{{channel}}
Aumento de 40% da produção agropecuária pode injetar R$ 31,9 bi no PIB gaúcho
Programa Duas Safras pretende ampliar produção de inverno e gerar grãos para pecuária
O agronegócio gaúcho quer dar um salto para retomar a competitividade do Rio Grande do Sul perante os outros estados brasileiros. O objetivo é ampliar em 40% a produção agropecuária do Estado, através do crescimento nos grãos no inverno, principalmente, e da produção de proteína animal. O resultado seria a injeção de R$ 31,9 bilhões na economia gaúcha.
O programa Duas Safras, lançado nesta quarta-feira (20) no Palácio Piratini pela Farsul em parceria com diversas outras entidades, pretende estimular a produção de grãos de inverno para aumentar a área plantada no período e levar para a Metade Sul do Estado a cultura do milho irrigado.
Hoje, no Rio Grande do Sul, se produz, no inverno, apenas 9% do que é produzido durante o verão. A meta do programa é atingir um nível de produção de 45%. “Vamos a campo, levar produtores em números expressivos para fóruns em debate, levar essas novas tecnologias que estão aí para que os produtores decidam o que fazer. A primeira cultura é o trigo, depois tem o milho irrigado na metade Sul, que é uma novidade também. Nos próximos 5, 10 anos acredito que conseguimos atingir esses 45%”, afirmou o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
“Temos que fazer uma virada no agronegócio”, afirmou o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. “Não podemos dizer que nós temos uma safra de inverno. Nós podemos dizer que nós temos uma safra (no verão) e uma microsafra, uma nanosafra, sendo que temos tecnologia, capacidade, gente e muito investimento já feito para podermos desenvolver uma safra de inverno e, quem sabe até, uma outra safra de verão em larga escala. Precisamos dar essa volta”, afirmou.
Enquanto isso, a pecuária gaúcha vem apresentando desempenho inferior em relação à média brasileira. Entre 1990 e 2019, a população do rebanho bovino teve queda de 0,5% ao ano, enquanto o país cresceu 1,3% anualmente. Os abates aumentaram 0,9%, frente ao País que teve 3,1% por ano.
No caso dos suínos, o Rio Grande do Sul viu seu rebanho crescer, em média, 1,4% anualmente, enquanto o Paraná registra alta de 2,3% e Santa Catarina, 2,9%. Já em relação aos abates, o aumento foi de 5,4% ao ano no território gaúcho, 3,7% em Santa Catarina e 6% no Paraná. Nas aves, o rebanho do Rio Grande do Sul aumentou 2,36% anualmente. Na região Centro Oeste, Goiás avança com 6,8% por ano e Mato Grosso, 7,5%.
Caso o Estado tivesse acompanhado o crescimento da produção brasileira, o Valor Bruto da Produção (VBP) da bovinocultura de corte poderia ter acréscimo de R$ 1 bilhão por ano na receita. O mesmo ocorre na suinocultura, que poderia crescer R$ 1,7 bilhão em receita, e na avicultura, onde o crescimento também teria sido R$ 1 bilhão superior.
Segundo estudos da equipe econômica da entidade, a ampliação das plantações de grãos, principalmente no inverno, e um consequente aumento da produção de proteína animal, que seria abastecida pela agricultura, beneficiariam diversos setores da economia gaúcha.
Apenas a indústria sofreria um impacto extra de R$ 21 bilhões anualmente. No setor de fertilizantes, o aumento seria de R$ 2,52 bilhões. Haveria incremento de receitas também em outros setores, como indústria de química e farmacêutica (R$ 1,91 bi), instituições financeiras (R$ 1,27 bi), serviços metalomecânica (R$ 887 milhões), indústria petroquímica (R$ 654 mi), sementeiras (R$ 551 mi), transportes (R$ 263 mi), serviços especializados (R$ 379 mi), seguradoras (R$ 345 mi), indústria extrativa mineral (R$ 69 mi), energia elétrica (R$ 89 mi) e indústria da construção civil (R$ 33 milhões).
Mercado teria capacidade de absorver aumento de produção
O aumento de 40% na produção agropecuária almejado pelas entidades do agronegócio gaúcho teriam capacidade de serem absorvidas também pelo mercado interno, mas principalmente através das exportações para o exterior. A venda do trigo gaúcho para o mercado internacional já vinha aumentando mesmo antes da explosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, dois dos maiores produtores e exportadores mundiais deste tipo de grão. Da mesma forma, a avicultura e suinocultura do Rio Grande do Sul vêm conquistando cada vez mais mercado através do mundo.
“Nós temos muita certeza de que um programa de aumento de produção como esse terá mercado. Sabemos da maturidade que as empresas gaúchas da proteína animal têm. Sabemos que estão engajados nesse processo e queremos sim produzir muito para eles. Se o mundo não pode viver sem a tecnologia americana, alemã, inglesa e israelense e sem a indústria da china, não pode viver sem a agricultura brasileira”, afirmou o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.
Segundo o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, o programa Duas Safras é, hoje, uma necessidade para o setor. “No passado, o setor da avicultura queria o projeto. Hoje, nós precisamos do projeto para continuarmos evoluindo. Com o programa, podemos projetar cenários melhores não só para o nosso setor, mas para todos os setores produtivos do Estado”, afirmou.
É na alimentação de porcos, aves e bois que a produção de proteína animal se liga à produção de trigo. Com três anos seguidos de quebra de safra do milho, o preço disparou. O trigo veio a se colocar como alternativa.
“A safra de trigo não tinha liquidez no Estado. Tínhamos uma indústria moageira que consumia apenas metade do que era produzido aqui. Com a entrada da proteína animal, na substituição do milho (pelo trigo na ração animal), esse ano o RS produziu 3,5 milhões toneladas de trigo, a maior safra da história - e 2,7 milhões de toneladas foram para exportação”, informou o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias(FecoAgro-RS), Paulo Pires.
Apenas no primeiro trimestre de 2022, o Estado já exportou mais de 1,9 milhão de toneladas de trigo - número expressivo se comparado às 568 mil toneladas exportadas no primeiro trimestre do ano passado. Durante todo 2019 e todo 2020, o Rio Grande do Sul exportou cerca de 500 mil toneladas em cada ano.
A partir de 2019, o Estado se consolidou em mercados que já eram existentes, como a Arábia Saudita, Indonésia, Marrocos, Vietnã, Paquistão e Israel. A partir de 2019, começou a abrir novos mercados, como África do Sul, Turquia, Sudão, Equador, Egito e Moçambique.