O pensamento estratégico com foco no mercado é uma das características mais perceptíveis no posicionamento da SLC Agrícola como empresa. Dentro do mercado de fibras e grãos, esse planejamento é um dos pilares que constroem o crescimento da companhia e garantiu a experiência conquistada. Fundada em 1977, a empresa é parte do Grupo SLC e, atualmente, controla mais de 450 mil hectares, distribuídos em 16 unidades de produção, em seis estados brasileiros.
Qualificar equipes e dar continuidade ao seus trabalhos é parte da estratégia da empresa para se manter ágil e efetiva em um mercado tão complexo e competitivo. Mesmo sendo uma exceção à regra, o diretor financeiro e de relações com investidores da SLC Agrícola, Ivo Marcon Brum - prestes a completar 10 anos na empresa -, garante: "É uma tradição da companhia premiar seus próprios profissionais".
Tendo no algodão, na soja e no milho suas principais culturas, a organização funciona como um modelo de negócio híbrido, no qual se desenvolvem operações nas próprias terras ou em terras arrendadas, além da aquisição de terras brutas para transformação e venda. Uma das primeiras empresas do setor a abrir capital na bolsa de valores, a empresa possui, na safra 2018/2019, mais de 123 mil hectares de algodão, 234 mil hectares de soja, 88 mil hectares de milho e cerca de 2 mil hectares de outras culturas.
Para Brum, a imprevisibilidade, por vezes, do mercado de commodities é parte da lógica de produção agrícola e - principalmente - é o que força as empresas a prepararem melhor suas estratégias de atuação. A competição com o mercado internacional também é ponto de análise: enquanto os grandes mercados - como Estados Unidos e China - recebem muitos subsídios agrícolas, grandes e médios produtores brasileiros não têm a mesma realidade.
"Digamos assim, a política econômica do Brasil, nesse ponto, é mais voltado ao mercado e pode ser um dos fatores que fizeram a agricultura brasileira ter crescido tanto e tão forte", comenta. Nesse sentido, o diretor financeiro também relaciona com os subsídios para o pequeno produtor do Brasil, o qual, segundo Brum, deve manter os incentivos, uma vez que a recuperação em um ano pouco produtivo pode retirar a sua competitividade ou até mesmo toda a sua produção.
Empresas & Negócios - A Cofco Internacional (braço comercial da estatal chinesa Cofco) anunciou, no ano passado, investimentos no Brasil e o aumento progressivo na compra de soja em 5% ao ano até 2024. Como isso afeta o mercado de soja brasileiro?
Ivo Marcon Brum - O mercado chinês é de extrema importância, porque são eles os grandes consumidores de soja no mundo. O aumento (de 5% ao ano) é como eles têm crescido o volume de consumo. Com as incertezas da guerra comercial entre Estados Unidos e China, fica mais difícil de apontar. Para o Brasil, é bom, porque, para a China garantir que o produto brasileiro vá para eles, tem que se pagar um prêmio. Mesmo sendo benéfico para o Brasil, com essa incerteza do futuro fica complicado de fazer qualquer planejamento mais prolongado. Se fizer um investimento agora, para daqui dois anos, não se sabe se vai continuar vendendo. É complicado.
E&N - A SLC Agrícola investiu na produção de sementes de soja e chegou a 300 mil sacos de 40 quilos neste ano. Qual o objetivo do fomento na produção de sementes?
Brum - Em primeiro lugar, acessar as novas tecnologias antecipadamente. Estamos nos potencializando para ser um produtor de semente que, na verdade, é o mesmo produto. Depois, a gente vai vender essa semente com a nossa marca, mas tecnologia é da Bayer ou de outra empresa. Essa é uma das vantagens que agrega valor. Um saco de semente é muito menor que um de soja. A gente acredita que tem um bom potencial de crescimento, porque não é um mercado totalmente desenvolvido na questão dos fornecedores. Nosso objetivo é entrar nesse mercado e ter algum tipo de ganho, para, depois, conseguir ampliar isso fazendo semente de algodão ou outros produtos.
E&N - A operação é um teste para acertar sua funcionalidade no mercado?
Brum - Diria que o teste nós já fizemos. Acredito que, agora, estamos mais em fase de implementação, porque começamos com 25 mil sacos, logo passamos para 100 mil sacos e, agora, estamos mirando a produção para 250 mil sacos. Estamos crescendo gradativamente.
E&N - Embora a SLC Agrícola produza soja e milho em larga escala, o carro-chefe da empresa é o algodão. Qual o impacto dessa cultura no faturamento da SLC?
Brum - Nosso carro-chefe é o algodão. Ele representa mais de 50% do faturamento e, consequentemente, do lucro e da geração de caixa da empresa. É uma cultura mais exigente que a soja, porque tem que ter mais correção no solo, equipamentos específicos - como a colheitadeira para algodão e a beneficiadora que separa o caroço e a pluma. Nos últimos anos, pelo menos, o nosso maior investimento tem sido no algodão. Na última safra, crescemos a área de algodão em cerca de 30 mil hectares, e o objetivo para o ano que vem é crescer mais. Sempre tem investimento para fazer em outros grãos, porque temos fazendas novas e outras que estão em fase de amadurecimento. Nosso maior foco é valor agregado no produto, e, hoje, o que mais tem valor agregado é o algodão. O investimento em sementes de soja também está atrelado a isso, porque também é um produto que tem um alto valor agregado.
E&N - A soja e o milho têm sua importância tanto na diversidade de produtos quanto no abastecimento do setor pecuário. Como se dá a relação com o algodão e as outras culturas?
Brum - Soja e milho têm uma demanda muito forte, mas a geração de caixa não corresponde igualmente à demanda. Por exemplo, a geração de caixa de um hectare de soja, o Ebitda, é R$ 1 mil que gera para a companhia. O milho, entre R$ 100,00 e R$ 200,00, ou seja, muito baixo. Já no algodão, estamos falando em R$ 3 mil por hectare. Os commodities de soja e milho são consumo de alimento, o algodão é vestuário. São outro mercado e outras influências. Por exemplo, é importante considerar se o mundo está crescendo, porque a demanda de algodão depende muito dos países ricos. Se eles estão em queda, usam mais produtos sintéticos. Isso faz toda a diferença na hora de planejar e vender. Se os países ricos estão bem, o algodão está bem.
E&N - As empresas atuantes no setor primário em geral apontam para um grande problema na questão logística brasileira. Essa realidade ainda persiste?
Brum - A qualidade das estradas é que faz a diferença, porque o caminhoneiro tem que acabar cobrando esse custo de manutenção. A logística acaba sendo um item caro, e acaba influenciando diretamente no preço para o consumidor. A situação dos portos melhoraram muito nos últimos anos, mas a questão das estradas é crítica. As ferrovias dariam um fluxo mais contínuo e mais limpo, mas é um plano de longo prazo. Se resolver o problema, não é que o produtor vai ganhar mais, mas vai chegar mais barato na mesa do consumidor. Quando todos trouxerem mais barato, os preços vão baixar. No caso da SLC Agrícola, nas fazendas do Mato Grosso, há um impacto da logística no preço. No caso do algodão, que tem muito valor, a relevância no preço não passa de 10%; no entanto, para a soja, representa 20% e, no caso do milho, pode chegar a 50% do preço.