Um dos símbolos da tecnologia brasileira, o Ifood não para de crescer. Em março, a empresa chegou aos 17,4 milhões de pedidos processados, expansão de 125% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Com quase 600 mil pedidos por dia, o aplicativo alega ser 17 vezes maior do que seus principais concorrentes no Brasil – mercado que, após uma primeira fase de concentração, ganhou novos players de peso recentemente.
Surgido como uma integradora de pedidos de refeições, a empresa vem se transformando em plataforma de soluções para restaurantes. Além dos pedidos, oferece venda de insumos, inteligência de mercado e rede própria de entregadores, que já respondem por 20% dos pedidos feitos pelo aplicativo.
Os números não assustam o CEO do Ifood, Carlos Moyses, para quem a empresa “está só começando”. O executivo ainda quer crescer organicamente onde já atua, enfrentando o fogão, e geograficamente, buscando novas cidades e até países.
Empresas & Negócios – A que se atribui esse forte crescimento?
Carlos Moyses - O que vem acontecendo é que as pessoas estão cada vez mais conectadas à internet e optando por serviços de aplicativos. Além disso, também vemos, diante da vida corrida do dia a dia, que as pessoas deixaram de cozinhar. Quando colocamos novos restaurantes no Ifood, aumentamos o faturamento deles, em média, em 50%. Além disso, 80% do que a gente gera de negócios adicionais a esses restaurantes são de novos usuários, pessoas que estão deixando de cozinhar para pedir o delivery. Se você olhasse para o delivery no passado, no Brasil, era basicamente pizza. Hoje, no Ifood, há mais de 30 tipos de culinária. Foi o Ifood quem trouxe para o mercado a possibilidade de você pedir qualquer tipo de comida. Conseguiu trazer, aos usuários, uma facilidade em uma dor que eles tinham, que era fazer os pedidos por telefone, e cada vez mais essas pessoas começam a pedir pelo aplicativo porque é mais rápido, prático e prazeroso pedir pelo Ifood. Depois disso, tem uma questão que é mudança no hábito de consumo. Começaram a entender que, com vasta variedade de comida, com os mais diversos preços, muitas vezes é melhor pedir online e ter a comida em casa do que você cozinhar. Cozinhar dá trabalho, tem desperdício, e isso fez com que as pessoas cada vez mais optassem pelo delivery.
Empresas & Negócios – O Ifood sempre falou em mudar a relação das pessoas com a comida. Essa mudança já aconteceu ou tem muito por vir ainda?
Moyses - Estamos só começando. Nosso principal concorrente é o fogão. Queremos cada vez mais trazer tecnologia para as pessoas, estamos investindo US$ 20 milhões em inteligência artificial. Nosso propósito é o de revolucionar o universo da alimentação, fazer as pessoas terem muito mais facilidade no dia a dia, que possam pedir e a comida chegar mais rápido, que se faça agendamento. Investimos muito para conseguir entender nosso usuário, personalizar o aplicativo para ele. Investimos muito em logística também. Nosso tempo de entrega hoje está em 28 minutos, investimos demais para diminuir o tempo e o custo dessa entrega. Hoje o ifood tem 12 milhões de usuários ativos, e isso é 10% dos brasileiros conectados a smartphones, então tem muito ainda a acontecer.
Empresas & Negócios – Fala-se muito no consumidor, mas o Ifood tem três públicos pelo menos (consumidor, restaurante, entregador). O que tem sido feito para os outros dois?
Moyses – Temos 66 mil restaurantes hoje, e duas grandes iniciativas: uma, o Ifood Shop, que já tem 15 mil itens. Só com embalagens, o restaurante consegue economizar 20% do custo dele comprando no Ifood Shop. A segunda é a logística, são hoje mais de 120 mil entregadores do Ifood, e investimos para colocar o serviço logístico aos restaurantes parceiros, mesmo que opte por trabalhar com a frota dele. E também a tecnologia em si, temos oferecido conhecimento do usuário, o que mais vende, como pode fazer promoção, e com isso trazemos muito insight de mercado para o restaurante. Já para os entregadores, nossa ideia é incentivar a qualidade de vida, com uma maior venda. Hoje trabalham com muita flexibilidade, geralmente com vários aplicativos, e a gente consegue, com a tecnologia, oferecer para eles uma entrega em raios mais otimizados, para que não viaje tanto e faça entregas mais efetivas, e, com isso, tenha mais tempo para ele.
Empresas & Negócios – Ainda pode crescer geograficamente? Ou o crescimento será de novos usuários?
Moyses – Estamos presentes em mais de 500 cidades. O que queremos é crescer cada vez mais, não só onde já estamos mas também abrir novas cidades. Realmente acreditamos que o mercado brasileiro está só no início, tem muito a crescer, podemos crescer nossa base de usuários muitas vezes. E o consumo também. Investimos cada vez mais para as pessoas poderem pedir café da manhã, ou na madrugada, ou comida congelada, açaí, uma série de outros itens. Trazer outras ocasiões de consumo e também outras coisas.
Empresas & Negócios – Mercado internacional já é foco ou buscam consolidar primeiro aqui?
Moyses – São esforços em paralelo. O Brasil é nossa terra, onde crescemos mais rápido e onde temos liderança de mercado. Mas México e Colômbia (onde o Ifood já atua) são também muito bacanas, cenários um pouco diferentes do mercado brasileiro, mas crescem bastante e estamos animados com eles. Fazemos parte de um grupo global, estamos o tempo todo olhando para novos países. Tem uma série de coisas que avaliamos todos os dias para decidir onde iremos atuar. Nosso grande objetivo é tornar o Ifood uma das maiores empresas de delivery online do mundo, e para isso vamos ter de ir muito mais longe do que estamos hoje.
Empresas & Negócios – Pode crescer para outros segmentos também?
Moyses – Sem dúvidas a gente pode ir muito além do alcance do Ifood hoje, e a gente vem olhando isso cada vez mais. Mas nosso foco é a comida, é o nosso core business. Crescemos 130% nos últimos 12 meses, a gente não para de crescer, temos mil vagas de emprego abertas no Brasil.
Empresas & Negócios – O Ifood recebeu US$ 500 milhões em 2018 de seus acionistas, então o maior aporte da América Latina. Em que está sendo investido?
Moyses – Nosso foco principal é tecnologia. Anunciamos esse investimento em inteligência artificial, mas também em logística, fizemos 3,3 milhões de entregas, quase 20% do total de entregas feita pela nossa frota, e imaginamos que isso vá crescer muito. Além disso, temos essa contratação de mil pessoas, e a expansão do negócio como um todo.
Empresas & Negócios – Sempre houve concorrentes, mas nos últimos anos entraram players mais consolidados. Trouxe algum impacto?
Moyses – A concorrência é sadia. O Ifood desde que nasceu tem concorrentes, e sempre teremos. Quando o mercado como um todo investe mais em conscientizar as pessoas do uso da tecnologia, é positivo para todo o mercado e também nos beneficiamos disso. Mas o Ifood é 17 vezes maior que o segundo colocado, e realmente encaramos que nosso principal concorrente é fogão, é o hábito de cozinhar das pessoas.