A grande caldeira com 30 metros de pé direito - que, em 1920, produzia energia para todas as indústrias do grupo AJ Renner, em frente à área onde hoje está instalado o Shopping DC Navegantes - vai se tornar, em breve, em um importante símbolo da cena empreendedora e inovadora gaúcha.
A meta é reunir naquela área de 22 mil metros quadrados, quando o projeto estiver no auge, até 3 mil pessoas envolvidas no desenvolvimento de projetos inovadores em empresas de todos os portes, das mais tradicionais a startups.
"Esse lugar é um ícone que representa muito a indústria e que agora irá conectar muitas pessoas e empresas, além de se tornar um espaço de arte e entretenimento", projeta Frederico Renner, bisneto de AJ Renner e um dos fundadores do Instituto Caldeira.
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Iniciativa símbolo do Pacto Alegre, o projeto já reúne 30 companhias fundadoras, como SLC, Panvel, Sicredi, Lojas Renner, Agibank e Neugebauer. Por estarem aportando recursos no projeto, as empresas poderão instalar lá os seus labs de inovação - e receberão apoio para que essa convivência com as startups de fato aconteça. As demais operações poderão ocupar os espaços mediante um aluguel.
As obras físicas se iniciam em outubro, justamente pela caldeira, e, ao mesmo tempo, deverão ser feitas as negociações dos contratos de aluguel das empresas que ocuparão a área. A meta é que, em abril de 2020, aconteça a inauguração e o início da instalação das companhias. "Nós nos demos conta que precisamos nos reinventar, criar um ambiente de negócios melhor e, assim, evitar que as pessoas e as empresas saiam do Estado. Esses novos hubs que estão surgindo são um reflexo dessa nova visão", destaca Renner.
Já fazia tempo que o Rio Grande do Sul precisava dessa sacudida. Apesar de ter diversas iniciativas de sucesso voltadas ao estímulo do empreendedorismo de alto impacto, como os parques tecnológicos e incubadoras e startups, isso já não era suficiente para transformar de fato a vocação econômica do Estado e aproximá-lo das demandas da sociedade do conhecimento. Essas ilhas de excelência necessitavam reverberar, e é o que parece que está acontecendo.
O lançamento da Aliança para a Inovação de Porto Alegre tem tudo para ser um divisor de águas. Não que outras tentativas já não tivessem sido feitas no passado, mas, agora, a sensação é que a iniciativa das três principais universidades gaúchas (Ufrgs, Pucrs e Unisinos), que gerou o Pacto Alegre com a missão de tornar a capital gaúcha uma referência internacional de modelo de colaboração de inovação de alto impacto até 2025, deu liga e contagiou o mercado.
"Estamos vivendo um momento muito especial. Todo esse caldo é resultante da percepção das pessoas, a partir da união das universidades, de que podemos trabalhar em conjunto e unir forças", relata o secretário Estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia e um dos idealizadores da Aliança, Luís Lamb.
Segundo ele, os talentos são o bem mais precioso da economia, e não os ativos físicos e commodities.
"São as pessoas com capacidade intelectual e criatividade que vão gerar oportunidades para agregar valor às nossas matrizes econômicas, a ponto de nos tornamos uma referência em ciência, tecnologia e inovação", acrescenta.
Movimentos como esses que estimulam o surgimento de mais empreendedores, startups e outras iniciativas que ampliam as fronteiras, fazendo com que todos se percebam dentro do ecossistema de inovação, mesmo não estando em parques tecnológicos ou incubadoras. "Estamos vivendo uma fase hype do empreendedorismo, e o surgimento desses novos espaços é a resposta para isso. É uma percepção em que, para fazer parte deste movimento, não é necessário estar geograficamente dentro de um espaço", explica Felipe Ost Schrerer, sócio-fundador da Innoscience, consultoria de gestão da inovação.
Ambiente vivo e talentos são atrativos para que empresas escolham empreender no Estado
Além da criação de hubs locais voltados ao empreendedorismo de alto impacto, players como Instituto Founder, Startse, Movile e tantos outros estão vindo para Porto Alegre. E o que está atraindo todos esses players para a cidade? A resposta é simples: os talentos.
Olhar para as maiores metrópoles brasileiras como único destino para os negócios já não funciona. E por um motivo bem simples: falta mão de obra qualificada e em número suficiente para os projetos. Por isso, as cidades que conseguirem criar um ambiente atrativo vão sair na frente.
É o que tem feito o Rio Grande do Sul, buscando se tornar relevante a partir desta grande movimentação tanto de consolidação dos ambientes tradicionais, como parques, aceleradoras e incubadoras, mas também com a chegada de novos atores. "Esse pessoal está vindo para o Estado porque somos formadores de talentos. Foi assim desde a concepção dos parques tecnológicos, com a instalação de players como SAP, HP e Microsoft, e está sendo assim agora também", comenta o presidente da Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação (Reginp), Carlos Eduardo Aranha.
Quem chegou recentemente em solo gaúcho foi a Movile, holding de startups como iFood, Ingresso Rápido, Sympla, Playkids, entre outras. Hoje, o time de tecnologia da empresa está concentrado em São Paulo e Campinas. Recentemente, a empresa instalou posição no Flowork, na capital gaúcha - são sete profissionais, e a meta é chegar logo a 12 pessoas trabalhando focadas em infraestrutura e toda parte de machine learning e deep learning. O hub local vai trabalhar, remotamente, com times da companhia em diversos lugares do Brasil. "Estamos marcando posição onde estão os talentos, como é o caso de Porto Alegre", diz o VP de Inteligência Artificial da Movile, Bruno Henriques.
Para o superintendente de Desenvolvimento e Inovação da Pucrs e um dos principais idealizadores e articuladores do Pacto Alegre, Jorge Audy, a tendência é justamente que mais pessoas e empresas vejam o que está acontecendo em Porto Alegre e queiram fazer parte desse movimento.
"Estamos superando a visão de que, para um player crescer, outro precisa diminuir de tamanho. Vivemos a lógica da abundância. Quanto mais ambientes com essa vibração tivermos, melhor será para os que estão aqui e para aqueles que estão chegando, o que fará com que a cidade se transforme em um verdadeiro ecossistema de classe mundial", analisa.
CapTable lança bolsa de valores para destacar startups
Enck (e) e Deitos têm como objetivo atrair investidores comuns
/LUIZA PRADO/JC
Entre as dezenas de iniciativas voltadas à inovação que estão acontecendo no Rio Grande do Sul, uma das que acaba de sair do forno é a CapTable, nova plataforma de investimentos criada em parceria com a StartSe, um dos maiores portais de fomento à inovação e educação do Brasil.
A ideia é que investidores comuns possam aplicar em empresas com potencial para terem ganhos exponenciais no futuro. O projeto, de alcance nacional, é uma espécie de crownfunding para negócios escaláveis. E o primeiro passo para o que deverá vir a se tornar, assim que tiver regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), uma bolsa de valores de startups.
O montante mínimo de aporte é de R$ 1 mil, que permite ao investidor comprar uma nota conversível. "A ideia é que as pessoas possam se tornar sócias dos negócios", comenta o cofundador da CapTable. Paulo Deitos.
O empreendedor conta que o modelo foi desenhado para não colocar o investidor como sócio direto, pois isso poderia trazer risco alto, como o de a empresa não dar certo e ele acabar sendo corresponsável. Se a operação virar uma S.A., ele pode decidir se quer ou não virar sócio. Se optar por não, recebe o dinheiro corrigido pelo CDI em até 24 meses. "O que falta para qualquer cena empreendedora no Brasil é dinheiro, e estamos, justamente, nos preparando para oferecer aos players desse segmento no Brasil", destaca Deitos.
Mais de 200 startups em todo Brasil passaram por análise. Seis foram selecionadas e estão prontas para receber os aportes e mais cinco entrarão em breve. Uma delas é a Eirene, startup focada no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e inovadoras para o agronegócio. De acordo com Eduardo Marckmann, CEO da Eirene, a presença da startup na plataforma para captação de recursos desenvolve a empresa comercialmente a nível nacional. "Queremos aumentar nossa presença pelo Brasil e atingir R$ 750 mil em investimentos", projeta.
Flowork reúne grandes marcas e avança operação
Segundo Pocztaruk, meta é se consolidar como ambiente de coworking para companhias inovadoras
/CLAITON DORNELLES/JC
Em um prédio comercial no Moinhos de Vento, em frente ao Parcão, 500 pessoas de 100 empresas dividem um espaço de cerca de 2,7 mil metros quadrados para criar novos projetos inovadores. A Flowork, especializada em oferecer escritórios privativos mobiliados em ambientes compartilhados, quer se consolidar como um polo de inovação em Porto Alegre.
Entre as empresas ali presentes estão a Movile, a especialista em soluções inovadoras para o varejo Incell, o serviço de autoatendimento Inbenta, o aplicativo de motoboys on-line Loggi, a plataforma de aluguéis on-line Quinto Andar e as empresas Younner e A-Players.
Esqueça aquela visão de que estes espaços de trabalho conjunto precisam ser necessariamente abertos e barulhentos. Ali, a ideia é combinar uma estrutura completa (recepção, copa, limpeza e telefonia), localização e ações de estímulo à geração de novos negócios entre os floworkers.
"Somos um coworking de adultos, com uma proposta premium, salas privadas e tudo personalizado", explica o sócio da Flowork, Daniel Pocztaruk. O resultado disso, explica, é o poder de atração de startups de tecnologia e também de empresas mais maduras e consolidadas no mercado.
Os planos de locação começam a partir de R$ 927,00/mês por pessoa, com acesso 24 horas, central de atendimento, salas de reuniões e café. Para quem deseja apenas um endereço virtual para divulgar e receber correspondências, o custo mensal é de R$ 147,00.
A meta é crescer rápido, tanto que o Flowork já está expandindo e acrescentou recentemente mais 100 cadeiras, passando a ter capacidade de atender 600 pessoas. "Muitas empresas estão buscando espaços para inovação em Porto Alegre, e isso está sendo estimulado por movimentos como o Pacto Alegre", destaca Pocztaruk, que tem ao seu lado, como sócios do projeto, Daniel Goldsztein e Lourenço Paiva.
Em breve, a Flowork abrirá as portas em Curitiba, no Paraná. A nova operação terá 600 m², e a ideia é replicar a receita usada em Porto Alegre: aliar o alto padrão dos escritórios a um ambiente moderno, no qual as empresas do ecossistema têm oportunidade de trocar informações e gerar novos negócios entre si.
AnLab quer apoiar a jornada de transformação na capital gaúcha
Com o conceito anywhere, o AnLab quer fomentar a educação e a inovação em vários locais, acoplando negócios em coworkings por toda cidade. Presente no Tecnopuc, deverá em breve marcar presença também no Instituto Caldeira e na Fábrica do Futuro.
"Porto Alegre está vindo com bastante gás. Vejo diversas iniciativas isoladas acontecendo com chance de, no futuro, tornar-se algo grande e relevante até mesmo internacionalmente", projeta Bruno Dornelles, sócio do AnLab.
O AnLab opera produtos da StartSe no Rio Grande do Sul e funciona ainda como um lab de inovação e de parceria para conectar startups com investidores. O público-alvo são as grandes corporações e o principal produto os clubes de inovação. O associado paga uma mensalidade e pode realizar um encontro mensal presencial, além de receber apoio para a aproximação com as startups.
Outro produto comercializado é a trilha de inovação, uma espécie de caminho para as empresas fazerem a transformação digital. "O nosso foco é levar conhecimento e apoiar a entrada das empresas na nova economia", conta o gestor, que tem ao seu lado nesta iniciativa Frederico Renner.
"Queremos atrair pessoas incríveis"
Hauck destaca a ideia de colocar Porto Alegre no mapa de inovação global e de desenvolvimento tecnológico
/MARIANA CARLESSO/JC
Ecossistema que une inovação e tecnologia, a Fábrica do Futuro é um dos belos exemplos de como Porto Alegre está avançando na construção de projetos com propósito. O complexo de 4000 m² no 4º Distrito, que nos anos 1940 era a fábrica de enfeites de Natal Wanda Hauck virou a chave, mas manteve a magia. “Eu sempre digo que a gente fabricava enfeites de Natal e, como essa é uma celebração mágica, também fabricávamos sonhos. Agora, na área de tecnologia, continuamos fabricando sonhos”, afirma o CEO da Fábrica do Futuro, Francisco Hauck. O projeto conta com mentores internacionais e conecta o empreendimento com Lisboa, Londres, Miami, Los Angeles, Hong Kong, Milão e mais algumas cidades do mundo. A ideia é colocar Porto Alegre no mapa da inovação global. Uma grande contribuição para isso é a do empreendedor português César Couto Ferreira, que resolveu morar na capital gaúcha ao se encantar com esse projeto. O coração do espaço é o Áudio Porto, eleito o melhor estúdio de gravação e mixagem do Brasil em 2018, liderado pelo terceiro sócio do empreendimento, Rafael Hauck. A Fábrica do Futuro tem como foco apoiar o desenvolvimento de startups, scale-ups e empresas nas áreas de artes, cultura, educação e entretenimento. Inaugurada em março deste ano com um propósito claro. “Queremos reunir pessoas incríveis, capazes de realizar coisas incríveis”, destaca Hauck.
Empresas & Negócios – Como surgiu a ideia de transformar esse espaço em um ambiente para o empreendedorismo inovador?
Francisco Hauck – Foi quase um projeto de evolução natural, meio Darwin, sabe? Esse espaço começou em 1942 como uma fábrica de enfeites de Natal. E desde aquela época, já era uma família alemã trazendo tecnologia de fora para trabalhar então com arte e tecnologia em Porto Alegre, ou seja, criando uma conexão com o mundo. Depois que houve a questão do declínio do mercado da indústria de Natal, em função da entrada dos importadores chineses, ficamos com esse legado. Quando os meus parentes fizeram essa fábrica de Natal, tudo aqui era pântano. Ninguém sabia que o 4º Distrito viria a se tornar hoje esse ambiente voltado à inovação e criatividade. Vejo quase um elemento cósmico. Ninguém começou esse projeto devido ao 4º Distrito ou a vocação de Porto Alegre, simplesmente a história nos botou aqui.
Empresas & Negócios – Como é estar hoje no centro de todo esse movimento pró inovação que acontece em Porto Alegre?
Hauck – Eu admiro muito as pessoas de Porto Alegre. Existe hoje aqui um movimento muito autêntico de universidades, governos e empresas. Acredito que o que faz a diferença são as pessoas e os exemplos práticos. Então nós estamos muito focados na construção da nossa pequena contribuição como movimento para pintar esse quadro geral. Estamos no contexto do Pacto Alegre, participamos sempre que podemos das atividades. Tive a oportunidade de estudar e morar fora do Brasil, em São Francisco (EUA) durante um tempo, mas eu tenho um prazer incrível de voltar e batalhar pela minha terra natal.
Empresas & Negócios – Como vocês gerenciam a Fábrica do Futuro?
Hauck – Somos três mosqueteiros. A Fábrica do Futuro tem um conceito muito original e que foi evoluindo ao longo do tempo na medida que novas pessoas foram ingressando no projeto. Meus sócios são o Rafael, que começou o estúdio Áudio Porto e, com isso, deu início a essa transformação do ambiente do prédio. Ele faz esse trabalho com muita humanidade. E o César Couto Ferreira, empreendedor português que criou uma empresa que fez a primeira venda 100% em um ambiente virtual do mundo (operação de Vcommerce). Ele veio a Porto Alegre para um evento da Áudio Porto, perdeu o voo de volta e começamos a conversar muito. Eu sabia do currículo dele, expliquei que o Brasil é um país onde fazer as coisas podem ser muito difíceis, mas que as recompensas também podem ser enormes. Tínhamos o expertise da arte, da música, da criatividade e a resiliência típicas do brasileiro e nos conectamos com pessoas de fora que nos trouxeram a visão da produtividade, do profissionalismo. Conseguimos agregar os dois mundos. O melhor do Brasil com o melhor da colocação internacional.
Empresas & Negócios – Vocês conduzem a Fábrica do Futuro com muita sensibilidade. Qual o grande diferencial deste projeto na sua visão?
Hauck – Temos uma missão com propósito. Queremos muito juntar prosperidade e sucesso com impacto positivo para as pessoas. Mesmo se apenas 1% da riqueza que eu gerar ficar no meu bolso, os 99% que estarão por aí também afetarão minha vida. Não é utopia, não é política, é matemática pura. Se você trabalhar e confiar em centenas de pessoas que trabalham junto contigo, as coisas vão acontecer. Temos muito forte essa mentalidade da inteligência de rede, a visão da importância dessas simbioses e sistemas que trabalham com foco no benefício do coletivo. Eu sempre digo que a gente fabricava enfeites de Natal e, como o Natal é algo mágico, fabricávamos sonhos. Agora, na área de tecnologia, continuamos fabricando sonhos.
Empresas & Negócios – A Fábrica do Futuro tem muitos mentores globais, e uma visão de atuação global. Como essas conexões acontecem?
Hauck – Hoje em dia, com a tecnologia, não é mais relevante aonde você está, mas com quem está conectado. Transcendemos o limite geográfico. Porto Alegre é uma cidade média, está em um hub interessante pela Conesul, não tem tanto trânsito, enfim, é uma cidade interessante para se viver. Queremos atrair tribos e pessoas que compartilhem a mesma mentalidade que a nossa. Muito mais do que nos encontrar, que elas se encontrarem e descubram novas possibilidades. Somos resultado de uma história autêntica e queremos que milhares de coisas com essa energia aconteçam. Se o ecossistema fala contigo, você vai querer estar ali. Se criarmos um ambiente que atraia talentos, pela filosofia, pela mensagem que passamos, vamos sim atrair pessoas incríveis. E é onde estão as pessoas incríveis que as coisas acontecem. Isso não depende de pátria, de gênero, de nada. Somos um grande bastião de força gravitacional da tribo do futuro, de filósofos, músicos, pintores, matemáticos, programadores de computador, empresários. Reunimos aqui pessoas que planejam fundar uma startup e atuam no nosso coworking, instituições como o Founder Institute que realizam aqui suas atividades, uma incubadora de negócios incrível e agora estamos trabalhando para criar uma aceleradora do futuro. A ideia é justamente ter essa energia de agregar valor e empoderar as startups, gerando conexões internacionais.
Empresas & Negócios - Como surgiu a ideia de transformar esse espaço em um ambiente para o empreendedorismo inovador?
Francisco Hauck - Foi quase um projeto de evolução natural, meio Darwin, sabe? Esse espaço começou em 1942 como uma fábrica de enfeites de Natal. E, desde aquela época, já era uma família alemã trazendo tecnologia de fora para trabalhar então com arte e tecnologia em Porto Alegre, ou seja, criando uma conexão com o mundo. Depois que houve a questão do declínio do mercado da indústria de Natal, em função da entrada dos importadores chineses, ficamos com esse legado. Quando os meus parentes fizeram essa fábrica de Natal, tudo aqui era pântano. Ninguém sabia que o 4º Distrito viria a se tornar, hoje, esse ambiente voltado à inovação e à criatividade. Vejo quase um elemento cósmico. Ninguém começou esse projeto devido ao 4º Distrito ou à vocação de Porto Alegre, simplesmente a história nos botou aqui.
Empresas & Negócios - Como é estar hoje no centro de todo esse movimento pró-inovação que acontece em Porto Alegre?
Hauck - Admiro muito as pessoas de Porto Alegre. Existe, hoje, aqui, um movimento muito autêntico de universidades, governos e empresas. Acredito que o que faz a diferença são as pessoas e os exemplos práticos. Então nós estamos muito focados na construção da nossa pequena contribuição como movimento para pintar esse quadro geral. Estamos no contexto do Pacto Alegre, participamos sempre que podemos das atividades. Tive a oportunidade de estudar e morar fora do Brasil, em São Francisco (EUA), durante um tempo, mas tenho um prazer incrível de voltar e batalhar pela minha terra natal.
Empresas & Negócios - Como é gerenciada a Fábrica do Futuro?
Hauck - Somos três mosqueteiros. A Fábrica do Futuro tem um conceito muito original e que foi evoluindo ao longo do tempo na medida que novas pessoas foram ingressando no projeto. Meus sócios são o Rafael, que começou o estúdio Áudio Porto e, com isso, deu início a essa transformação do ambiente do prédio. Ele faz esse trabalho com muita humanidade. E o César Couto Ferreira, empreendedor português que criou uma empresa que fez a primeira venda 100% em um ambiente virtual do mundo (operação de Vcommerce). Ele veio a Porto Alegre para um evento da Áudio Porto, perdeu o voo de volta e começamos a conversar muito. Eu sabia do currículo dele, expliquei que o Brasil é um país onde fazer as coisas pode ser muito difícil, mas que as recompensas também podem ser enormes. Tínhamos o expertise da arte, da música, da criatividade e a resiliência típicas do brasileiro, e nos conectamos com pessoas de fora que nos trouxeram a visão da produtividade, do profissionalismo. Conseguimos agregar os dois mundos. O melhor do Brasil com o melhor da colocação internacional.
Empresas & Negócios - Vocês conduzem a Fábrica do Futuro com muita sensibilidade. Qual o diferencial do projeto?
Hauck - Temos uma missão com propósito. Queremos muito juntar prosperidade e sucesso com impacto positivo para as pessoas. Mesmo se apenas 1% da riqueza que eu gerar ficar no meu bolso, os 99% que estarão por aí também afetarão minha vida. Não é utopia, não é política, é matemática pura. Se você trabalhar e confiar em centenas de pessoas que trabalham junto com você, as coisas vão acontecer. Temos muito forte essa mentalidade da inteligência de rede, a visão da importância dessas simbioses e sistemas que trabalham com foco no benefício do coletivo. Eu sempre digo que a gente fabricava enfeites de Natal e, como o Natal é algo mágico, fabricávamos sonhos. Agora, na área de tecnologia, continuamos fabricando sonhos.
Empresas & Negócios - A Fábrica do Futuro tem muitos mentores globais e uma visão de atuação global. Como essas conexões acontecem?
Hauck - Hoje em dia, com a tecnologia, não é mais relevante onde você está, mas com quem está conectado. Transcendemos o limite geográfico. Porto Alegre é uma cidade média, está em um hub interessante pelo Conesul, não tem tanto trânsito, enfim, é uma cidade interessante para se viver. Queremos atrair tribos e pessoas que compartilhem a mesma mentalidade que a nossa. Muito mais do que nos encontrarmos, que elas se encontrarem e descubram novas possibilidades. Somos resultado de uma história autêntica e queremos que milhares de coisas com essa energia aconteçam. Se o ecossistema fala contigo, você vai querer estar ali. Se criarmos um ambiente que atraia talentos, pela filosofia, pela mensagem que passamos, vamos, sim, atrair pessoas incríveis. E é onde estão as pessoas incríveis que as coisas acontecem. Isso não depende de pátria, de gênero, de nada. Somos um grande bastião de força gravitacional da tribo do futuro, de filósofos, músicos, pintores, matemáticos, programadores de computador, empresários.
César Couto Ferreira, cofundador da Fábrica do Futuro
Para Ferreira, Capital é diferenciada
Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
"Eu acredito muito na inovação que acontece nas cidades médias. É em locais como Porto Alegre, Hamburgo, Berlim, Estocolmo e Amsterdã que está o futuro. Essas cidades não sofrem o que os grandes conglomerados sofrem, e são locais mais acessíveis para viver e trabalhar. Além disso, têm esse potencial de serem fortes, justamente porque gigantes como Google e Facebook e tantas outras operações não vão estar aqui com uma operação gigante, o que faz com que as startups tenham mais chances de se desenvolver e manter seus talentos. Neste sentido, Porto Alegre é uma cidade muito diferenciada, que reúne nas proximidades universidades como Pucrs, Unisinos, Ufrgs e Feevale. Essas instituições são grandes formadoras de talentos, e não ficam atrás das americanas e europeias. A Fábrica do Futuro quer contribuir para esse cenário, trazendo abundância e inteligência coletiva para todos, sempre com a visão da humanização. Somos o primeiro ecossistema de inovação local com ligação tão forte com o mercado global. Aliás, essa sempre foi uma das nossas metas: impactar o mundo e criar pontos que conectem Porto Alegre e o Brasil ao mundo, e vice-versa. Queremos ter aqui todo ciclo de vida das startups, desde que elas nascem até quando alcançam o sucesso."