Com 4 mil alunos em Passo Fundo e 1 mil em Porto Alegre, a IMED, instituição privada fundada em 2004, acelera na direção de novos modelos de negócios que incluam a adoção de soluções digitais para a educação a partir da proximidade com startups. Com previsão de faturamento líquido de R$ 100 milhões em 2020, tem planos ousados também para estimular a economia do Rio Grande do Sul, como ao liderar a construção de polos de inovação regionais nos locais em que instalar as suas unidades acadêmicas. É o que está acontecendo neste momento na região Norte do Estado, com a criação de uma aliança empresarial que conta com a participação da IMED e mais oito grandes empresas. "As regiões do Rio Grande do Sul que não fizerem ações como essas vão degradar economicamente nos próximos 20 anos", alerta o CEO e um dos fundadores da IMED, Eduardo Capellari.
Empresas & Negócios - Você é otimista com os movimentos que o Estado tem feito na direção da inovação?
Eduardo Capellari - Não conheço empreendedor pessimista. Sou otimista e vejo mais oportunidades nesse processo todo que ameaças. Aliás, ameaça é para quem assumir uma posição defensiva. Se tivermos uma postura ofensiva e enxergarmos todas as oportunidades que estão aparecendo para as nossas empresas e para o Estado, vamos avançar. O Rio Grande do Sul é uma das regiões mais desenvolvidas do Brasil e com muitos profissionais qualificados. Temos tudo para vencer. O problema do gaúcho não é o dinheiro para investir, mas a cabeça ainda um pouco fechada, a necessidade de controlar tudo.
E&N - O movimento pela inovação na região Norte é uma resposta a esse novo cenário?
Capellari - Sim, esse é um movimento genuinamente empresarial, que começou a ser pensado há dois anos. Construímos uma relação com as oito empresas que fazem parte da aliança empresarial da Região Norte do Rio Grande do Sul - BSBios, Coprel, Cotrijal, Farmácias São João, Grupo Grazziotin, Hospital Ortopédico, Metasa e Oniz Distribuidora. Levamos anos conversado com os empresários para gerar confiança e avançar para esse modelo de aliança. Mapeamos empresas acima de R$ 50 milhões de faturamento e vimos que tem 1,2 mil no Estado que se enquadram neste perfil. A gente até achou que o Rio Grande do Sul era mais rico. Do total, 170 estão na região Norte, atuando em segmentos como agronegócios, saúde, varejo, educação e energia. Essas devem ser as cinco grandes áreas que vamos atender.
E&N - Qual a expectativa para o avanço da inovação das empresas da região Norte nos próximos meses?
Capellari - A ideia é que todos se coloquem na condição de, em 2021, iniciar programas de inovação aberta dentro das empresas, com perspectiva de aproximação com startups. Estamos seguindo um modelo que vem sendo construído em outras regiões do Rio Grande do Sul RS, e um que nos chama atenção é o da Serra, com a Hélice (que tem como mantenedoras a Marcopolo, Soprano, Randon, Florense e Metadados). Mas, claro que as empresas da região Norte, assim como acontece de uma forma geral, não estão todas no mesmo alinhamento. Elas têm momentos diferentes. Mas, com estas oito mais a IMED, que fazem parte da aliança, chegamos a um acordo de trabalho mínimo, que permite uma articulação política e institucional importante daqui para frente. As que estão com seus processos mais adiantados, vão montar seus fundos corporativos de investimento nas startups. A IMED vai colaborar com essas empresas para ajudar a estruturar esses modelos.
E&N - A ideia é criar uma identidade regional voltada para a inovação?
Capellari - Essa é uma questão importante. A Serra gaúcha, por exemplo, já tem uma identidade muito forte. Mas, a região Norte é muito heterogênea do ponto de vista cultural. Estamos aproximando municípios que ainda não dialogam tanto, como Erechim, Tapejara e outros, para criarmos uma identidade regional mais forte. E tem o entendimento comum das empresas de que sozinho ninguém vai fazer acontecer. Só com a coesão entre todos os players que vamos conseguir. Essas grandes empresas podem ajudar a preparar a nova geração de empreendedores e de negócios bem sucedidos.
E&N - Como vai ser estruturado esse hub de inovação?
Capellari - Em fevereiro deste ano começamos a pensar melhor esse projeto no sentido de ter um espaço físico, mas aí veio a pandemia. A expectativa agora é que esteja pronto final de março de 2021. A nossa sede jurídica é a Fundação IMED. Vamos reformar o espaço para criarmos ali uma lógica de coworking, laboratório de prototipagem e um ambiente para receber startups. Uma das nossas referências neste modelo é a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate).
E&N - Que reflexos você espera que esse movimento tenha nos próximos anos na economia do Estado?
Capellari - O Rio Grande do Sul perdeu 700 mil habitantes na última década, grande parte jovens em idade economicamente ativas e talentosos. O mesmo aconteceu com a nossa região - muitos foram embora depois de se formarem. Na medida em que temos a oportunidade de conectar startups com empresas com solidez econômica, geramos oportunidade de retenção de talentos, diversificamos a nossa economia e aumentamos a geração do Produto Interno Bruto (PIB). As regiões do Rio Grande do Sul que não fizerem isso vão degradar economicamente nos próximos 20 anos.
E&N - Como você enxerga o papel das universidades neste movimento pró-inovação?
Capellari - Temos que pensar a inovação como um modelo de negócios. Esse movimento começou na academia há cerca de 20 anos, com lideranças como Jorge Audy (superintendente de Desenvolvimento e Inovação da PUCRS), que é uma pessoa que inspirou muita gente. Mas, as universidades ainda estão muito distantes do mundo empresarial, da forma como os empresários pensam. Claro que elas são muito importantes no movimento de evangelizar o mercado para esse tema da inovação, mas nos últimos anos esse é um movimento que está sendo protagonizado pelas empresas, que compreenderam que tinham que repensar o seu modo de atuar. A IMED vê isso como uma grande oportunidade. Entendemos que não tutelamos o movimento pela inovação, ele não vai aguardar o ritmo da academia. As universidades precisam mudar a forma de fazer, senão ficarão para trás. E isso significa tomar risco junto, como fazem as instituições de ensino em Israel e nos Estados Unidos, por exemplo. O capital precisa estar perto dos empreendedores. A IMED vai criar um fundo com valor mínimo de R$ 2 milhões para investir nas edtechs, as startups de educação. As universidades ainda são conservadoras, não tomam risco, mas a gente quer ir por outro caminho, pois isso que vai ser, de verdade, conectar a academia com o mundo empresarial.
E&N - Quais são os planos de futuro da IMED?
Capellari - Um vetor de crescimento é abrirmos campus em lugares que não tínhamos, cidades polo como Caixas do Sul, Novo Hamburgo e Santa Cruz, nos próximos cinco anos. Em cada local teremos um hub de inovação conectado com as empresas. A cadeia da educação é nosso foco principal, mas vamos estar fortes em outros setores também.