Maior fundo de pensão do Rio Grande do Sul, o Fundação Família Previdência (ex-Fundação CEEE) avalia a possibilidade de retomar a aquisição de participações em empresas como uma forma de investimento, algo que já fez no passado, adquirindo uma fatia da companhia Taesa que atua no setor de energia. O presidente da Fundação Família Previdência, Rodrigo Sisnandes Pereira, adianta que a procura dependerá da conjuntura econômica. A busca será por oportunidades que demonstrarem as melhores condições de rentabilidade. A instituição fechou o ano passado com um patrimônio de R$ 7,4 bilhões e 18 mil participantes.
Empresas & Negócios - A Fundação Família Previdência pensa em comprar participações em empresas como forma de ampliar seu leque de investimentos como fazem outros fundos, como o Petros, por exemplo?
Rodrigo Sisnandes Pereira - Nós já fizemos isso no passado. Tínhamos participação na empresa Taesa, uns 25% do fundo gestor da companhia, mas desinvestimos. Não era prioritário, pois havia no mercado títulos públicos com rentabilidade mais garantida. Mas, pensamos agora em voltar, estamos fazendo a análise das oportunidades. É um dos investimentos que está no nosso radar, neste ano ou no próximo, vários fundos de pensão adotam essa estratégia.
E&N - Como vocês já tiveram experiência nessa área, vão procurar opções de companhias no setor de infraestrutura ou pode ser em qualquer segmento?
Pereira - Pode ser em qualquer segmento, mas tudo dependerá da conjuntura econômica do País. A gente sabe que tivemos um crescimento econômico no Brasil puxado pelo gasto público, o que já está exaurido agora. Então, certamente toda a alavancagem da economia se dará muito pelo setor privado e os fundos de pensão cumprem um importante papel nisso. Está na nossa análise, bons ativos, que vão trazer rentabilidade. Mas, com todo cuidado possível, pois temos que ter um conservadorismo muito grande, porque estamos tratando de recursos de terceiros.
E&N - Como a pandemia do coronavírus impactou as atividades da Fundação?
Pereira - Não somente a gente, mas todo mundo sofreu os impactos imediatamente. Estávamos vindo de uma reestruturação organizacional, trabalhando muito a questão da Fundação digital, então em 48 horas estávamos com todos os serviços funcionando em home office, todos os colaboradores em casa. Talvez, o maior reflexo foi na questão do atendimento presencial. Mas, a gente acredita que quando o participante de algum plano usa o aplicativo, a internet, não deve voltar, vai gostar de utilizar esse recurso.
E&N - O pós-pandemia deve afetar o segmento da previdência?
Pereira - Vai mudar. Esse desarranjo fiscal faz com que o governo injete recursos na economia e isso significa que teremos uma reforma da previdência antecipada.
E&N - Ou seja, apesar de já terem sido feitas mudanças no sistema previdenciário do País, ainda deverá haver novas alterações?
Pereira - Iria ter igual, mesmo em uma condição natural, a reforma que foi feita mexeu em idade mínima e tempo de contribuição, quando na verdade o País precisa de uma reforma estrutural. Teríamos sim que fazer uma nova reforma da previdência, em um prazo mais alongado, mas a pandemia causa um desarranjo fiscal e com certeza teremos uma reforma antecipada.
E&N - A tendência é que a busca pela previdência privada aumente?
Pereira - Com certeza. Já teve uma procura muito grande quando da discussão da reforma da previdência. Não tenha dúvidas que as pessoas começam a olhar mais para isso. As pessoas estão indo no INSS para se aposentar e cada vez está menor os valores a receber e o custo de vida maior, além das despesas com saúde terem crescido. Por isso, não é utópico dizer que o plano de previdência será ofertado tal qual o plano de saúde em um futuro bem próximo.
E&N - Até o ano passado, a Fundação Família Previdência se chamava Fundação CEEE, qual o vínculo com a companhia de energia?
Pereira - Fomos criados em 1979 e na época a legislação estabelecia que as empresas criassem fundos de pensão próprios para seus funcionários. Então, a Fundação CEEE pertencia à CEEE e erámos apenas vinculados à companhia. Quando ocorreu a privatização de dois terços da estatal em 1997 e nessa ocasião foram desmembrados os planos, mas se manteve o nome. Depois, veio uma mudança da legislação que desvinculou os fundos de pensão das suas patrocinadoras. A gente faz a gestão dos planos da CEEE, mas fazemos também de outras companhias e instituições.
E&N - Para atrair novos interessados nos planos foi feita a mudança de nome?
Pereira - Na verdade, a gente já tinha uma desvinculação da CEEE, mas carregava o nome desde a origem. Era muito difícil para nós a prospecção de novos clientes, porque sempre a primeira pergunta era: se vender a CEEE, o que acontece? Aí era necessário explicar que a Fundação estava desvinculada da empresa.
E&N - Mas, a Fundação é uma das credoras do Grupo CEEE, como fica essa questão no momento da privatização da companhia?
Pereira - O total de compromissos (contratos de confissão de dívida e outras obrigações com a CEEE) fechado no ano passado era de cerca de R$ 1 bilhão. De dívida, dívida mesmo, relativa a contribuições de funcionários não repassadas na década de 1990, fechou 2019 em R$ 171 milhões. Quem comprar (a CEEE) deverá assumir essas obrigações.
E&N - Existiria algum outro possível impacto com a privatização da estatal?
Pereira - A gente sabe que a empresa privada que comprar pode não manter o mesmo número de funcionários. Mas, hoje os empregados ativos da CEEE representam em torno de R$ 400 milhões no patrimônio da Fundação, e mesmo que seja muito dinheiro, em um universo de cerca de R$ 7 bilhões (patrimônio total da entidade), acaba não sendo um grande impacto. Mas, esses R$ 400 milhões só zerariam se quem comprar a CEEE demitisse 100% dos funcionários e pode ser que a nova empresa siga com boa parte desses colaboradores.