forma mais transparente para o cliente e para a sociedade", recorda Luft, salientando a necessidade de qualificação do trabalho prestado para se manter em operação.
Estimular a reflexão em torno desses pontos é um dos focos do Grupo de Gestão do Sescon/RS, criado este ano. O novo fórum foi criado para troca de ideias e promoção do debate sobre assuntos ligados ao empreendedorismo. O objetivo é trazer novidades, compartilhar conhecimentos e dar um novo olhar ao empreendedorismo contábil, desligando um pouco dos assuntos técnicos e legais.
O ideal, diz o presidente do Sescon/RS, é que a avaliação e planejamento sejam feitos por cada empresário ou contador de acordo com seus objetivos e com o mercado em que estão inseridos. "Talvez um caminho seja adequar o tipo e número de clientes e tamanho do negócio à realidade. No meu caso, por exemplo, em um momento tive que decidir por atender apenas pessoas físicas e prestadores de serviços e por manter um escritório com poucos funcionários. O tipo de serviço que presto, de relação que mantenho com meus clientes e o estilo de vida que adotei funciona desse jeito", determina Levandovski.