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- Publicada em 20 de Julho de 2020 às 03:00

Negras, índias e quilombolas lutam contra a Covid-19

Combate à fome e à violência é urgente para o Comitê Mulheres Negras da ONU

Combate à fome e à violência é urgente para o Comitê Mulheres Negras da ONU


Mayara Varalho/Onu Mulheres/Divulgação/JC
A pandemia do novo coronavírus tem gerado novos desafios para comunidades em situação de vulnerabilidade, em especial às mulheres, que sofrem com desigualdades de gênero e raça no Brasil. Além da prevalência entre as vítimas fatais do novo coronavírus, precisam enfrentar fome, desemprego, aumento da violência doméstica e familiar. Este quadro foi agravado ao longo dos últimos meses em função da Covid-19.
A pandemia do novo coronavírus tem gerado novos desafios para comunidades em situação de vulnerabilidade, em especial às mulheres, que sofrem com desigualdades de gênero e raça no Brasil. Além da prevalência entre as vítimas fatais do novo coronavírus, precisam enfrentar fome, desemprego, aumento da violência doméstica e familiar. Este quadro foi agravado ao longo dos últimos meses em função da Covid-19.
A ONU Mulheres criou comitês para as que estão mais vulneráveis pela interseccionalidade das discriminações de gênero, raça e outras formas de opressão. Assim, organizações e coletivos liderados por mulheres negras, indígenas e quilombolas País afora têm inovado nas estratégias políticas de enfrentamento do racismo e de apoio comunitário às suas comunidades em resposta à Covid-19.
Para Clátia Vieira, integrante do Comitê Mulheres Negras pelo Fórum Nacional das Mulheres Negras, o impacto do novo coronavírus acirra a situação já revelada. "A pandemia mostra que há mais de 20 milhões de pessoas no Brasil sem registro civil, como vimos na dificuldade de acesso ao plano emergencial. A questão é: como essas pessoas estavam vivendo?", questiona.
Na avaliação de Clátia, entre os principais problemas que precisam ser resolvidos com urgência estão a fome e a violência contra as mulheres. "Estamos na linha da morte. É preciso ampliar a participação das mulheres negras e a capacidade de interferir em novos problemas. As pessoas estão negociando as suas vidas para comer", alertaLúcia Xavier, do Criola e componente do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030.
Para Valdecir Nascimento, do Odara - Instituto da Mulher Negra e secretária-executiva da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), a vulnerabilidade negra está colocada em todas as pandemias. "Dentro da pandemia Covid-19, acontecem outras pandemias: a da violência contra as mulheres, a da violência policial contra a juventude negra, a da violência no campo", pontua.
Para as comunidades quilombolas, a estratégia tem sido fazer alianças nos territórios quilombolas e para além deles. Givânia Silva, que integra o Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), afirma que, com a interiorização da pandemia, a situação dos quilombos vai piorar.
A dificuldade de lidar com as novas tecnologias ainda concentra trabalho em algumas pessoas da entidade, mas também permite conversas por meio de lives, como ocorreu durante os 24 anos da Conaq, em maio, deste ano até o monitoramento de contágios e óbitos.
Em abril, a Conaq deu início à série de boletins epidemiológicos próprios para monitoramento das confirmações e suspeitas de contágios e óbitos decorrentes da Covid-19. Segundo o último levantamento, divulgado pela Conaq neste mês, são 3.465 casos confirmados, 797 em monitoramento, 133 mortes e três óbitos com suspeita e sem confirmação de diagnóstico.
As informações são atualizadas todas as semanas e divulgadas nas redes sociais da Conaq. O portal quilombosemcovid.org é plataforma da Conaq. A falta de água e falhas na conexão com a internet em áreas remotas, onde estão localizadas as mais de 5 mil comunidades quilombolas no Brasil em mais de 1.600 municípios, são alguns dos obstáculos enfrentados. "A visibilidade da realidade quilombola é fundamental, embora a comunicação sem internet e a falta de dados precisos inviabilizam diagnósticos da doença", destaca Sandra Braga, do Quilombo Mesquita, localizado em Goiás, Entre as alternativas, ela identifica as rádios comunitárias e as redes sociais.
Identificar oportunidades de colaboração e atuação conjunta para avanço da agenda de direitos também é objetivo das mulheres indígenas. Questões relacionadas a conflitos territoriais com latifundiários e garimpeiros, acesso a equipamentos de proteção individuais de saúde e a atenção aos povos indígenas na pandemia pautam a luta dessas comunidades.
"E as mulheres trabalham para dar visibilidade à situação e romper barreiras", afirma Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e integrante do projeto Voz das Mulheres Indígenas, da ONU Mulheres,
A violência contra as mulheres indígenas tem sido uma das áreas de atenção das lideranças. "As mulheres estão sendo mortas pelo machismo, que chegou nos territórios indígenas. Não podemos negar. É preciso enfrentar o machismo nas aldeias", completou Sônia.
Além do problema da violência nas aldeias, Leonice Tupari, do Voz das Mulheres Indígenas, lembra também que a presença religiosa externa às culturas tradicionais tem preocupado, uma vez que tentam anular a identidade, tradições e crenças das tribos.
A Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas diz que eles têm o direito de manifestar, praticar e ensinar suas próprias tradições espirituais e religiosas, costumes e cerimônias; o direito de manter, proteger e ter acesso em privacidade aos sítios religiosos e culturais; o direito ao uso e controle de objetos cerimoniais; e o direito à repartição de restos humanos.
Imbuída do espírito de que "nossas ações não podem parar", Sônia Guajajara avalia uma das realidades reveladas pela pandemia é que "o espaço das redes sociais é potente para estratégias de fazer a luta", especialmente para visibilizar o impacto da pandemia nos povos indígenas, cujos dados da sociedade civil são divergentes de órgãos oficiais.
Sobre a pandemia Covid-19, Suzie Guarani destaca o aumento da pobreza entre os povos indígenas e a insuficiência de resposta governamental às demandas das aldeias. Eliana Karajá, do Voz das Mulheres Indígenas, considerou a mobilização por cestas básicas e as dificuldades e medo enfrentados pelas lideranças, que atuam no apoio às organizações de base.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2 de julho de 2020, foram confirmados 7.198 casos de contágios em indígenas e 166 óbitos. Segundo o monitoramento da APIB, são 10.722 casos confirmados e 420 óbitos.
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