Desde 1995, os iogurtes Do Tambo buscam unir, dentro de uma alimentação mais consciente, sabor e informação. A empresa, que surgiu com Maria Inês Terrazas, tinha o objetivo de completar uma lacuna no mercado de iogurtes do Rio Grande do Sul na década de 1990. Entre as gigantes do mercado e as poucas marcas de menor expressão, a fundadora da Do Tambo encontrou, na falta de informação disponibilizada nas embalagens, uma oportunidade para empreender. Com seis anos na época da criação da empresa, a hoje diretora-executiva Gabriela Jeckel Terrazas acompanhou de perto o crescimento da iniciativa da mãe.
O início, com uma equipe enxuta para o desenvolvimento de uma fórmula para um iogurte cremoso e saudável, deu lugar à estabilização do Do Tambo no mercado, hoje com quase 20 colaboradores e com vendas mensais de, aproximadamente, 85 mil potes no Estado.
O crescimento da empresa - atualmente presente em cerca de 70 cidades no Rio Grande do Sul - fez com que a Do Tambo buscasse investir em uma nova fábrica. Com os R$ 4 milhões investidos na nova casa, que tem previsão de conclusão para 2021, a empresa estima triplicar a capacidade de produção. Gabriela também pontua: "A nossa expectativa é ampliar a comercialização dos nossos produtos para todo o País".
Formada em Design Estratégico com ênfase em Marketing, e dois MBAs na área de vendas, Gabriela deixou o colchonete no qual esperava seu pai buscá-la quando criança e passou a dirigir as operações da empresa há três anos. "Já tinha expressado minha vontade de vir para a Do Tambo quando tivesse uma bagagem maior de conhecimento em pontos estratégicos. Foi aí, quando achamos que estava pronto, que entrei na empresa e começamos o processo de sucessão", conta Gabriela.
Empresas & Negócios - Os iogurtes Do Tambo estão inseridos no campo de alimentação saudável. Como é atuar dentro desse mercado de tendência?
Gabriela Terrazas - Antes mesmo de ser uma tendência mais forte, nesses últimos cinco anos, acredito que o mercado de alimentação saudável apresentou muita coisa diferente, o que causa certa curiosidade nas pessoas. Tinha uma época em que ligavam e havia fila de espera, por exemplo. Agora, acredito que essa tendência de alimentação natural já é uma realidade. Não acho que exista a questão de voltar atrás, mas imagino que o que pode acontecer são determinadas bolhas de inovação. De repente, algum modelo explode, e, seis meses depois, já não se vê mais. Sempre nos mantivemos fiéis a esse modelo. Já nos indicaram diversas ideias que fugiriam um pouco do que acreditamos. A questão de permanecer firme no que e como produzimos faz com que estejamos aqui até hoje. De vez em quando, dentro do segmento saudável, surgem alguns vilões (como foi o caso do ovo há um tempo). Temos um público fiel que naturalmente faz propaganda do produto, o que nos ajuda a conquistar novos consumidores.
E&N - Entre esses "vilões" da alimentação saudável, o leite já foi um dos insumos a sofrer. A "crise do leite", com a operação Leite Compensado, é um exemplo da desconfiança que o insumo pode apresentar. Como a Do Tambo acompanha esses episódios?
Gabriela - A questão com a matéria-prima é que temos que ter os laudos diários de todos os leites que compramos dos nossos produtores. Além disso, fazemos análises no nosso sistema interno e também temos as análises que o Sipoa faz. Quando acontecem essas operações, o que notamos é que nosso consumidor não recua nas compras, mas ele comunica, liga para avisar de alguma notícia ou para perguntar como é o leite aqui, o que aconteceu, o que estamos fazendo etc. Qualquer dúvida que eles têm, nos ligam e nos perguntam. É quase como um fiscal interno.
E&N - A Do Tambo tem uma produção voltada para o artesanal, trazendo isso como valor ao preço final. Como se trabalha com um produto de valor agregado?
Gabriela - O que faz com que o produto tenha um valor agregado é mostrar um pouco do processo. As fotos da produção são as que mais têm interação do público nas redes sociais, por exemplo. Os ingredientes que usamos são caros, além do processo artesanal, o que acaba deixando o preço um pouco mais elevado. Acredito que isso justifica o valor, porque mexe com o imaginário e tira um pouco do mistério.
E&N - Quem é o público consumidor da Do Tambo?
Gabriela - Foi algo que não focamos, mas nosso público é majoritariamente feminino, adultas, com uma independência financeira, às vezes com filhos. É esse o público que conseguimos identificar aqui. Tem também um público com uma renda menor, que não compra com tanta frequência, mas acaba se "presenteando" uma vez a cada duas semanas para lanchar ou algo do tipo. Acredito que o público consumidor se define muito mais pelo valor do produto do que pelo contato que temos.
E&N - A empresa está no processo de mudança de sede. O que motivou o investimento em uma nova fábrica?
Gabriela - A primeira sede já está pequena - até pela nossa capacidade produtiva. Além disso, temos o objetivo de expandir para outros estados, e aqui só temos o selo estadual de comercialização. Para ter um selo federal, precisamos de uma planta maior, com outras especificações e exigências. Esse plano de fábrica nova já está há cerca de cinco anos sendo discutido, tendo suas plantas feitas de acordo com o que os órgãos responsáveis e a prefeitura solicitam. Outro ponto é que a região da sede atual, próxima ao Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, está se tornando uma área residencial, o que complica a logística de uma indústria. Foi aí que começamos a planejar essas necessidades. As obras se iniciaram, e a previsão é de que fiquem prontas até o próximo ano. Até saírem todas as autorizações e selos, e todo o maquinário estar pronto, acredito que, em 2021, já estejamos na casa nova.
E&N - Essa expansão para fora do Rio Grande do Sul é um plano próximo? Há algum estado que interessa mais a Do Tambo?
Gabriela - Se tudo der certo com as licenças, acredito que, nos próximos dois ou três anos, conseguiremos pôr em prática a expansão. Esse plano está acontecendo porque há tempos nos procuram, de outros estados, para saber onde tem Do Tambo ou se tem como mandar por avião. Miramos São Paulo, porque é onde o maior movimento acontece, mas acredito que iremos subir, começando por Santa Catarina até chegar em São Paulo. Se der tudo certo, partimos para o resto do País. É um iogurte de qualidade, e que acredito que seria muito bem aceito em outros estados. Quando falamos em crescer e expandir, é dentro do que a nossa capacidade permitirá, e também aos poucos, até o que pensamos em expandir para fora do Rio Grande do Sul. Selecionar os nossos pontos de venda, e não ter eles pulverizados, até porque massifica muito, e podemos acabar perdendo essa essência do artesanal que temos muito forte por aqui.