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Busca por imóveis maiores e com áreas verdes aumenta durante a pandemia
Novos hábitos adotados em função da quarentena influenciaram busca por outros conceitos
Diante das incertezas do futuro e da viabilidade de uma vacina que possa conter o avanço da pandemia de Covid-19, gaúchos de diversas faixas de renda estão optando por espaços mais amplos e arejados na compra de imóveis residenciais.
Somando mais de 180 dias de isolamento social - evitando locais como shoppings, clubes, academias e parques devido às aglomerações - os consumidores passaram a buscar moradias que possibilitem melhor qualidade de vida dentro das residências, destaca o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior. A a demanda mais aquecida, segundo ele, é a de casas com pátio em condomínios fechados, principalmente em regiões mais afastadas do Centro, a exemplo na zona Sul de Porto Alegre.
Já o perfil de quem procura este tipo de imóvel é de casais com filhos. "Estes empreendimentos permitem que as crianças e inclusive os animais de estimação brinquem no pátio, e que os adultos possam realizar caminhadas pelos condomínios", ilustra o dirigente do Sinduscon-RS.
De acordo com Dal Molin Júnior, o consumidor que escolhe apartamento tem optado por alternativas com sacadas, janelas amplas ou terraços - residências que viabilizam maior contato com a luz solar. "Apartamentos maiores,e com vista estão sendo a preferência", relata.
Neste caso, em Porto Alegre, os bairros mais procurados são os que contornam a Orla do Guaíba. "Quando o Trecho 3 e o Pontal do Estaleiro forem entregues, haverá uma modificação urbana importante, valorizando toda essa região próxima à orla, principalmente o Menino Deus e o Cristal", acredita.
"A tendência é que os novos projetos de construção residencial já considerem apartamentos maiores, e que os espaços de moradia limitados percam força", avalia o presidente do Sinduscon-Litoral Norte, Alfredo Pessi. O dirigente observa que os empreendimentos com infraestrutura de lazer também passarão por um upgrade.
Os novos residenciais na praia, diz Pessi, irão apresentar novidades, incluindo locais reservados para hortas comunitárias e destinados a caminhadas de condôminos, além dos tradicionais espaços para piscina, academia, salão de festas, e playground pra crianças.
Também aumentou e está grande a procura por loteamentos na Região Metropolitana de Porto Alegre e em municípios do Interior e do Litoral Norte, comenta o vice-presidente da Comissão de Loteamento do Sinduscon-RS, Sérgio Bottine Júnior, que é proprietário da Nova Ipanema Empreendimentos Imobiliários. O empresário reforça que as pessoas estão trocando locais situados em áreas com maior concentração e fluxo para morar em bairros mais distantes e com espaço de convivência e contato com a natureza.
Produtos que estavam parados há tempo no mercado, observa Bottine Júnior, foram todos vendidos. "Na nossa empresa, atualmente estamos sem estoque", exemplifica. Segundo ele, sair de um apartamento de dois dormitórios para uma casa com o dobro do espaço, com possibilidade de se estruturar um home office, e ainda ter pátio e piscina virou febre entre famílias de classe média nos últimos seis meses.
Isolamento força mudança nos hábitos familiares e no trabalho
O comportamento do consumidor do mercado imobiliário mudou. Casas e apartamentos são os mesmos, porém, a forma como os clientes estão vivendo alterou conceitos - e surgiram outras necessidades, inclusive de propiciar o trabalho home office. "Além de espaço para trabalhar na residência, as pessoas estão realmente demandando mais qualidade de vida. A pandemia privou as pessoas de liberdade", comenta a gerente da área de Vendas da Guarida Imóveis, Elcia de Oliveira Silva.
Por conta do isolamento social necessário, observa a gerente, hoje quem mora em apartamento não está podendo caminhar, praticar atividades físicas, brincar com os filhos e passear com os animais de estimação. Segundo Elcia, além das casas em condomínios horizontais, também as casas de rua estão no foco do consumidor. "Nos últimos seis meses, tivemos um crescimento representativo na aquisição destes produtos, tanto para os de rua quanto os situados em condomínios fechados."
De acordo com Elcia, de março até julho deste ano, as vendas de casas na Guarida Imóveis subiram 35,29% frente ao mesmo período do ano passado. De junho a julho, a variação foi de 150% na quantidade de casas vendidas em comparação ao mesmo período em 2019.
"Os condomínios horizontais oferecem estrutura mais ampla e qualificada: alguns têm parques, laguinhos, locais onde se pode andar de bicicleta, a exemplo dos empreendimentos Terra Ville e Alphaville, na zona Sul da Capital", destaca Elcia. "Tivemos vendas expressivas de casas nestes dois condomínios nos últimos meses."
O proprietário da Kotel Imobiliária, Marcelo Chachamovich, observa que, há vários anos, o mercado vem se adaptando para oferecer condomínios com espaços que contemplem os consumidores em busca de maior contato com a natureza. "O Terra Ville é perfeito para quem gosta de casa: é um local com muito verde, tem segurança, e sua infraestrutura permite que os moradores façam todas as atividades do dia a dia ali mesmo", exemplifica
Segundo Chachamovich, a zona Leste de Porto Alegre passou recentemente a oferecer também alguns condomínios fechados com o "viés da natureza". "Acredito que esta é uma tendência que vai crescer, não só por causa da pandemia, mas pela qualidade de vida que proporciona", opina o proprietário da Kotel Imobiliária.
O cenário é o mesmo no Litoral Norte do Estado. "As casas em Imbé estão sendo vendidas tão rapidamente que, às vezes, não conseguimos atualizar os sites", destaca o proprietário do escritório MW Corretores de Imóveis, Marlon William Alves.
Já quem tem optado por apartamento na praia mostra preferência por imóveis com sacadas que possibilitem a implementação de jardins verticais. "As pessoas estão mesmo querendo se conectar de alguma forma com a natureza", reforça.
Litoral e áreas próximas da natureza estão entre as preferências dos compradores
Já considerada como o "maior êxodo da história recente da Capital", a migração de pessoas para o Litoral Norte é outra mudança importante no mercado imobiliário gaúcho. Contando com 395 mil habitantes fixos antes da pandemia, a região, que abrange 23 municípios, agora abriga 600 mil moradores, segundo cálculo da Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte).
"A praia é sinônimo de qualidade de vida, e tem atraído muitos profissionais com possibilidade de trabalhar em casa, mas também muitos aposentados", resume o presidente do Sinduscon-Litoral Norte, Alfredo Pessi. Ele observa que a recente leva de inaugurações de restaurantes, lojas de departamento, supermercados, escola e hospital constituiu a infraestrutura que faltava para atrair novos moradores na região.
Pessi pondera que, deste volume de milhares de novos habitantes praianos, a maioria já possuía imóvel em algum município do Litoral Norte, além da residência em outra cidade. "Mas teve um percentual de 10% desta população que não tinha imóvel por aqui e comprou recentemente", emenda.
As cidades litorâneas que mais receberam novos moradores foram Capão da Canoa, Xangrilá, Tramandaí, Imbé e Torres, afirma o dirigente do Sinduscon local. Ainda de acordo com Pessi, os estoques de casas em condomínios fechados estão praticamente esgotados. "A maioria foi vendido, isso vale também para os terrenos."
Março foi um mês muito ruim, mas a partir da metade de abril as vendas no Litoral começaram a aquecer e foram crescendo de forma gradativa, comenta o proprietário do escritório MW Corretores de Imóveis, Marlon William Alves. "Dá para dizer que aumentou 200% a busca de imóveis na empresa", afirma, ao comentar que em 10 anos de trabalho este foi o de melhores resultados.
"Antigamente, tínhamos o bom negócio, mas era preciso correr atrás do cliente, hoje temos muita demanda e estamos precisando ir atrás de um bom negócio, pois às vezes tem três clientes para comprar um mesmo imóvel", compara Alves. Ele destaca que os gaúchos estão procurando "fugir da Capital e Região Metropolitana para obter uma qualidade de vida melhor, e respirar ar puro."
Antes da pandemia, a tendência eram os imóveis compactos, com áreas de coworking agregadas aos prédios - agora, as pessoas passaram a dar valor para espaços amplos e contato com a natureza, concorda o proprietário da Nova Ipanema Empreendimentos Imobiliários, Sérgio Bottine Júnior. "Atualmente, há uma grande necessidade das pessoas de pisar na grama, algo que antes era normal e que passou a ser especial", define.
"Há pouco tempo, vendi uma casa no Litoral e a pessoa pediu para tirar o piso do pátio e colocar grama, foi uma condição para fechar o negócio", confirma o proprietário do escritório MW Corretores de Imóveis, Marlon William Alves. "Quem chega na praia quer plantar, quer ter horta em casa", define.
Momento é propício para compra de imóvel, recomendam especialistas
Quem pode investir em um imóvel deve fazê-lo agora, pois em 2021 a empreitada pode ficar mais cara. Com o aquecimento das vendas, o estoque de imóveis está reduzido, cenário que pode ser observado em Porto Alegre. "Se continuar neste patamar de demanda, a tendência é de uma revalorização dos produtos em geral, com consequente aumento dos preços previsto para o ano que vem", estima o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior.
Com a taxa Selic a 2% (a mais baixa da história), o momento atual conta ainda com a redução da burocracia para empréstimos imobiliários em diversos bancos, puxados pela Caixa Econômica Federal. Aliado a isso, a baixa atratividade dos produtos financeiros em renda fixa está gerando interesse dos investidores para o mercado imobiliário. "É uma aplicação mais segura e com rentabilidade na perspectiva na valorização dos imóveis que ocorrerá a partir de janeiro," detalha Dal Molin Júnior.
"A hora de comprar imóvel é agora", reforça a gerente de Vendas da Guarida Imóveis, Elcia de Oliveira Silva. "Temos em nossa cartela muitas casas em oferta, sem variação de preços, com a taxa Selic e os financiamentos mais facilitados", relata, ao comentar que os proprietários vêm aceitando condições diferentes. "Cada vez que reduz a Selic, baixa o valor do financiamento imobiliário, proporcionando que mais pessoas tenham acesso à casa própria, e isso é muito bom", emenda o proprietário da Kotel Imobiliária, Marcelo Chachamovich.
Segundo o empresário, a crise gerada pelo isolamento social gerada pela pandemia de Covid-19 abalou muitos setores, mas o mesmo não aconteceu com o da construção civil e do mercado imobiliário. "Para se ter uma ideia, não tem aço suficiente para dar conta da demanda de obras", concorda a corretora autônoma Cláudia Machado da Rosa.
No entanto, Chachamovich pondera que, apesar de uma maior procura, os clientes estão demorando um pouco mais para tomar a decisão. "Hoje em dia, a informação está mais fácil de acessar, e o consumidor tem pesquisado bastante pela internet", relata. Mesmo assim, não há o que reclamar. "Tem muita gente querendo aproveitar este momento de pandemia para mudar de residência, dando prioridade para a moradia, que antes ficava em segundo plano."
"É hora de investir em imóveis porque é um bem que sempre valoriza", completa o proprietário do escritório MW Corretores de Imóveis, Marlon William Alves, apontando que, no Litoral Norte, aumentou muito a busca por terrenos. "Tem muita obra e construção saindo, as madeireiras estão cheias de pedidos", diz.
O vice-presidente do Sindicato da Habitação do Estado (Secovi-RS), Rafael Padoin Nenê, avalia que a corrida por casas, sítios e residências no Litoral representa a retirada das pessoas da zona de conforto. "Esses projetos pessoais já existiam e atendiam perfis de moradia ou de lazer se considerarmos os planos para uma segunda ou terceira residência", sugere.
Para o dirigente, a experiência que muitos estão tendo de poder trabalhar remotamente funciona como combustível para esta aceleração que já era praticada em outros centros urbanos mais evoluídos e com algumas profissões.
"Nunca trabalhei tanto na minha vida", resume a corretora autônoma Cláudia Machado da Rosa. Segundo ela, os apartamentos mais vendidos ficam na faixa de R$ 300 mil. "Este é, de fato, um ótimo momento para comprar, pois até as construtoras estão flexibilizando e aceitando imóvel como parte do pagamento". recomenda.
Construtoras devem se adaptar rapidamente e ampliar ofertas dentro do 'novo normal'
A exemplo do que tem ocorrido nos últimos seis meses, os residenciais próximos da natureza continuarão sendo os mais procurados em 2021. Essa, segundo o presidente do Sinduscon-RS, Aquiles Dal Molin Júnior, é a tendência de mercado para o próximo ano.
Sócio-diretor da Prol Imobiliária, Rafael Padoin Nenê avalia que o setor imobiliário sempre acompanhou tendências, mesmo "quando estas também não foram ditadas pelo mercado". "As influências de centros urbanos mais desenvolvidos como outras cidades ao redor do mundo sempre emprestarão experiências de consumo", define.
Na visão de Padoin Nenê, as construtoras e imobiliárias brasileiras estavam experimentando (nos grandes centros, incluindo Porto Alegre), "uma influência agradável advinda das atividades comerciais", como lojas de ruas e restaurantes com espaço nas calçadas, que vinham voltando a delimitar características dos bairros.
A arquitetura de hoje, diz o empresário, aliada às tecnologias construtivas e de materiais, traz ao consumidor uma resposta muito rápida, encorajando a troca de imóveis e aquecendo o mercado. "Mesmo na pandemia e frente a qualquer adversidade econômica", emenda. Para o empresário, o que poderá acontecer é o crescimento no volume de ofertas de casas e apartamentos mais amplos, aumentando o leque de imóveis de alguns empreendedores. "O de locações e os comerciais seguirão se alinhando a esses hábitos. O que temos de novidade é a aceleração de todo o processo". projeta
"Nos próximos meses, iremos lançar três condomínios em áreas de preservação permanente (APP) que vão totalizar 500 lotes nos bairros Hípica e Vila Nova, ambos com foco na classe média", comenta o proprietário da Nova Ipanema Empreendimentos Imobiliários, Sérgio Bottine Júnior.
Além da infraestrutura tradicional de calçamento, esgoto, rede elétrica, clube e piscina, os empreendimentos terão uma portaria maior para poder receber encomendas de compras pela internet, hortas comunitárias, "cachorródromo" (para os pets poderem circular sem coleira) e áreas verdes com quiosques individuais para famílias tomarem chimarrão e passarem momentos de lazer.
Retorno dos gabinetes no setor de alta renda vira tendência
O proprietário da Kotel Imobiliária, Marcelo Chachamovich, sentencia: "O espaço para home office nas residências é uma tendência que seguirá no pós-pandemia." A praticidade de se trabalhar em casa com a vantagem de baixo custo para o profissional, que pode fazer as refeições na própria casa, sem gastar com transporte, somado-se o fato de ganhar tempo por não precisar enfrentar diariamente um "trânsito caótico" são os principais motivos para esta mudança.
"O home office é um modelo de trabalho que veio para ficar, mas que exige disciplina para os profissionais. Para isso, um local adequado é fundamental", pondera Chachamovich. Por conta disso, as construtoras já projetam espaços que viabilizem trabalho em casa de forma estruturada, em um gabinete ou área anexa, onde uma bancada para computador pode ser colocada com facilidade.
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior, uma série de lançamentos de imóveis que contemplam este desejo irá acontecer até o final de 2020 em Porto Alegre.
Os produtos, segundo ele, devem incluir uma peça a mais para a estruturação de um gabinete ou escritório para consumidores que aderirem ao trabalho remoto. "Esta é uma tendência que vai aparecer nos imóveis destinados à alta renda", especifica.
Dal Molin Júnior emenda que, no caso de outras categorias, a alternativa dos consumidores seguirá sendo buscar residências com um quarto a mais. "Quem morava em um ou dois dormitórios já tem optado por um imóvel com dois ou três, e assim por diante", constata.
A gerente da área de Vendas da Guarida Imóveis, Elcia de Oliveira Silva, confirma esse movimento. De acordo com ela, a demanda com maior destaque na empresa tem sido de "vários clientes buscando nos novos imóveis um espaço maior para montar um escritório em casa."
As próximas novidades do setor imobiliário voltadas ao segmento de alta renda devem prever também espaços para a entrega de deliverys (com uma portaria separada da recepção) equipados com freezer e forno elétrico para manter a temperatura, no caso de alimentos quentes. "Dessa forma, o entregador não entra no prédio, e o morador busca a encomenda na portaria", explica o presidente do Sinduscon-RS.
Já para a média renda, os lançamentos preveem uma área de coworking estruturado para uso comum ou pequenos espaços para home office, disponibilizados como parte do condomínio, a exemplo de academia e espaços gourmet. "É uma alternativa para não acrescentar esta metragem no valor do imóvel, então; se coloca na área de condomínio", sinaliza Dal Molin Júnior. Na opinião da corretora autônoma Cláudia Machado da Rosa, não tem como ser diferente. "Muitas vezes, o pai, a mãe e os filhos precisam de internet para assistir aulas ou para trabalhar", explica.
Segundo ela, as vendas de salas comerciais estão em queda. "A tendência tem sido o consumidor buscar imóvel residencial com mais espaço, o que justifica o aumento da demanda por apartamentos e casas maiores, com local apropriado ou com um quarto a mais que, neste caso, não servirá de dormitório, mas como escritório que permita mais privacidade para o trabalho."
*Adriana Lampert
*Repórter de economia no Jornal do Comércio, Adriana Lampert é especializada nos setores de comércio e serviços e de turismo. Colabora para outros jornais, revistas e sites do Sul e Sudeste, cobrindo assuntos da área cultural e política.