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Aos 215 anos, Voluntários da Pátria aguarda melhorias de olho no futuro
Cruzando Centro Histórico e 4º Distrito, rua que aguarda por duplicação já foi berço do desenvolvimento
Quando Porto Alegre era um embrião cercado por mato e com título de vila, a abertura da rua batizada tempos depois de Voluntários da Pátria foi fundamental em seu progresso. Um dos primeiros traços planejados da cidade, a rua completa 215 anos em 2021. Foi palco da industrialização, depois do abandono e nos últimos anos voltou a atrair novas empresas e um grande projeto de revitalização.
Para entender a situação atual da Voluntários da Pátria é preciso fatiá-la, traçando uma linha imaginária da via que vai até a rua Conceição, cujo trecho é conhecido pelo varejo, e uma outra Voluntários, que cruza o 4º Distrito englobando os bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes e Humaitá. A primeira funciona como um organismo autônomo, catalisador de centenas de lojas e ofertas, com muita circulação de pessoas, parecida com a 25 de Março em São Paulo. É um importante polo comercial do Centro da Capital.
Já a segunda, deteriorada pela evasão e construções em ruínas, vive há pelo menos 10 anos com a esperança de uma mudança significativa em sua paisagem.
O projeto de revitalização do 4º Distrito, no qual a Voluntários é de estratégica importância, gera um misto de expectativa e descrença em moradores e empresários locais. Isso porque as obras públicas para alavancar a região ainda não saíram do papel. O que se tem são diagnósticos e concepções de como será o projeto, qual seu potencial e quanto ele irá custar, além da promessa da nova gestão em começar as intervenções ainda neste mandato (veja mais a seguir).
"Não podemos entregar para o próximo gestor um Powerpoint" é o mantra repetido pelo vice-prefeito Ricardo Gomes, que encabeça o projeto público de revitalização.
Na Voluntários da Pátria, as reformas consistem na duplicação entre a Conceição e a Sertório (3,5 km), instalação de ciclovias, corredor de ônibus, áreas verdes de uso comum e uma complexa obra de drenagem (700 metros da via já foram duplicados). Também se desenha um plano de negócios para atrair novas empresas e moradias nos prédios desocupados da via e cercanias.
Quem se lembra da região até a década de 1960 tem na memória um 4º Distrito pulsante, onde a Voluntários era o berço industrial e suas ruas paralelas e transversais abrigavam bares, lojas, clubes, casas noturnas e moradias.
"Eu amo minha família, amigos, meu time e meu bairro. Daqui eu só vou para o céu", romantiza Antônio Almeida (70 anos), presidente do centenário Clube Gondoleiros e desde sempre morador do bairro São Geraldo.
Ele recorda das lojas Marinha Magazine, Hermes Macedo, das casas germinadas de operários da antiga Fiateci, da fábrica da Coca-Cola sediada na rua Santos Dummond, onde dava para ver da calçada as garrafas sendo preenchidas pelo líquido negro. Como outros moradores, guarda na memória todas coisas boas do que foi o "bairro-cidade" de Porto Alegre.
Hoje, cada novo negócio que se instala na região traz de volta o otimismo do que ela pode ser e a lembrança afetiva do que já foi.
Polo de bares e cervejarias no bairro São Geraldo, a economia criativa próxima ao bairro Floresta e empresas de tecnologia, como a alemã TK Elevator (antiga Thyssenkrupp), repovoaram o território. Todos próximos ou sediados nas tantas ruas do entorno da Voluntários da Pátria.
Outro destaque é o Instituto Caldeira, hub que congrega 40 empresas com sede no bairro Navegantes e tem a missão de encorpar o ecossistema de inovação gaúcho.
Os incentivos públicos, porém, parecem insuficientes para atrair novos negócios de forma massiva. São isenções de IPTU e ITBI para segmentos de inovação. "Falta o elemento de transformação urbana. Um elemento visual, de segurança pública, de caminhabilidade e drenagem, que fazem parte do projeto", salienta o vice-prefeito Ricardo Gomes.
Por isso, moradores e empresários fazem o que podem para tornar a região mais aprazível a futuros investimentos privados e, ao mesmo tempo, desafogar as demandas municipais. A relação por grupos de WhatsApp com a Brigada Militar aumentou a segurança.
O cercamento de terrenos desocupados impede que os mesmos sirvam como depósito e queima irregular de lixo. Antes da pandemia, as cervejarias promoviam feiras ao ar livre para ocupar as ruas desabitadas do bairro São Geraldo. E de pouco em pouco, a iniciativa privada vai tratando de remediar alguns problemas.
Empresários e moradores buscam melhorias para o 4º Distrito
Na esquina da Voluntários da Pátria com a rua São João, um enorme terreno baldio gera impressão de descaso. Não de abandono, pois se vê alguns casebres nas costas do terreno, próximos à linha do Trensurb, e pilhas de lixo em frente à Voluntários. Foi criada uma força-tarefa em um dos grupos de WhatsApp da Associação Amigos do 4º Distrito para tratar do espaço. "Vamos buscar com a prefeitura a autorização para transformar o terreno em uma praça?", sugeriu um dos membros.
O advogado Rafael Fleck, presidente da Associação, saiu da reunião com o vice-prefeito Ricardo Gomes no dia 23 de janeiro com um aceno positivo: o terreno deve ficar sob responsabilidade dos Amigos do 4º Distrito até a duplicação sair do papel. A ideia é começar o cercamento e a reforma assim que houver o termo de permissão de uso, pois o grupo já tem R$ 40 mil em mãos fruto de doações de empresários locais.
O espaço é um entre as 63 áreas que devem ser desapropriadas para a conclusão das obras na Voluntários da Pátria. Mas tão importante quanto desapropriar é manter a área protegida de novas invasões, avalia Fleck.
Vizinha do terreno baldio na esquina da São João, a TK Elevator, empresa de origem alemã que está entre as líderes em fabricação de elevadores, contribuiu com a vaquinha para a futura praça. Instalada desde 2019 em uma edificação da Voluntários, a empresa atende toda América Latina durante 24 horas por dia. Até a chegada da Covid-19, congregava 330 funcionários.
Para Fabiane Sum, gerente do Centro de Serviços Compartilhados da TK, a rua tem um potencial imenso, mas é necessário um cuidado maior com a segurança pública e com os terrenos abandonados. "Falam na necessidade de duplicação, mas não vi a rua congestionar desde que estamos aqui", diz.
Segurança pública tornou-se ainda mais prioritária para a empresa quando duas colaboradoras sofreram um sequestro relâmpago na frente da firma, em plena luz do dia.
"Há um ano a rua estava muito insegura, mas houve integração da comunidade com a Brigada Militar por meio de grupos de mensagem e a taxa de crimes caiu. "Falta fiscalização dos imóveis abandonados", acrescenta o empresário Caio de Santi, sócio-fundador da 4Beer, cervejaria com sede no bairro São Geraldo.
Antes da pandemia, empresários do ramo de bares e cervejarias promoviam feiras de rua nas transversais da Voluntários da Pátria em datas como Saint Patrick's Day e Oktoberfest. As vias, conhecidas por sua falta de circulação, se enchiam de pessoas. "A gente até criou um personagem chamado Seu Geraldo em homenagem ao bairro", conta o sócio da 4Beer.
Outros empresários reclamam dos alagamentos, um problema habitual na história da rua, que ocorre da Estação Rodoviária até a Arena do Grêmio. "Mesmo com uma chuvinha rápida já entra água na loja", protesta Paulo Colombo, sócio da Sacaria Colombo. Há 40 anos sediada na Voluntários da Pátria, 2.873, a Sacaria Colombo é um dos comércios em atividade mais antigos da rua.
"O bairro já tem o nome de Navegantes e me parece que ainda é condizente. Quando chove interrompe toda a rua", salienta Marise Mariano, superintendente do DC Shopping, localizado na Voluntários, 4.389, quase saída de Porto Alegre.
A superintendente lembra que há cerca de dois anos empresários da região do DC se uniram para financiar uma limpeza na Casa de Bombas nº 5, responsável pela drenagem do bairro Navegantes. Desde então houve uma pequena melhora.
Na mão de empresários e da comunidade, o 4º Distrito vem recebendo pequenos reparos que dão sobrevida à região até que o grande projeto público seja iniciado. No entanto, embora essa união tenha feito a diferença na paisagem do 4°Distrito, ainda falta um longo processo até torná-lo, de fato, atrativo.
Segundo o presidente da Associação Amigos do 4º Distrito, a realidade ainda é de evasão de moradores. "Nos últimos anos, a impressão é que mais saíram moradores do que entraram". Para combater esse cenário, afirma ele, é preciso deixar a região mais atrativa, o que aconteceu, principalmente, com o esforço da comunidade e o reforço do poder privado.
Polo de inovação renasce na antiga área industrial
Se, por um lado, ações pontuais do poder privado no 4º Distrito geram melhorias em infraestrutura e segurança, de outro há um movimento de reativação econômica para transformar a antiga área industrial em celeiro de startups e inovação. "O 4º Distrito está no imaginário do porto-alegrense há muito tempo. Existe um frame oportuno de desenvolvimento e de uma ressignificação urbana para o local", diz Pedro Valério, CEO do Instituto Caldeira.
Materializado pelo Pacto Alegre, o Instituto é uma iniciativa que reúne 40 grandes instituições com a intenção de trazer mais competitividade ao Estado e plantar um novo "mindset" de negócios no Rio Grande do Sul.
O objetivo é a colaboração entre instituições tradicionais e fintechs, ativação e aceleração de startups, troca de experiências e outras ações que recaiam sobre o bojo da "nova economia".
O espaço físico fica a poucos minutos da Voluntários da Pátria, em 22 mil metros quadrados do antigo complexo industrial A.J Renner, no bairro Navegantes. Inclusive é daí que vem o nome do Instituto, inspirado nas caldeiras importadas da Europa por A.J Renner na década de 1920 e que ainda seguem no espaço. "Agora, nós vamos gerar energia para um novo capítulo do Rio Grande do Sul", diz, otimista, Valério.
A sede de toda essa inovação mistura o ambiente industrial das fachadas e fundações preservadas com um interior moderno, cheio de jardins e ambientes colaborativos. Uma projeção bem visual desse espírito de conciliação entre o disruptivo e o tradicional.
Em etapa de conclusão, o espaço na Travessa São José deve receber as primeiras empresas quando os casos de Covid-19 estabilizarem. Grupo Iesa, Grupo Zaffari, Renner e Grendene são algumas empresas que estarão no espaço.
Embora não se restrinja aos limites geográficos da região, o Instituto Caldeira traz perspectivas positivas para o 4º Distrito. "Com certeza vai aumentar a circulação aqui dentro, especialmente no espaço gastronômico", projeta a superintendente do DC Shopping, Marise Mendes. O DC divide a área do antigo complexo industrial com o Instituto Caldeira, o que acentua ainda mais a relação entre os dois.
"Quanto mais pessoas e empresas ocuparem a região, melhor será a infraestrutura e os serviços para acomodar esse movimento. Nascem novos restaurantes, mercadinhos e assim por diante", lembra a gerente do Centro de Serviços Compartilhados da TK Elevator, Fabiane Sum.
Segundo avaliação do presidente da Associação de Empresas dos bairros Humaitá e Navegantes, Luiz Carlos Camargo, o polo de inovação na região capacita indiretamente empresas tradicionais já instaladas a se modernizar.
Revitalização inicia fase final de planejamento
O 4º Distrito tem potencial construtivo de 1 milhão de metros quadrados com estimativa de R$ 1 bilhão que podem ser arrecadados à prefeitura através da venda desse potencial. É o que indica os estudos que desenham uma Operação Urbana Consorciada para a região, o modelo que tem tudo para ser o escolhido do Paço Municipal como norteador das obras no território.
O próximo passo é estabelecer um plano de negócios, o desenho da operação de incentivos econômicos para o projeto finalmente aflorar. "Temos que ver de onde virão os recursos públicos para as obras do poder municipal e qual é a atratividade que se pode conseguir para a iniciativa privada ocupar a região", diz o vice-prefeito Ricardo Gomes, acrescentando que tem muitos interessados, mas que a prefeitura precisa fazer sua parte primeiro.
O projeto deve ser realizado por fases, mas ainda é preciso definir qual a parte do 4º Distrito que será escolhida para dar início às obras. No modelo estudado pela prefeitura, o potencial construtivo é vendido primeiro e quem compra pode alocar seus metros quadrados em qualquer lugar da área demarcada, que nesse caso é o 4º Distrito.
Com a venda do potencial, a prefeitura gera recursos para realizar as obras na região. "Uma hipótese é expandir o potencial do 4º Distrito para o bairro Moinhos de Vento, e daí podemos vender o potencial construtivo do Moinhos e usar o recurso para as obras de revitalização", avalia Gomes.
No entanto, um dos desafios em dividir o projeto é que algumas intervenções públicas não podem ser feitas por etapas. Exemplo disso é a questão da drenagem, um sistema único que deve custar em torno de R$ 600 milhões e abrange todo território. O Dmae estuda uma Parceria Público Privada para as obras de saneamento da região.
Outro ponto importante do projeto é incentivar a ocupação habitacional para além da atração de empresas, avalia Vaneska Henrique, da Unidade de Estudos Urbanos da prefeitura. Segundo a arquiteta e urbanista, as edificações inventariadas podem servir para conjuntos habitacionais como Minha Casa, Minha Vida e residências de classe média. "É importante estabelecer múltiplos usos no território, inclusive de habitação", reforça Vaneska.
A reutilização de edificações antigas está prevista no Masterplan do 4º Distrito, plano conceitual produzido pela Ufrgs que desenha o território revitalizado, dando ênfase para um desenvolvimento sustentável.
Segundo o vice-prefeito, esse é um dos motivos que fazem a revitalização não depender necessariamente do mercado da construção civil. "O que se vê no 4º Distrito é a reativação de diversos espaços que estavam em desuso ao invés de novas edificações".
Agora, a prefeitura está compilando todas as informações sobre o projeto em um corpo único para definir qual modelo seguir e por onde começar para depois apresentar na Câmara de Vereadores. "Saímos de uma fase de diagnóstico e conceitos, para o planejamento executivo. A ideia é começar ainda o quanto antes, mas a Covid-19 tem nos atrasado", lamenta Gomes.
Todo o projeto de revitalização do 4°Distrito deve durar em torno de 10 anos, segundo consultorias contratadas pela prefeitura de Porto Alegre.
Velho Caminho Novo:a história da Voluntários
Fundada em 1806 com o nome de "Caminho Novo", a rua que somente em 1870 seria batizada de Voluntários da Pátria em homenagem aos soldados da Guerra do Paraguai, foi uma das primeiras vias planejadas de Porto Alegre. "Uma estrada e caminho público que, ao mesmo tempo, facilita a comunicação da Vila para as quintas situadas na margem do rio, era um passeio agradável aos moradores pela sua largura e sombras que faziam as árvores plantadas", escrevia, em carta, o então governador Paulo José da Silva Gama explicando à corte do Brasil sobre a construção.
Quando eclodiu a Revolução Farroupilha, as construções de extensão foram paralisadas, sendo retomadas a partir de 1840. Os dados são do livro "Porto Alegre: Guia histórico", do historiador gaúcho Sérgio da Costa Franco.
Até serem aterradas, as margens do Guaíba encostavam na Voluntários Pátria, o que pressionou a rua a ser tornar atracadouro das embarcações que chegavam em Porto Alegre. A construção do estaleiro começou onde hoje fica a Praça Rui Barbosa e enfrentou protestos de moradores que alertavam para a descaracterização do que, naquela época, era o cartão postal da cidade. E de fato, foi o que ocorreu. A via repleta de árvores e com ares bucólicos se transformou num frenesi industrial.
A instalação da linha férrea na rua, em meados de 1876, contribuiu ainda mais para o fenômeno progressista. "A Voluntários representa a expansão da cidade. É uma rua que foi construída para sediar a área industrial e portuária de Porto Alegre", lembra Tiago Holzmann, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS.
Fábricas e oficinas já se instalavam na rua entre final do século XIX e início do século XX, atraídas pelas vantagens logísticas da ligação com a via férrea e fluvial. Tornou-se chamariz de imigrantes que vinham trabalhar nos extintos moinhos de trigo, indústrias de tecelagens e outros segmentos que se formavam na época. Foram responsáveis pela criação de diversos clubes sociais, como o Grêmio Náutico União.
"O 4º Distrito funcionava com fábricas e residências de operários. O conceito de bairro-cidade é bem moderno, a ideia de uma cidade compacta. Isso já se via no 4º Distrito no início do século passado", ressalta a professora de Arquitetura e Urbanismo da Pucrs, Leila Mattar, que fez pesquisas de mestrado e doutorado sobre o antigo distrito industrial da cidade.
Já o processo de degradação da Voluntários, que ocorreu com a saída das mesmas fábricas responsáveis pelo seu boom, começou a partir de 1970. Além das indústrias, a saída de moradores contribuiu para seu abandono. O aterro do Guaíba e a extinção da linha férrea foram alguns dos motivos para saída das indústrias rumo à Região Metropolitana, avalia Leila.
"A razão primordial das instalações dali se perdeu. Com a chegada do transporte rodoviário, algumas transportadoras ocuparam essa área, mas depois acabaram sendo transferidas para o Porto Seco", completa.
Primeiro trecho da Voluntários
Rua inicia próxima ao Mercado Público, com edificações baixas, calçada ladrilhada e um varejo tradicionalmente pujante. As construções mais antigas, preservadas as intempéries do tempo, formam uma trilha de sobrados neoclássicos, e recordam à época em que o segundo piso era a moradia dos comerciantes. Nas primeiras quadras, Galeria Realeza Center (nº 82), Ferragem Gerhardt (nº120) são alguns exemplares dessa arquitetura.
Entre a Praça Pereira Parobé e o Viaduto da Conceição (cerca de 700m), a circulação de pessoas é frenética em horário comercial. Lojas de roupas, acessórios, calçados, joalherias, farmácias e ítens para casa; lancherias e o comércio informal de bugigangas, exposto em lonas esticadas no chão, compõem essa fatia varejista. Segundo o Sindilojas, há 425 lojas do varejo neste trecho.
Na entrada das lojas porta-vozes cantam ofertas e jargões para chamar às compras quem passa. “Fábrica de Calcinhas!”; “Compro ouro, vendo ouro!”; “Ofertas imperdíveis!” são trilhas sonoras que embalam o dia-a-dia na rua. O comércio paralelo de celulares também usa o espaço como posto de compra e venda de aparelhos, sem se acanhar com policiamento constante no trecho.
Conhecido como camelódromo, o Pop Center (nº 220) é outro furor do comércio popular. Localizado na Praça Rui Barbosa, em cima do terminal de ônibus que conecta o Centro à Zona Norte e Região Metropolitana, o espaço congrega 740 lojas. A partir do Pop Center, a densidade de pessoas e lojas vai diminuindo até chegar no viaduto da Conceição.
Segundo trecho
Engloba o bairro Floresta, onde está o trecho da Voluntários com as obras de duplicação concluídas: cerca de 780 metros entre a Conceição e a Ramiro Barcelos, entregues com seis anos de atraso. O alargamento da via não parece mudar sua impressão degradada, exposta nas fachadas de prédios ruindo que se enfileiram a partir desse trecho.
Até metade do século XX, quando as margens do Guaíba iam até a Voluntários, na fatia de rua próximo a Estação Rodoviária grandes armazéns de secos e molhados ocupavam a região. As mercadorias chegavam por via fluvial e eram escoadas por trem. Entre a rua Garibaldi e Barros Cassal, havia a Fábrica de Chapéus Kessler em 1929, e entre a rua Câncio Gomes e Paraíba, a loja de móveis F. Marquardt, de 1927. Elas e a maioria dos armazéns foram demolidos
As edificações baixas predominam até a Ramiro Barcelos e abrigam ferros velhos, funilarias, restaurantes e estacionamentos. Entre esses locais, duas igrejas evangélicas, o hotel Ritter e carcaças de antigas edificações há muito tempo abandonadas.
A circulação de catadores e carrinheiros é constante, pois essa parte é um polo do comércio de reciclagens. À noite, algumas esquinas são ponto de prostituição.
Entre a Câncio Gomes e a Almirante Barroso, as ruínas da antiga fábrica de fogões da Wallig também dão o tom de abandono. Na frente fica a Aparas Guarise (nº 2128), voltada à reciclagem de papéis.
Logo após o cruzamento com a Ramiro Barcelos, a Subestação Porto Alegre 7 da CEEE, ocupa toda a quadra seguinte, do lado esquerdo de quem vem do Centro, e foi finalizada em 2019. E depois o Loteamento Santa Terezinha, conhecido como Vila dos Papeleiros, na altura da Voluntários nº 1980.
Em fevereiro de 2005, a antiga Vila dos Papeleiros foi atingida por um incêndio. A partir de 2006, novas casas e áreas de uso comum foram construídas pela Prefeitura, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e entregues à comunidade. O terreno já foi também o estacionamento dos trens da antiga linha férrea.
Terceiro trecho
Engloba o bairro São Geraldo. A partir do cruzamento com a rua Câncio Gomes, surge uma Voluntários da Pátria que já foi o motor desenvolvimentista da Capital, sede das principais fábricas da cidade até a década de 1960. Atualmente, parte dos antigos prédios fabris já foram ocupados por novos empreendimentos, enquanto outros estão em desuso. Uma nova cena de bares e empresas de tecnologia também cresce nas imediações do bairro. A circulação de pedestres nessa parte da Voluntários é muito pequena.
O prédio do Moinhos Chaves (n°3303), projetado em 1920 pelo arquiteto Theodor Wiederspahn, hoje é ocupado pela empresa de ar-condicionados DuFrio e segue bem conservado em relação à sua arquitetura original.
O Moinho Rio Grandense (nº 2847), outro importante marco arquitetônico da cidade, está desocupado há bastante tempo e sua casca degradada. O Moinho Rio Grandense e o Moinho Chaves são precursores da arquitetura moderna na cidade, caracterizada pela ausência de adornos.
A Maltaria Ambev Navegantes (nº 2619), inaugurada em 2011, é a maior indústria no segmento cervejeiro da região.
A TK Elevator (novo nome da Thyssenkrupp) ocupa um prédio na Voluntários nº 2862 desde 2019, tornando-se a principal empresa de tecnologia do trecho.
Uma das principais responsáveis pela industrialização da região, a Companhia Fiação e Tecidos Porto Alegre (Fiateci), de 1891, deu origem ao Rossi Fiateci, um conjunto habitacional lançado em 2015 na Av. Polônia. O Complexo fabril chegou a ocupar um quarteirão: da esquina da Voluntários (nº 3085) com a Av São Pedro, passando pela Av Polônia e rua Santos Dumont. Na área da Fiateci que fica em frente a Voluntários prometia-se um novo shopping, que não saiu devido ao processo de recuperação da construtora envolvida.
Na altura da Av Brasil, a antiga fábrica de móveis Gerdau, de 1911, é ocupada atualmente pela empresa de depósitos Guarda Bem (nº 3605). O prédio, cujo projeto também é de Theo Wiederspahn, foi bastante descaracterizado do original.
Hoje o bairro São Geraldo também chama atenção pelo seu polo de novos bares e cervejarias. Mesmo que não estejam propriamente na Voluntários da Pátria, eles ocupam seu entorno, dando uma nova cara para a região. Bares como o Agulha (Conselheiro Camargo, 300), Oculto (Moura Azevedo, 46), Jardim São Geraldo (Moura Azevedo, 182) e a cervejaria e destilaria 4Beer (Polônia, 200) são alguns formadores dessa nova cena.
Quarto trecho
Engloba o bairro Navegantes. Cerca de 2,7 km entre a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes e a Arena do Grêmio, quando a Voluntários da Pátria chega ao seu fim. Trecho que liga Porto Alegre à Freeway e Região Metropolitana.
O desenvolvimento urbano dessa fatia aconteceu a partir da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, cuja terceira conclusão se deu em 1919. O local foi atingido por um incêndio em 1910 e depois reconstruído definitivamente. Seu estilo neogótico, com torre única e duas naves laterais fica escondido embaixo do viaduto da BR-116. Antes da pandemia, a romaria ao dia da santa (2 de fevereiro) atraía cerca de 100 mil fiéis na Capital.
A 900 metros da Paróquia, o DC Shopping, localizado na Voluntários da Pátria, n°4389, é outra importante construção na área, com cerca de 23 mil m² de área construída. Intitulado o maior centro de decoração e design da Região Sul, o espaço ocupa parte das antigas instalações da fábrica de A.J Renner.
Um vizinho muito aguardado na região é o Instituto Caldeira, organização sem fins lucrativos que planeja atrair um hub de inovação e tecnologia para dentro do complexo A. J Renner. O espaço a ser ocupado fica nas costas do Shopping DC, cerca de 22 mil m² na área fabril da TV. São José, 455, localizada próxima a Voluntários.
O Instituto Caldeira, que está em fase de finalização das obras, é esperado com muito otimismo por empresários e moradores da região. O nome Instituto é inspirado nas antigas caldeiras importadas da Europa por A.J. Renner na década de 1920.
No início do século, a região do Navegantes sediou um despertar econômico impulsionado pela grande produção das fábricas de tecelagem e fiação de Antônio Jacob Renner (1884 - 1966), também criador da FIERGS e bastião da indústria gaúcha. Na década de 1930, o complexo se estendia por mais de um quarteirão, com sucessivas construções para diversificação da produção.
Entre o DC Shopping até a comunidade que ocupa o entorno da Arena praticamente não existe circulação de pedestres na Voluntários, apenas de carros. Antes de chegar ao estádio tricolor, há o prédio da Triunfo Concepa (n°4813) e o Depósito das Lojas Colombo, cujo acesso se dá pela rua Frederico Mentz.
A Arena do Grêmio marca o final da Voluntários da Pátria e atrai muitos gremistas em dias de jogo, alavancando a renda dos bares da comunidade que circunda o estádio. A promessa habitacional vendida junto com a Arena ainda não foi concretizada.
Cinco das sete torres residenciais construídas ao lado da Arena do Grêmio ainda não tem o habite-se e por isso não podem receber moradores. As torres Bella Vista e Gran Vista conseguiram o habite-se em março de 2017. A área no entorno da Arena ainda deve receber obras de estação de esgoto e duplicação das vias, mas que não inclui a Voluntários.
Pedro Carrizo é jornalista formado pela Universidade Ritter dos Reis. Teve passagens pelo Jornal do Comércio e, hoje, atua profissionalmente como repórter free-lancer.